sábado, 31 de janeiro de 2009

Saiba mais sobre os protestos em Mianmar

Liderados por monges budistas, dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Mianmar (a antiga Birmânia) pedindo democracia e o fim da repressão militar. Os protestos, realizados há vários dias consecutivos, já são considerados o maior levante popular dos últimos anos contra a junta militar que governa o país do Sudeste Asiático.

O governo já impôs um toque de recolher nas duas principais cidades do país, Yangun (a antiga capital) e Mandalay, proibiu a reunião de grupos de mais de cinco pessoas e colocou tropas para patrulhar ruas e templos.

Há temores de que se repitam os episódios de 1988, quando as últimas manifestações pró-democracia realizadas em Mianmar foram reprimidas violentamente pela junta militar, em confrontos que deixaram cerca de 3 mil mortos.

Saiba mais sobre o que provocou os protestos, quem são os envolvidos e o que esse levante pode significar para o país do Sudeste Asiático.

Em 15 de agosto, o governo de Mianmar decidiu aumentar o preço do combustível. Tanto o preço do petróleo quanto o do óleo diesel dobraram, e o preço gás natural comprimido - usado em ônibus - aumentou cinco vezes.

Esses aumentos de preços tiveram um forte impacto na população de Mianmar. Eles acabaram provocando um aumento nos preços do transporte coletivo e em gêneros de primeira necessidade, como arroz e óleo de cozinha.

As manifestações iniciais foram lideradas por ativistas pró-democracia e ocorreram em Yangun (ex-Rangum), a antiga capital e principal cidade do país.

No dia 29 de agosto, cerca de 400 pessoas marcharam pelas ruas da cidade, no que foi, até aquele momento, a maior manifestação realizada no país em vários anos. O governo militar de Mianmar agiu rapidamente para sufocar os protestos e prendeu dezenas de ativistas. No entanto, continuaram a ser realizados protestos em diversas partes do país.

Muitos monges começaram a participar dos protestos depois que soldados reprimiram de forma violenta uma manifestação pacífica na cidade de Pakokku, no centro do país, no dia 5 de setembro. Nesse episódio, pelo menos três monges ficaram feridos. No dia seguinte, membros das forças de segurança de Mianmar foram capturados por monges de Pakokku e mantidos reféns por algum tempo.

Os monges também deram um prazo, até 17 de setembro, para que o governo pedisse desculpas pelo episódio de violência. No entanto, o governo não se manifestou sobre o caso. Quando o prazo chegou ao fim, os monges começaram a protestar, em número cada vez maior. Eles também se negaram a oferecer seus serviços religiosos a membros da junta militar e seus familiares.

Desde então, têm sido realizados protestos diários, tanto em Yangun quanto em outras cidades. As manifestações ganham a adesão de mais pessoas a cada dia e já envolvem dezenas de milhares de monges.

A participação dos monges nos protestos é muito importante, porque há centenas de milhares deles em Mianmar e porque são venerados no país. Historicamente, os religiosos têm papel importante em protestos políticos em Mianmar.

Essa influência fez com que membros do governo tentassem cortejar muitos religiosos de alta hierarquia. O fato de esses religiosos terem escolhido silenciar é interpretado por muitas pessoas como um sinal de que eles aceitam os protestos.

Analistas acreditam que qualquer ação violenta contra os monges poderá provocar um levante nacional de grandes proporções. Para alguns monges, sim. No entanto, para outros, a questão já foi muito além disso.

Um grupo denominado Aliança de Todos os Monges Budistas da Birmânia passou a liderar os protestos. Em 21 de setembro, esse grupo divulgou uma declaração em que descreve a junta militar que governa o país como "o inimigo do povo".

Eles prometeram manter os protestos até que tenham "varrido a ditadura militar da terra da Birmânia". Também fizeram um apelo para que a população de todo o país se una às manifestações.

Em uma das marchas, os manifestantes passaram perto da casa da principal líder da oposição, Aung San Suu Kyi - que está em prisão domiciliar -, ligando claramente o movimento liderado pelos monges ao desejo de mudanças no governo. Nos primeiros dias de protestos, a população não parecia estar envolvida. Segundo analistas, as pessoas estavam com muito medo de sofrer retaliações do governo.

No entanto, isso foi mudando gradualmente, à medida que as manifestações aumentaram. Imagens de um dos protestos iniciais mostravam pessoas alinhadas ao longo das ruas enquanto os monges marchavam, formando uma corrente para protegê-los de qualquer retaliação dos soldados.

Em 24 de setembro, milhares de pessoas responderam à convocação dos monges e aderiram a um grande protesto em Yangun. Membros da Liga Nacional pela Democracia, o partido de Aung San Suu Kyi, que no início se distanciaram das manifestações, agora também já aderiram aos protestos.

Mortes em 1988
Os últimos protestos em larga escala no país haviam sido realizados em 1988, durante um levante popular. Na época, os protestos foram provocados pela decisão do governo militar de desvalorizar a moeda, o que arruinou financeiramente muitas pessoas.

Aqueles protestos foram iniciados por estudantes e, gradualmente, ganharam a adesão de monges e da população. A tensão culminou com um levante nacional no dia 8 de agosto de 1988, quando centenas de milhares de pessoas marcharam pelas ruas do país para exigir uma mudança no governo.

A junta militar enviou tropas para sufocar o protesto. Acredita-se que pelo menos 3 mil pessoas morreram nos confrontos. Depois de manter o silêncio no início, o governo militar disse que está pronto para "agir" e impôs medidas para conter os protestos.

No dia 25 de setembro, foi declarado um toque de recolher em Yangun e Mandalay, com vigência de 60 dias, no período do anoitecer até o amanhecer. Também foi proibida a reunião de grupos de mais de cinco pessoas. Soldados e tropas de elite foram colocados nas ruas e nos templos.

Os líderes militares do país ficam baseados na nova capital, Nay Pyi Taw, o que os mantêm um pouco afastados dos protestos, realizados principalmente em Yangun e outras cidades. No entanto, muitos temem que se repitam os episódios de violência de 1988.

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Bioética, utopia e realidade

Carlos Alberto Pessoa Rosa*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Se a fertilização in vitro suscitou várias questões éticas cujo consenso está distante de ser alcançado, a utilização de embriões para obtenção de células-tronco com objetivo diagnóstico e terapêutico, com suas implicações científicas e mercadológicas, tornou essa discussão mais complexa ainda.

Logicamente, precisamos separar o desejo de o homem alcançar a imortalidade daquilo que a ciência hoje nos oferece de concreto. Muito do que se diz sobre utilização de células-tronco embrionárias como forma de tratamento encontra-se no campo especulativo. Separar a utopia da realidade é papel da ciência, mas interesses industriais e comerciais começam a contaminar com suas táticas mercadológicas a sociedade.

Células-tronco, sensacionalismo e neutralidade

Até o presente momento, o resultado da utilização de células-tronco embrionárias no tratamento de doenças como acidente vascular cerebral isquêmico, doença de Parkinson e trauma de medula é especulativo, estando mais próximo do sensacionalismo midiático que da neutralidade científica e necessitando-se - resolvidas questões éticas - de protocolos rigorosos de pesquisa científica.

O primeiro desafio apresentado é chegar a um consenso entre a visão religiosa, que insiste em definir um ponto para o embrião ser considerado uma pessoa humana, e a ciência, que não aceita essa visão pontual, de um momento preciso em que se pudesse dizer "eis um homem".

