GISELLI SOUZA
colaboração para a Folha Online
Os oito anos de George W. Bush à frente dos Estados Unidos permitiram ao Brasil ficar mais próximo de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo o embaixador do Brasil em Washington, Antônio Patriota.
13.09.2005/Alan Marques/Folha Imagem |
Para embaixador, governo brasileiro avançou no relacionamento bilateral nas questões políticas com os EUA na gestão de Bush |
"O governo Bush não chegou a apoiar explicitamente o Brasil, mas ele chegou mais perto disso que qualquer governo anterior. Nas declarações da [secretária de Estado americana, Condoleezza] Rice, ela lembrou que existem argumentos muito sólidos para a participação do Brasil como membro permanente do conselho", disse Patriota.
O Brasil foi membro temporário do conselho nove vezes, sendo a última, entre 2004 e 2005. Os únicos países a terem um assento permanente são: China, França. Rússia, Reino Unido e Estados Unidos. Há vários anos, o país reivindica --ao lado do Japão e da Alemanha-- a ampliação das cadeiras permanentes no órgão que é o mais importante da ONU.
Segundo Rice, "os EUA nunca tinham tido relações estreitas com o Brasil e nem reconhecido a emergência do país, enquanto democracia multicultural, em ocupar um lugar de destaque no cenário mundial", mas que os laços entre ambas as nações "se estreitaram entre esta administração [do presidente George W. Bush] e um presidente de esquerda [o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva]".
De acordo com o embaixador, em vez de discussões somente no setor econômico, o governo de Bush abriu o leque da agenda política e convergiu em questões ligadas ao racismo e também a missões de paz da ONU, como com o envio de tropas brasileiras ao Haiti.
Para Patriota, a diversificação do diálogo entre os dois países foi também um facilitador na interlocução com o Congresso americano. "Com um leque de temas ampliado, certas dificuldades que poderiam surgir no relacionamento bilateral se diluíram em uma relação mais rica e com convergências novas interessantes", afirma Patriota que cita as tropas no Haiti como um dos principais assuntos entre os interlocutores.
De acordo com o representante brasileiro, as conquistas entre os dois países foram resultado de uma relação amistosa entre os dois governos. Desde o início da gestão Bush e Lula "houve muita empatia pessoal e um diálogo franco e transparente". "Ele [Lula] não exacerbava as divergências, mas botava claramente quais eram as prioridades do Brasil".
Biocombustíveis
Sobre os biocombustíveis, o embaixador cita a vinda de Bush ao Brasil em 2007. Para Patriota, a viagem do presidente americano foi o nascimento de uma parceria em biocombustíveis, com a assinatura do memorando para a cooperação tecnológica para a produção de álcool e o biodiesel.
O não atendimento da reivindicação do Brasil na época --a redução da tarifa cobrada sobre o álcool exportada ao mercado norte-americano- é vista pelo embaixador como algo que "não depende de Bush". "Foi frustrante. Não deixou de ser frustrante. Mas a questão da taxa, ele pessoalmente era a favor da eliminação [...] Ele [Bush] sempre deixou claro que não tinha capacidade de eliminar [a taxa] e que isso era uma prerrogativa do Congresso americano".
Patriota afirma ainda que dificilmente a questão será levada adiante pelo governo do presidente eleito, Barack Obama. "Os democratas não apoiaram agora no Congresso, então dificilmente deverão apoiar com o novo presidente. Porém, é algo que pode mudar. Ninguém sabe o que poderá acontecer".
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