Um estatuto do embrião humano

Questões quanto à natureza do embrião humano, o tipo de proteção que lhe será dedicado, se poderá ou não ser utilizado livremente na investigação científica, deverão ser resolvidas. Um estatuto, assim como há o da criança, do adolescente e do adulto está em estudo, mas há quem pense ser infrutífero esse caminho, acreditando que, em uma sociedade democrática e pluralista, o estatuto jurídico independe do estatuto moral do embrião humano, como é o caso do jurista austríaco W. Lang.

Resolvidas questões quanto ao status do embrião, existem outras, não menos importantes, como aquela que questiona se não haveria outros meios de realizar os ensaios experimentais - há quem enfoque a pesquisa nas substâncias químicas que modelam e definem o desenvolvimento e função celular -, a questão do consentimento do casal de progenitores e de quem deve autorizar pesquisas relacionadas às células-tronco.

Entre a utopia e a realidade

No momento, entre a utopia e a realidade, onde nos encontramos? Há quem acredite prematuro o uso dessa técnica para propósitos terapêuticos, sendo de valor, atualmente, apenas para fins de pesquisa. Ainda há muito que se conhecer sobre a biologia básica dessas células, o que poderá ser respondido pelo estudo de células adultas, encontradas no fígado e na medula óssea, por exemplo.

Mas elas não poderão, pelo determinante genético, ser utilizadas para o tratamento de todas as doenças - pois não haveria lógica em se implantar uma célula que participou do surgimento da doença que queremos tratar. É necessário, portanto, muito trabalho experimental antes de se propor efetivamente seu uso terapêutico.

A ciência e a mídia têm um papel ético a cumprir no momento, o de poupar os doentes de esperanças que podem não ser cumpridas durante suas vidas, desviando-os da realidade presente.

Tensão no Oriente Médio reflete na França

NOISY-LE-GRAND – Em uma grande televisão de tela plana, os Chabchoubs, uma família de imigrantes da Tunísia, assistiam mães lamentando aflitas sobre corpos de crianças e pais chorando silenciosamente. As pilhas de pedregulhos, crianças mancando cobertas de cinzas – tudo isso televisionado diretamente de Gaza para suas salas de estar, em um subúrbio da classe trabalhadora de Paris.

Para os Chabchoubs, como muitos dos cerca de cinco milhões de muçulmanos que vivem na França, Gaza parece muito mais perto por causa de seus canais de língua árabe como a “Al Jazeera”, que tinha acesso à zona de guerra, diferentemente da mídia ocidental.

“É bom que o conflito tenha parado, mas isso não quer dizer que nós esqueceremos”, disse Enis Chabchoub, 29, técnico de computador que estava assistindo ao noticiário com seus pais, seus irmãos e sua cunhada. “Esta guerra será lembrada, e não apenas em Gaza”.

Governo

Na França, lar das maiores comunidades judaicas e muçulmanas da Europa Ocidental, o conflito entre o Hamas e Israel inflamou as emoções nas últimas três semanas. Fortemente expressadas em manifestações que levou milhares de pessoas às ruas, foi um fator que conduziu os esforços diplomáticos dos líderes franceses, incluindo o presidente Nicholas Sarkozy, a buscar um cessar-fogo duradouro.

“As emoções do Oriente Médio estão em nossas ruas”, disse Jean-David Levitte, consultor-chefe diplomático de Sarkozy, nesta semana.

Vinte e dois dias de conflito em Gaza também levantou antigas tensões, e em alguns casos, violência, entre duas comunidades cujos membros frequentemente vivem na mesma vizinhança e suportam a discriminação.

Consequências

Algumas pessoas se preocupam com que a guerra tenha causado danos duradouros nas relações entre comunidades. Líderes judeus advertem dos riscos de um indesejável sentimento de anti-semitismo se estender na comunidade muçulmana. Já os islâmicos acusam pessoas da comunidade judaica de alimentar influências contra os muçulmanos ao deliberadamente estimular que suas diferenças são mais políticas do que religiosas.

Desde que começou a guerra de Gaza, em 27 de dezembro do ano passado, bombas foram jogadas em quatro sinagogas na França, embora a polícia diga que não há certeza de que os ataques tenham sido feitos por muçulmanos. Um estudante judeu foi atacado por jovens de origem árabe no subúrbio de Paris, e dois estuadntes muçulmanos foram atacados do lado de fora do colégio por atacantes a favor de Israel. Tanto as famílias muçulmanas como as judias disseram que houve um aumento na intimidação e no abuso verbal.

Richard Prasquier, chefe do Conselho Representativo das Instituições Judaicas francês, disse que ao menos 60 ações anti-semitas foram cometidas desde que o conflito começou, ou cinco vezes mais do que em um período normal de três semanas.

Anti-semitismo

“O anti-semitismo na comunidade muçulmana está se tornando mais ideológica, e eventos recentes poderiam reforçar isso”, disse Pasquier de seu escritório no posto de operações do conselho em Paris. “Eles não se veem como anti-semitas. Identificam-se com os palestinos que são vítimas de Israel. Mas usam praticamente os mesmos estereótipos do antigo anti-semitismo, dos judeus ricos que manipulam governos e são a origem de todo o mal.”

M’hammed Henniche da União de Associações Muçulmanas no bairro de Seine-St.-Denis no norte de Paris, que inclui o Noisy-le-Grand, viu isso de forma diferente. “Sim, há raiva, mas não é contra os judeus, é contra Israel”, disse. “O problema é que assim que você condena Israel, você é chamado de anti-semita. Para nós, não é questão de religião, mas de política”.

Mas ele também disse que o diálogo inter-religioso entre muçulmanos e judeus sofreu por causa da guerra, e em alguns casos, imediatamente, suspensos.

“Algo se rompeu”, disse.

Passado

As tensões entre muçulmanos e judeus não são novidade por aqui; uma onde de violência ocorreu durante a luta dos palestinos por um Estado, em 2000. Mas isso não é só na França, como mostrou os incêndios deliberados e ataques na Grã-Bretanha, na Dinamarca e em outros lugares da Europa. Mas o tamanho das comunidades na França tornou a tensão mais óbvia.

Além disso, há a dolorosa história colonial da França em países árabes e um pequeno, porém conhecido, movimento de impulsos tanto anti-semitas quanto xenófobos. E a relação entre franceses muçulmanos e judeus é complexa mesmo nas melhores épocas.

Afinidades

Pessoas em ambas as comunidades condenaram vigorosamente a violência recente, e ambos os lados enfatizam suas afinidades culturais.

Como a vasta maioria de muçulmanos que vivem na França, cerca de dois terços dos 600 mil judeus que moram no país, é de origem norte-africana. Os dois grupos compartilham de diversas características culturais, incluindo a culinária e os coloquialismos, e muitos muçulmanos e judeus se opõem à lei aprovada em 2004, que baniu qualquer tipo de símbolo religioso nas escolas públicas francesas, incluindo a burca muçulmana e o kipá.

Mas se muitos da geração passada ainda tiverem memórias boas da convivência pacífica entre os lados, outros se arrependem de que a atmosfera tem se acalmado gradualmente. Algumas pessoas culpam os conflitos como a guerra no Iraque ou a rixa com o Irã por causa de suas ambições nucleares por resultar no distanciamento entre as comunidades. Outros veem o surgimento dos canais de televisão por satélite como uma fonte de tensão, porque os eventos são informados de diversos e diferentes pontos de vistas políticos.

Bairros

A guerra em Gaza levantou sentimentos fortes mesmo no 19º Distrito de Paris, no extremo norte da cidade, uma das vizinhanças maiores, mais pobres e com maior diversidade étnica.

Açougueiros kosher e uma grande escola de Lubavitcher (judaísmo ortodoxo) ficam a poucos passos de uma mesquita e nenhum ataque contra judeus ou muçulmanos foram relatados na vizinhança nas últimas três semanas. Mesmo assim, as emoções estão bem fortes.

“Eles estão nos perseguindo na França, porque não podem nos pegar em Israel”, disse uma judia enquanto saía de uma sinagoga local. Ela falou sob condição de anonimato porque disse que temia por sua segurança.

A dois blocos de distância, Ahmed Bessa, 45, comerciante, disse que os judeus estão brincando com a violência na França e em vários lugares da Europa, porque a opinião pública europeia não compartilha da mesma visão da guerra em Gaza. “Eles querem se retratarem como vítimas aqui, mas sabem que não são vítimas lá”, disse.

Mas se um pensamento une pessoas de ambos os lados, essa é a esperança para uma mudança e uma resolução durável do conflito entre Hamas e Israel.

“A única forma de acabar com esse assunto”, disse Chabchoub em Noisy-le-Grand, “é se há um acordo de paz apropriado e durável.


Por KATRIN BENNHOLD

OMC: Processo Decisório

Existem quatro princípios que devem ser identificados e analisados em primeira instância, pois formam a base dos processos de tomada de decisão na OMC, são eles: (I) cada membro representa um voto; (II) a votação é baseada no consenso; (III) os membros têm caráter de condutores das decisões; e (IV) a importância dos processos informais de tomada de decisão. 

De acordo com o primeiro princípio, a OMC é uma organização onde cada membro representa um voto nas tomadas de decisão. Isso significa que ela difere-se consideravelmente das instituições financeiras internacionais como a Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), onde todas as decisões são baseadas em votações ponderadas. Por exemplo, no FMI, o poder de voto dos países membros é determinado pelo tamanho de suas respectivas quotas, onde as quotas são uma função de seu peso no sistema econômico internacional. Em contraste, o Artigo IX:1 do Acordo estabelecendo a OMC diz que cada membro tem direito a um voto, permitindo, desta forma, um mesmo status para todos os membros independentemente de suas quotas comerciais ou de seu peso na economia em geral.

O segundo princípio, norma de tomada de decisão baseada no consenso, mais do que a votação por maioria, é formalmente incorporada no Artigo IX:1 da OMC que diz que esta organização deve continuar a praticar o consenso segundo o GATT de 1947. O consenso é definido em termos da aceitação, por todos os membros presentes no encontro, da decisão proposta. No entanto, quando o consenso não é possível, os procedimentos de votação demandam uma regra de maioria de 2/3 ou de 3/4, cada membro correspondendo a um voto.

Existem quatro situações que provavelmente incitarão o voto dos membros da OMC, apesar desta encorajar sempre o consenso (basta notar que a norma de utilização do consenso como base do processo de tomada de decisão tem significado que a regra de votação por maioria nunca foi colocada em prática). São elas:

  • interpretação de acordos / maioria de três quartos (3/4);
  • emendas a acordos / maioria de dois terços (2/3);
  • inclusão de novos membros / maioria de dois terços (2/3);
  • aplicação de ?waiver?sobre uma obrigação assumida sob acordo multilateral / em princípio deve ser aprovada por consenso, mas no caso de haver alguma oposição, por maioria de três quartos (3/4).

O terceiro princípio que caracteriza o processo decisório da OMC é aquele que mostra que esse processo dentro da organização é comandado por seus membros. Estes, por si mesmos, tomam as decisões e fazem com que estas sejam cumpridas perante o Organismo de Solução de Controvérsias (OSC), se necessário, deixando que o Secretariado cuide do suporte técnico e administrativo.

Finalmente, a representação igualitária que a OMC permite a todos os seus membros, levou a organização a desenvolver um quarto princípio para o seu processo decisório, que consiste na dependência de uma rede elaborada de processos informais para o estabelecimento do consenso entre os membros da organização. Esses processos exercem um papel muito importante, mas eles nunca são reconhecidos oficialmente. As consultas informais operam em todos os níveis do processo de tomada de decisão da OMC. Algumas destas consultas envolvem a totalidade dos membros da OMC, como os encontros dos Chefes das Delegações. Mas reuniões de pequenos grupos são também um dispositivo comumente utilizado para alcançar o consenso. Fazem parte desta classificação os encontros em "Green Room". Estes são requisitados por iniciativa do Diretor Geral e normalmente incluem o quarteto (EUA, União Européia, Canadá e Japão), juntamente a outros países que expressam um interesse vital pela discussão.

5 O termo "Waiver" é usado para designar a derrogação de alguma obrigação (é uma exceção), ou seja, um adiamento da obrigação através da extensão do período de transição ao qual o país está sujeito antes da aplicação efetiva da medida obrigatória. Um pretendente a waiver deve justificar adequadamente seu pedido.

Representantes do Mundo


Entre diversas iniciativas de modeleiros de tentar catalogar e manter o resto de nós mortais atualizados do que acontece nessa "tribo" ainda não tão conhecida nos quatro cantos do Brasil, destacamos um blog em particular: Representatives of the World.


Esse blog trás as opiniões e perspectivas de quatro modeleiros (não modelos ou mosqueteiros, tentem colocar no google, é divertido) sobre simulações em todo Brasil, suas tendências positivas, ou não. E um espaço aberto de discussão.

Mas o que esse post quer divulgar é algo muito interessante que os criadores do blog desenvolveram: uma biblioteca de guias de simulações de todo o Brasil. Alguns modelos mantém os guias desde sua primeira edição, outros passaram a guardar os guias com o tempo, e muitos nem isso... Então, muitas vezes, esse conhecimento que poderia ajudar um delegado em busca de uma segunda opinião, ou de uma base quando não tem ainda seu guia é perdido.


O link pra Biblioteca está aqui do lado: http://www.box.net/public/8p2ubrmgz7/rss.xml

E, é claro, todos os guias do MIRIN já estão lá graças a ajuda dos nossos amigos do blog. Portanto, obrigada meninos, e pra todos, vale a pena dar uma olhada!








O que é uma ONG?

O termo ONG Organização Não Governamental, se refere de modo genérico a toda organização NÃO pertencente ou vinculada a nenhuma instância de governo, em qualquer nível.

Foi utilizado pela primeira pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas em 1950. No Brasil, começou a ser utilizada na metade da década de 80, referindo-se exclusivamente às organizações que realizavam projetos junto aos movimentos populares, por exemplo, na área da promoção social.

Podemos considerar sinônimos os seguintes termos OSC &ndash Organizações da Sociedade Civil , Terceiro Setor (do inglês Third Sector) ou Setor sem fins Lucrativos ( Nonprofit Sector).
Podemos dizer que as ONGs são grupos sociais organizados que:

1. possuem uma função social e política em sua comunidade ou sociedade;
2. possuem uma estrutura formal e legal;
3. estão relacionadas e ligadas à sociedade ou comunidade através de atos de solidariedade;
4. não perseguem lucros financeiros (sem fins lucrativos);
5. possuem considerável autonomia.

Atividades de uma Ong?

Pelo exposto anteriormente, uma ONG pode atuar em vários campos, de várias formas, com objetivos diferenciados, com missões institucionais muito variadas.

Não existe um tipo de ONG que seja mais abrangente no campo social ou político do que outras. Todas, das pequenas e locais até as grandes e internacionais, desempenham um papel sócio-político importante.

Tentar adjetivar ONGs, por suas ações específicas, como do tipo de esquerda ou de direita, de combate ou assessoria, técnicas ou de militância é uma maneira equivocada de conceituar o papel político de uma ONG. Seria desviar a atenção da opinião pública sobre as funções de uma ONG, para rótulos que dividem, não somam.

Isto porque se ela existe, atuante e presente, em um campo de ação social específico, é lógico supor que ela atende interesses de um grupo sócio-cultural, dentro de uma faixa do espectro político existente. Aí repousa sua legitimidade.

Em contrapartida, as redes de solidariedade e de interesses imediatos podem não ser as mesmas para todas as ONGs, isto determina a diversidade do campo de ação política de cada uma delas.
Para o caso específico deste manual, em resumo, podemos considerar que as "ONGs são instituições privadas, com fins públicos", como sinteticamente expõe o antropólogo Rubem Cesar Fernandes.

Em outras palavras, ONG são "grupos de pressão que buscam por um lado influenciar e democratizar políticas públicas governamentais para que essas supram da maneira mais extensa possível às necessidades da sociedade e de condições de vida iguais e justas no mundo todo e, por outro, movimentar a sociedade em que estão inseridas, utilizando-se de suas relações de solidariedade, na busca dessa democratização e influência política".

Como proceder para a fundação

A Constituição Federal de 1988 aboliu o controle de qualquer aparato estatal às Organizações da Sociedade Civil, assegurando-se que "as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extra judicialmente". Pela Carta Magna, estas entidades associativas podem inclusive impetrar mandatos de segurança ou propor ações judiciais.

O Programa Comunidade Solidária está iniciando uma série de consultas e debates para definir uma nova legislação, um novo marco legal para o Terceiro Setor, visando consolidar mecanismos mais eficientes e menos burocráticos.

A criação de uma ONG ou OSC passa anteriormente pelo interesse de um grupo específico, com objetivos e identidades comuns, definirem se querem ou não se tornar uma entidade legalizada ou preferem um grupo informal.

Definido o interesse deste grupo em fundar uma ONG sem fins lucrativos, com estatuto e registro no cartório, vinculada ao movimento social, ambientalista ou social, alguns procedimentos precisam ser seguidos.

Médio Oriente: União Europeia tenta trégua em Gaza a várias vozes

Bruxelas, 05 Jan (Lusa) - Os esforços da União Europeia (UE) para conseguir uma trégua entre Israel e o Hamas em Gaza estão a ser feitos a várias vozes, como atesta a presença, na região, do presidente cessante do conselho europeu, Nicolas Sarkozy.

O chefe de Estado francês, que deixou a presidência do Conselho Europeu no passado dia 31 de Dezembro, chegou hoje ao Egipto para um périplo pela região para tentar conseguir um cessar-fogo em Gaza.

A visita do Presidente francês acontece um dia depois do apelo da troika europeia, também presente no Cairo, para uma trégua entre Israel e o movimento islamista, que controla Gaza desde Junho de 2007.

Sarkozy esteve reunido na cidade turística de Sharm el-Sheikh, na Península do Sinai, com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, segundo a agência oficial egípcia Mena.

A agência acrescentou que o líder francês abordou com o seu homólogo egípcio a possibilidade de alcançar uma trégua em Gaza e também "restabelecer a tranquilidade entre israelitas e palestinianos para retomar as negociações de paz" naquela região.

Os dois líderes não prestaram declarações depois do encontro.

A breve visita ao Egipto de Sarkozy será seguida por outras escalas na Cisjordânia, para se reunir com as autoridades palestinianas, e esta noite deve chegar a Jerusalém.

Terça-feira, Sarkozy reunir-se-á, sucessivamente, com responsáveis da Síria e do Líbano.

A missão oficial da UE, no Cairo desde domingo, é liderada pelo ministro checo dos Negócios Estrangeiros, Karel Schwarzenberg, cujo país assegura a presidência europeia rotativa, integrando ainda o Alto Representante para a Política Externa e Segurança Comum da UE, Javier Solana, e a comissária europeia para os Assuntos Exteriores, Benita Ferrero-Waldner.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, e sueco, Carl Bildt, também integram a comitiva.

Por outro lado, o ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, actual enviado especial do quarteto para o Médio oriente, também se encontra em consultas na região.

Um porta-voz da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj, já fez saber, em reacção ao périplo de Sarkozy pelo Médio Oriente, que "qualquer contribuição é bem-vinda", salientando que "o mais importante" é passar a mesma mensagem.

O porta-voz comunitário esclareceu que a visita do Presidente francês já estava programada, assegurando que se os esforços de Sarkozy para conseguir transmitir a mensagem unânime da UE forem bem sucedidos "ficaremos mais satisfeitos".

"A questão não é quem leva a mensagem, mas sim a sua eficácia", disse Amadeu Altafaj, destacando, no entanto, que a missão oficial da UE "é o centro da acção europeia".

O objectivo dos 27 Estados-membros, segundo ficou acordado na reunião extraordinária de Paris do passado dia 30, é obter um cessar-fogo permanente em Gaza, o acesso imediato da ajuda humanitária à população civil do território e a intensificação do processo de paz.

O porta-voz recordou que a missão europeia não tem previsto um encontro com uma das partes envolvidas no conflito, uma vez que o Hamas integra a lista de organizações terroristas da UE.
O primeiro-ministro checo, Mirek Topolanek, o presidente em exercício da UE desde 01 de Janeiro, afirmou hoje ter um plano que deverá permitir conseguir uma trégua nos combates em Gaza.

"Temos um cenário (que permite) agir mais activamente para, pelo menos, suspender os combates", declarou, sem acrescentar pormenores sobre o conteúdo do plano, durante uma conferência de imprensa.

Topolanek indicou ter debatido este cenário com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, estando ainda previsto debater a questão, durante o dia, com o ainda Presidente norte-americano, George W. Bush, e o primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert.

Também hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Gianfranco Frattini, propôs ao seu homólogo espanhol, Miguel Ángel Moratinos, a possibilidade de encetar um diálogo com "as partes interessadas" no conflito em Gaza sob a mediação da União do Mediterrâneo.

Frattini contactou telefonicamente Moratinos, mas também a ministra dos Negócios Estrangeiros grega, Dora Bakoyannis, "em virtude dos intensos esforços diplomáticos da Itália para promover uma solução para a crise", referiu um comunicado divulgado pela diplomacia italiana.

Os apelos para um cessar-fogo também foram hoje reforçados em Moscovo.

Os Presidentes russo, Dmitri Medvedev, e palestiniano, Mahmoud Abbas, mantiveram hoje uma conversa telefónica, onde "discutiram o agravamento da situação na Faixa de Gaza, que já fez numerosas vítimas entre a população civil e que está a conduzir o território para uma difícil situação humanitária", informou hoje o Kremlin, em comunicado.

"As duas partes sublinharam a necessidade de um cessar-fogo imediato", concluiu a mesma nota.
Israel lançou a 27 de Dezembro uma operação aérea contra a Faixa de Gaza, à qual se seguiu, a partir de sábado, uma operação terrestre.

Em dez dias, pelo menos 517 palestinianos morreram e cerca de 2.500 ficaram feridos.
Do lado israelita, os `rockets` (foguetes) lançados pelo Hamas fizeram até agora quatro mortos.
O primeiro balanço oficial israelita desde a ofensiva terrestre, divulgado domingo, dá conta de um soldado morto e outros 30 feridos.
SCA.
Lusa/Fim

COP 14 e as tendências para 2009

Na metade do caminho entre a COP 13, realizada em Bali, em 2007 (momento em que os governos mundiais chegaram ao consenso de que era necessário um novo acordo climático global) e a Conferência de Copenhague, em 2009 (quando o texto final do acordo deve ser assinado), a COP 14, realizada em dezembro de 2008 na Polônia, apresentou alguns avanços significativos, mas decepcionou quem esperava resultados concretos.

O resultado positivo pode ser medido na mudança oficial de postura dos países em desenvolvimento. Entretanto, a divergência de posições políticas e econômicas entre as nações impediu que a conferência cumprisse o seu principal objetivo: elaborar o rascunho de um novo acordo climático global, com a definição cortes severo no total das emissões. A falta de consenso, alimentada pela crise financeira mundial, coloca em xeque o estabelecimento de um compromisso articulado pelo combate às mudanças climáticas até o final de 2009.

Enquanto países em desenvolvimento (Brasil, China, México e Peru), apresentaram propostas concretas de redução das emissões, poucas metas de real relevância eram assumidas pelas nações desenvolvidas. “Isso muda o eixo da negociação internacional sobre clima”, avalia Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam), veterano de participação em COPs.

* Leia em O fortalecimento dos países emergentes

Poucos avanços – Documento mais importante da COP 13, o Bali Action Plan, chamado de Mapa do Caminho pelos atores da área, abriu em 2007 um processo de negociações para uma nova série de objetivos, que incluem o estabelecimento de cortes mais profundos nas emissões de gases de efeito estufa. São cinco tópicos principais a serem debatidos em 2008 e definidos até 2009:

Transferência de tecnologia limpa desde os países desenvolvidos.

Mobilização e disponibilização de recursos financeiros para enfrentar as questões de mudança do clima.

Adaptação: colocar em funcionamento um fundo para auxílio a países vulneráveis para combater as conseqüências do aquecimento global.

Mitigação: um dos principais assuntos a definir é o mecanismo de Redução de Emissões decorrentes de Desmatamento e Degradação das Florestas (REDD).

Definição a respeito do valor da redução das emissões de gases de efeito estufa. O índice proposto para debate sinaliza um corte de até 40% das emissões em 2050, com base nos valores de 1990
Desses tópicos, porém, apenas um foi consenso na Polônia e apresentou avanço: a operacionalização do Fundo de Adaptação, instrumento que existe desde a criação do Protocolo de Quioto para ajudar países pobres a combater os efeitos das mudanças climáticas. Finalmente, estas nações terão acesso direto ao fundo, que é financiado com 2% dos valores arrecadados com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

O consenso a respeito do fundo, entretanto, acaba aí. Os recursos são de U$ 80 milhões ao ano, com expansão para R$ 300 milhões até 2012, para o financiamento de projetos em todos os países em desenvolvimento. Houve, inclusive, uma tentativa de aumento da fonte de receitas do fundo, mas os estados desenvolvidos vetaram a proposta.

Essa postura gerou protestos no encerramento da COP 14, no dia 12 de dezembro. A Colômbia chegou a acusar as nações ricas de “crueldade” nas negociações.

Para além do Fundo de Adaptação, nenhum caminho mais concreto foi traçado. Não se falou muito em transferência de tecnologia e financiamento às nações pobres e não houve avanços nas definições para o estabelecimento de novas metas globais de redução de emissões de carbono – para a discussão, valem as metas acordadas em Bali (25% a 40% de cortes).

Em relação ao desmatamento, os países em desenvolvimento com florestas comemoraram o fato de houve um consenso de que o mecanismo de Redução de Emissões decorrentes de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) deve entrar no acordo final a ser definido em 2009. Para além disso, porém, não houve negociação. Não se sabe ainda como será o funcionamento da proposta de compensação financeira a quem deixar de derrubar árvores.

Enquanto alguns países defendem que o mecanismo deva funcionar como um mercado de carbono, com compra e venda de créditos, outros acreditam que a forma mais adequada é a criação de um fundo internacional para os países. O Brasil defendeu duramente a segunda opção.
Perspectivas mais tímidas – Com o saldo de poucos resultados concretos, após a COP 14 o otimismo em relação às perspectivas para 2009 diminuiu. Parece claro que o prazo para fechar um novo acordo global não será cumprido. O próprio secretário-executivo da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas, Yvo de Bouer, admitiu que talvez não se chegue a um documento final em 2009, como estabelecido em Bali. “Não obteremos um acordo a longo prazo detalhado na COP 15 em Copenhague. Não será possível” afirmou.

Já será considerado avanço se as bases principais do acordo forem estabelecidas. “Acredito que até 2009 teremos princípios mais sólidos para um próximo acordo internacional. Sabemos que é difícil e frustrante tentar consenso entre países com posições tão distintas e o documento final pode demorar mais para sair. O que não pode acontecer é repetirmos a mesma lentidão registrada na aprovação do Protocolo de Quioto (PDF 123 KB - Baixar Arquivo), que levou quase dez anos para entrar em vigor. Existe uma grande urgência em se tratar o assunto”, avalia Paulo Moutinho.

Para correr atrás do tempo perdido em 2008, foram marcadas duas reuniões em Bonn, na Alemanha, nos meses de abril e junho, antes do encontro em Copenhague, programado para dezembro de 2009. Em agosto ou setembro deve ocorrer mais um evento preparatório. Nelas, a expectativa é que comece a ser delineada as bases do novo acordo global – algo que deveria ter acontecido já na Polônia.

Em compasso de espera – O estado atual da economia e política internacional pode ter contribuído para o pequeno avanço nas negociações. Em meio à crise mundial e à troca de governo dos Estados Unidos, os países preferiram não comprometer verbas e cortes na redução de emissões.

“A sensação é que a COP 14 ficou em stand by, esperando a mudança de governo norte-americano para saber a posição oficial do presidente eleito Barack Obama em relação aos compromissos futuros do país. Sem a participação dos Estados Unidos, é impossível estabelecer um novo acordo global efetivo”, afirma Moutinho.

Vale ressaltar que Obama já disse que os EUA irão assumir a liderança nas negociações climáticas em 2009. Na segunda semana de dezembro de 2008, ele afirmou que a prioridade da administração da área energética de seu governo será acabar com a dependência americana do petróleo estrangeiro e combater as mudanças climáticas. "Não vamos criar uma nova economia de energia da noite para o dia. Vamos proteger nosso meio ambiente da noite para o dia. Mas podemos começar a trabalhar imediatamente", afirmou, em entrevista coletiva na qual anunciou a indicação de Steven Chu, prêmio Nobel de Física de 1997, para secretário de Energia.

Chu afirmou ao Congresso norte-americano que, caso seja confirmado no cargo, buscará desenvolver fontes de energia limpa para cumprir as políticas destinadas a conter as mudanças climáticas e atingir a independência energética. O físico sinalizou também que boa parte desse investimento deve ser feito em usinas nucleares. Entretanto, reconheceu que os Estados Unidos não podem abrir mão do uso do carvão como fonte de energia, como uma resposta a pressões e lobbys do setor, demonstrando os desafios que o futuro governo terá se quiser implementar uma política efetivamente agressiva de combate às alterações do clima.

Obama também anunciou a indicação de Carol Browner, ex-chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) no governo Bill Clinton e colaboradora do ex-vice-presidente Al Gore, para coordenar a política da Casa Branca para energia e mudanças climáticas.

Em sua campanha eleitoral, Obama propôs a criação de um sistema com limites para as emissões de carbono. Os poluidores teriam que comprar créditos de carbono em leilão do próprio governo.

A sinalização do presidente norte-americano eleito, que assumiu em janeiro de 2009, já traz esperanças para que o novo modelo de acordo global sobre clima possa ser mais efetivo na redução das emissões de carbono. Resta saber se no momento de iniciar a execução dos programas tal vontade política conseguirá se manter, haja visto o impacto que a crise financeira mundial tende a gerar sobre as mais diversas agendas.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

União Europeia inicia missão diplomática no Oriente Médio

A presidência tcheca de UE classificou a investida terrestre de Israel na Faixa de Gaza como "defensiva, não ofensiva". Na Europa e na Alemanha, dividem-se as opiniões sobre o novo clímax do conflito no Oriente Médio.

A União Europeia iniciou sua missão de intermediação no Oriente Médio. O ministro tcheco do Exterior, Karel Schwarzenberg, partiu neste domingo (04/01) para o Cairo, acompanhado por seus colegas de pasta Bernard Kouchner e Carl Bildt, da França e da Suécia, respectivamente, assim como pela comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner.

Chefe da diplomacia tcheca, Karel SchwarzenbergChefe da diplomacia tcheca, Karel Schwarzenberg

A missão durará três dias, estendendo-se a Israel, Cisjordânia e Jordânia. Pouco antes da partida, Schwarzenberg – cujo país preside a UE no primeiro semestre de 2009 – voltou a atribuir a culpa da escalada ao Hamas. Antes, ele classificara a operação de Israel como "defensiva, não ofensiva". O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Mussa, declarou-se horrorizado pelo fato de políticos europeus justificarem as investidas contra os palestinos como autodefesa israelense.

"Perigosa escalada militar"

Porém, entre os demais chefes da diplomacia europeia, a condenação à ofensiva terrestre de Israel na Faixa da Gaza é praticamente unânime.

Bernard Kouchner disse considerar esta última fase da violência "uma perigosa escalada militar", dificultando os esforços da comunidade internacional para dar fim aos combates, levar auxílio imediato aos civis e alcançar um cessar-fogo permanente. "A França condena a ofensiva terrestre contra Gaza, assim como condena a continuação dos ataques de mísseis", declarou o ministro das Relações Exteriores.

Para o ministro britânico do Exterior, David Miliband, "o desdobramento dos eventos demonstra a necessidade urgente do cessar-fogo imediato pelo qual apelamos".

Soldados israelenses marcham sobre a Faixa de GazaSoldados israelenses marcham sobre a Faixa de Gaza

Seu homólogo espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que já representou a União Europeia no processo de paz do Oriente Médio, instou tanto o Hamas a suspender o lançamento de mísseis como Israel a cessar sua operação terrestre. O governo da Espanha declarou-se "profundamente preocupado" com a atual situação, urgindo ambos os lados a "dar ouvidos aos apelos da comunidade internacional e parar os choques".

Já antes do início da ofensiva terrestre, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, apelara às nações islâmicas para que colaborassem para o fim dos ataques com mísseis pelo Hamas. Segundo comunicado do Ministério do Exterior, Steinmeier conversou no sábado (03/01) com seu homólogo turco antes de um encontro na Arábia Saudita, reunindo os 57 membros da Organização da Conferência Islâmica. Steinmeier reiterou seu apoio a um "cessar-fogo humanitário", que simplificaria o abastecimento da população civil em Gaza e abriria o caminho para a diplomacia.

"Interceder é tarefa dos países árabes"

Na Alemanha, as opiniões sobre a nova situação no Oriente Médio dividem até mesmo a coalizão de governo de social-democratas (SPD) e conservadores cristãos (CDU/CSU).

O porta-voz para assuntos externos da bancada da CDU/CSU no Parlamento, Eckart von Klaeden, expressou compreensão pela ofensiva israelense. De seu ponto de vista, quase não havia alternativa para o governo de Tel Aviv proteger sua população dos mísseis do Hamas. Ele considera irrealista o apelo por um armistício, enquanto o fogo dos rebeldes palestinos não cessar.

Segundo Von Klaeden, o alvo político do Hamas é aniquilar Israel. A tarefa de trazer o grupo militante à razão caberia sobretudo aos políticos e governos árabes, já que nem a Europa nem os Estados Unidos possuiriam o necessário acesso aos dois polos políticos palestinos, Hamas e Fatah, entre os quais se desenrolaria o verdadeiro conflito.

Não "Israel ou palestinos", mas sim "guerra ou negociação"

Sob bandeira palestinaSob bandeira palestina

O especialista para o Oriente Médio da bancada social-democrata, Rolf Mützenich foi bem mais crítico em relação ao procedimento de Tel Aviv, que considerou desproporcional ao dever de defender a população israelense. Mesmo que vença rapidamente a situação militar, não há garantia de que isso traga segurança a Israel, afirmou.

"No Líbano demonstrou-se que a luta contra o Hisbolá não levou a um enfraquecimento [da milícia xiita], que, pelo contrário, saiu militarmente fortalecida. E temo que o mesmo ocorrerá com o Hamas."

Num ponto, Von Klaeden e Mützenich estão de acordo: nenhum dos dois deposita grandes esperanças na missão de mediação da UE.

Por sua vez, os partidos de oposição representados na câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag) exigem um papel mais ativo da Europa e da Alemanha no conflito. O porta-voz do partido A Esquerda para assuntos externos, Wolfgang Gehrke, enfatizou que ninguém precisa optar entre Israel ou os palestinos. A alternativa agora é: guerra ou negociações de paz.

Entrevista sobre Células-Tronco e Clonagem

Mayana Zatz é professora de Genética Humana e Médica do Departamento de Biologia, Instituto de Biociências da Universidade São Paulo, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano – IB -, presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Células-tronco

Células-tronco são células capazes de multiplicar-se e diferenciar-se nos mais variados tecidos do corpo humano (sangue, ossos, nervos, músculos, etc.). Sua utilização para fins terapêuticos pode representar talvez a única esperança para o tratamento de inúmeras doenças ou para pacientes que sofreram lesões incapacitantes da medula espinhal que impedem seus movimentos.
As células-tronco existem em vários tecidos humanos, no cordão umbilical e em células embrionárias na fase de blastócito. Pesquisas com células-tronco, porém, estão cerceadas pela desinformação ou por certas posições religiosas que vêem nelas um atentado contra a vida em vez de um recurso terapêutico que possibilitará salvar muitas vidas. 


Caracterização das células-tronco 

Drauzio  O que são células-tronco?
Mayana Zatz – São células que têm a capacidade de diferenciar-se em diferentes tecidos humanos. Existem as células-tronco totipotentes ou embrionárias, que conseguem dar origem a qualquer um dos 216 tecidos que formam o corpo humano; as pluripotentes, que conseguem diferenciar-se na maioria dos tecidos humanos, e as células-tronco multipotentes que conseguem diferenciar-se em alguns tecidos apenas. 

Drauzio – No momento da fecundação, quando o espermatozóide fecunda o óvulo, começam as primeiras divisões celulares e surgem as células totipotentes que vão obrigatoriamente dar origem a todos os tecidos do corpo. Essas células permanecem no indivíduo pelo resto da vida?
Mayana Zatz – As totipotentes não. Elas existem até quando o embrião atinge 32 a 64 células. A partir daí, forma-se o blastocisto cuja capa externa vai formar as membranas embrionárias, a placenta. Já as células internas do blastocisto, que são chamadas de totipotentes, vão diferenciar-se em todos os tecidos humanos. 

Drauzio  Quer dizer que para obter uma célula totipotente é preciso pegar um óvulo fecundado e colhê-la nas primeiras divisões?
Mayana Zatz – Precisam colhê-la até a divisão em 64 células. Indicam as pesquisas ainda em andamento que até 14 dias depois da fecundação, as células embrionárias seriam capazes de diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos. Depois disso, começam a dar origem a determinados tecidos.
Os adultos conservam células - por exemplo, na medula óssea - que têm a capacidade de diferenciar-se em vários tecidos, mas não em todos. Elas também existem no cordão umbilical, mas já são células-tronco adultas que não conservam a capacidade das células embrionárias. 

Drauzio – Quando se trabalha com reposição de tecidos, é possível pegar células pluripotentes da medula óssea, ou seja, do tutano do osso, aquele tecido gorduroso que vai dar origem aos elementos do sangue, e obrigá-las a transformar-se, por exemplo, em neurônios no cérebro?
Mayana Zatz – Essa é a grande questão. Alguns anos atrás, quando se começou a trabalhar com células-tronco, os estudos diziam que sim, mas agora isso está sendo questionado. Um exemplo é o grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro que fez um trabalho com células-tronco em pessoas cardíacas. Hoje se discute se realmente essas células se diferenciaram em células cardíacas ou se simplesmente melhoraram a irrigação do coração. 
No momento, a única coisa a respeito da qual se tem certeza é que as células-tronco de origem embrionária conseguem diferenciar-se em todos os tecidos do organismo.


Células-tronco no cordão umbilical

Drauzio – Estou insistindo nisso, porque constitui um ponto crucial do debate que se estabeleceu sobre as células-tronco, essas totipotentes que podem diferenciar-se em qualquer tecido e têm de ser buscadas nas primeiras fases de desenvolvimento do embrião. Se pudermos obter as células pluripotentes que persistem na vida adulta, parte do problema estaria resolvida.
Mayana Zatz – Esse é um ponto crucial, especialmente se considerarmos que o cordão umbilical, fonte de células-tronco melhor do que a medula espinhal, vai para o lixo quando o bebê nasce. Por isso, estamos brigando para que se façam bancos públicos de cordões umbilicais, apesar de não sabermos se as células-tronco neles existentes têm mesmo a capacidade de diferenciar-se em outros tecidos e, caso tenham, em que tecidos poderão diferenciar-se. 
No entanto, como já não se discute mais que o cordão umbilical é a melhor fonte células para tratamento da leucemia e de inúmeras outras doenças hematológicas e como se estima em praticamente 100% a chance de encontrar uma amostra compatível num grupo de dez a doze mil amostras de cordões, a criação desse banco estaria plenamente justificada.

Drauzio – Como funcionariam esses bancos de cordão umbilical? 
Mayana Zatz – Quando uma pessoa tem leucemia, é preciso procurar um doador compatível e se tenta achá-lo na família do doente, por exemplo, numa irmã ou num primo que possa doar a medula óssea. Às vezes, o paciente tem a sorte de conseguir; às vezes, não e entra numa fila à espera desse doador compatível, um adulto que esteja disposto a doar sua medula.
Imagine, porém, que existam bancos de cordão umbilical com células-tronco boas para o tratamento da leucemia. Se houver 12 mil, 15 mil amostras, certamente será encontrada uma compatível, o que tornará desnecessária a procura de um parente para doação. O processo é semelhante ao dos bancos de sangue, com a diferença de que o sangue tem menos combinações possíveis.


Mistério da diferenciação

Drauzio – Vamos imaginar que por alguma razão, experimento científico ou tentativa de tratamento de uma doença, seja necessário colher essas células totipotentes que são capazes de diferenciar-se em qualquer tecido. O potencial teórico de possibilidades de tratamentos com essas células é tão variado que, pessoalmente, não consigo sequer enxergar seus limites. Você poderia explicar como essas células retiradas do embrião se transformariam em tratamento para as mais diversas doenças?
Mayana Zatz – É preciso deixar o embrião chegar à fase de blastocisto, isto é, com 64 células, o que leva no máximo cinco dias. É fundamental deixar claro o processo para as pessoas entenderem o que pretendemos.
O blastocisto é um montinho de células menor do que a ponta de uma agulha, e ninguém está pensando em destruir embriões, muito menos fetos. A idéia é cultivar essas células em laboratório de maneira que se diferenciem no tecido desejado. 
O corpo humano, porém, guarda um mistério que ainda não foi decifrado. Como se sabe, depois da fecundação, a célula se divide em duas, de duas em quatro, de quatro em oito e assim sucessivamente até atingir a fase de algumas centenas de células com o poder de diferenciar-se em qualquer tecido. No entanto, em determinado momento, elas recebem uma ordem e umas se diferenciam em fígado, outras em ossos, sangue ou músculo, por exemplo. Daí em diante, todas as suas descendentes, de acordo com essa mesma ordem, continuarão diferenciadas: a célula do fígado só vai dar origem a células do fígado; a do sangue, só a células do sangue. Não descobrimos, ainda, como funciona essa ordem que a célula recebe para diferenciar-se nos diferentes tecidos.
Em nossas pesquisas, estamos utilizando células-tronco do cordão umbilical e cultivando-as junto com células musculares. Como trabalho com doenças neuromusculares, quero que elas se diferenciem em músculo. 

Drauzio – Como está sendo desenvolvida essa pesquisa?
Mayana Zatz – Na verdade, estamos fazendo duas pesquisas. Uma estudando só os resultados do contato, da vizinhança entre a célula-tronco e a célula muscular. A segunda, cultivando a célula muscular e utilizando o meio de cultura para colocar a célula-tronco ainda indiferenciada a fim de verificar se naquele meio existem os fatores necessários para sua diferenciação em célula muscular.
Como já disse, meu interesse nesse tipo de célula vem do meu trabalho com doenças neuromusculares. Há pessoas que nascem normais, mas a partir de determinada idade começam a perder musculatura por defeito do músculo ou dos nervos que deveriam estar enervando aquele músculo. Nas formas mais graves, a doença acomete meninos de 10, 12 anos que perderam a massa muscular e estão numa cadeira de rodas. Nosso objetivo com a pesquisa é, a partir de células-tronco, tentar substituir o tecido muscular que está se perdendo, o que de certa forma é uma maneira sofisticada de se fazer um transplante. 

Drauzio – Você tem feito isso a partir de células colhidas do cordão umbilical?
Mayana Zatz – Essas são as únicas células que posso conseguir. Infelizmente, a lei não permite o trabalho com células embrionárias.


Reação paradoxal

Drauzio – Quero discutir esse ponto porque raras áreas da ciência criaram dificuldade tão grande de comunicação com a sociedade como essa do trabalho com células-tronco, justamente porque, para obter células totipotentes, é preciso fecundar um óvulo (o que é feito “in-vitro”, não dentro do útero materno) e esperar multiplicar algumas vezes para obter a célula-tronco. Isso criou um debate, a meu ver descabido, que é o debate do abortamento, como se estivesse sendo feito um pequeno abortamento “in-vitro”.
Ora, se pegarmos um adolescente que foi parar num hospital depois de um acidente de moto e através de vários exames for constatada sua morte cerebral, se a família estiver de acordo, estamos autorizados a retirar o coração e outros órgãos para transplantá-los numa pessoa que precise. A sociedade não só aceita esse ato da medicina como o considera louvável. No entanto, qual foi o princípio que orientou esse procedimento? O sistema nervoso tinha deixado de funcionar, não havia mais condição humana e a vida era apenas vegetativa. Agora, se pegarmos um óvulo, esperarmos que se multiplique em poucas células, nas quais não existe o menor esboço de sistema nervoso central, considerar isso um atentado contra a vida não parece, no mínimo, uma coisa do outro mundo?

Mayana Zatz – Acho que é uma coisa do outro mundo e que existe muito desentendimento e desinformação, porque a proposta é usar os embriões que sobram nas clínicas de fertilização e vão para o lixo. 
Veja o que acontece. O casal tem um problema de fertilidade, procura um centro de fertilidade assistida, juntam-se o óvulo e o espermatozóide e formam-se os embriões. Normalmente são dez, doze, quinze embriões, alguns de melhor qualidade, mas outros malformados que não teriam a capacidade de gerar uma vida se fossem implantados num útero e vão direto para o lixo. Esses embriões descartados serviriam como material de pesquisa para fazer a linhagem de células totipotentes. 
A segunda hipótese refere-se aos casais que já implantaram os embriões, tiveram os filhos que queriam e não vão mais recorrer aos embriões de boa qualidade que permanecerão congelados por anos até serem definitivamente descartados. 

Drauzio 
– E esses também vão morrer…
Mayana Zatz – Esses embriões têm potencial de vida baixíssimo. Muitos teriam potencial zero mesmo que fossem implantados. No entanto, sabe-se que não serão aproveitados e que, um dia, também serão jogados no lixo.
Por incrível que possa parecer, quando se discute a utilização desses embriões, o que mais se ouve dizer é que estamos destruindo vidas. Na verdade, se há alguma destruição é a das pessoas com doenças letais que estão perdendo a possibilidade de serem tratadas a partir de células-tronco embrionárias. Embora não se possa afirmar ainda que esse tratamento exista, segundo tudo indica, é enorme potencial que elas oferecem para consegui-lo.


Contra a vida

Drauzio – Você não acha que os indivíduos que se opõem a esse tipo de pesquisa em nome de uma pretensa defesa da integridade da vida, na verdade estão agindo contra a vida porque impedem que pessoas, estas sim vivas, tenham condições de defender-se de doenças gravíssimas, como essa a que você se referiu?
Mayana Zatz – Sem dúvida. Quem proíbe esse tipo de pesquisa é contra a vida. Eu queria ver se alguém com o filho na cadeira de rodas, sabendo que ele está condenado, teria a coragem de olhar nos olhos dessa criança e dizer: “Olha, o embrião congelado é mais importante do que a tua vida!”
Por isso, defendo que é preciso ouvir as pessoas portadoras dessas doenças, porque representam um drama enorme que a população desconhece. Quando se fala em tratamento, em geral se pensa em Parkinson e Alzheimer, doenças extremamente importantes, mas que acometem pessoas mais velhas. O drama maior enfrentam as crianças e jovens que estão morrendo e das quais se está tirando a única esperança de tratamento. 

Drauzio – Considerar que um óvulo fecundado por um espermatozóide num tubo de ensaio, depois de três ou quatro divisões, é uma vida com o mesmo direito da criança que está na cadeira de rodas, sentindo-se cada vez mais incapacitada, é revoltante. Nesse caso, não seria exagero encarar a masturbação masculina como um genocídio em potencial. 
Mayana Zatz – Nesse sentido, toda a vez que a mulher menstrua também perde a chance de ter um óvulo fecundado e está desperdiçando uma vida naquele momento.


Clonagem terapêutica 

Drauzio – Em que consiste a técnica de clonagem terapêutica?
Mayana Zatz – A clonagem terapêutica é uma técnica que também possibilita a obtenção de células-tronco embrionárias. Vamos considerar duas hipóteses distintas.
Primeira: se eu pegasse, por exemplo, uma célula sua, tirasse o núcleo e colocasse num óvulo sem núcleo e, quando começasse a dividir-se, eu o implantasse no útero de uma mulher, caso a gestação fosse para frente, eu teria um clone do Drauzio. Somos absoluta e frontalmente contra esse tipo de clonagem. Os experimentos feitos com a ovelha Dolly e outros animais mostraram que a clonagem é um desastre e as academias de ciências de 63 países, entre eles o Brasil, já se pronunciaram contra qualquer tentativa de clonagem reprodutiva humana. Não é nem por questão de ética. O risco de malformações é tão grande que seria o mesmo que liberar um remédio sabendo que ele mata ou deixa as pessoas aleijadas.
A clonagem terapêutica, no entanto, pode ser usada para fabricar tecidos. Se eu pegar uma célula, tirar o núcleo, colocar num óvulo sem núcleo e ela começar a dividir-se, vou obter células-tronco com a capacidade de diferenciar-se em todos os tecidos humanos. Nesse caso, se uma pessoa sofrer uma lesão num acidente, teoricamente, posso conseguir uma medula nova ou qualquer outro órgão com a vantagem de que não serão rejeitados porque têm a mesma constituição do organismo do receptor.
Existem, porém, pessoas que se opõem à utilização dessa técnica porque acham que vai abrir caminho para a clonagem reprodutiva, embora esteja claro que, não havendo a transferência para um útero, nunca se conseguirá produzir um clone. 

Drauzio  É o mesmo que ser contra o transplante de rins porque seria possível pegar uma criança na rua, anestesiá-la, extrair seu rim e transplantá-lo para outra pessoa, apesar das leis que impedem categoricamente esse procedimento.
Mayana Zatz – Qualquer técnica tem prós e contras. Não faz muito tempo, um editor do jornal O Estado de São Paulo fez uma comparação muito elucidativa. Comparou a clonagem reprodutiva com a eletricidade. Ninguém discute os benefícios que a eletricidade trouxe, mas todos sabem que podem morrer com um choque elétrico. Por causa desse risco teria cabimento proibir o uso da eletricidade?
Recentemente, um grupo coreano conseguiu fazer uma pesquisa com 16 mulheres que doaram óvulos para os quais foram transplantados núcleos de células dessas mesmas mulheres. O resultado foi que 25% deles conseguiram crescer, chegar ao estágio de blastocisto e deram origem a células-tronco pluripotentes capazes de transformar-se em qualquer tecido daquelas mulheres.


Em prol da vida

Drauzio – Enfrentamos uma verdadeira guerra legal a respeito do tema clonagem. Como você vê a legislação brasileira que aborda o assunto? Vamos poder avançar nessa área ou seremos empurrados para os subterrâneos da ciência?
Mayana Zatz – Tínhamos um projeto de biossegurança escrito por Aldo Rabelo que abordava tanto o problema dos transgênicos como a pesquisa com células-tronco embrionárias. Entretanto, apesar de o projeto ser muito bom e permitir avanços nessas duas áreas, foi rejeitado pela Câmara dos Deputados que proibiu as pesquisas com células-tronco e a plantação de plantas transgênicas sem considerar o benefício gigantesco que estas últimas, por exemplo, poderiam representar para a população em geral.
Esse projeto foi encaminhado para o Senado e nós propusemos sugestões tentando incluir nele a possibilidade de usar os embriões descartados para fazer clonagem terapêutica. Por enquanto ele está parado e, se não for aprovado, estaremos ficando realmente para trás, o que vai ser uma lástima porque vários laboratórios no Brasil dominam essa tecnologia e só estão esperando autorização do governo para iniciar as pesquisas. 

Drauzio – Além da ignorância, o que move as forças contra esse tipo de trabalho? São interesses políticos, religiosos ou de que outro tipo?
Mayana Zatz – Nessa votação que houve na Câmara dos Deputados, parece que a oposição foi feita por grupos religiosos motivados pela idéia de que mexer no embrião é destruir uma vida. 

Drauzio – Sempre me pergunto que direito têm essas pessoas de impedir o tratamento e a cura de tanta gente que sofre?
Mayanaa Zatz – Esse é um aspecto extremamente importante a ser discutido. De novo vale a pena considerar que essas pesquisas estão liberadas na maior parte dos paises da Europa, no Canadá, Austrália, Japão e Israel. Portanto, se amanhã houver tratamento fora do Brasil, o governo terá de pagar royalties por eles. Podendo usar embriões para curar doenças, será que as pessoas da Comunidade Européia ou esses outros países valorizam menos a vida do que nós ou é exatamente o contrário? 

Site:
www.genoma.ib.usp.br