RIO - A possibilidade de um acordo na Rodada de Doha, como são chamadas as negociações para abertura do comércio mundial, estão a um passo de fracassarem, mostra reportagem de Deborah Berlinck, correspondente do jornal "O Globo", em Genebra, onde as discussões se estenderam madrugada adentro.
Três dos sete países fundamentais para fechar o acordo passaram o dia numa verdadeira guerra de acusações: Estados Unidos, Índia e China e por volta das 3h30 da manhã (horário de Genebra) e 22h30 no Brasil, as conversas prosseguiam sem nenhum resultado. O ambiente era tão pesado que o porta-voz da Organização Mundial do Comércio (OMC), Keith Rockwell, só tinha isso para anunciar de madrugada:
- A situação está muito tensa. O resultado é incerto.
O principal ponto de discórdia é a questão agrícola. Os países em desenvolvimento, como China e Índia e outros 80 países não abrem mão da direito de aumentarem as tarifas sobre estes produtos, isto é, taxar as compras de outros países - quando houver um surto de importação de produtos agrícolas. Este mecanismo de proteção é chamado de salvaguardas especiais.
O Brasil fechou com a posição de países ricos como Estados Unidos, Europa e Austrália, abrindo mão dessas salvaguardas, em troca do corte nos subsídios agrícolas (ajuda que os países ricos dão aos seus produtores e reduzem artificialmente os preços) sobretudo os Estados Unidos. No Brasil, os empresários aprovaram a decisão do Itamaraty.
O diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy, reunia-se com cada um dos sete países individualmente e costurava um novo texto, já que o anterior foi rejeitado pelos emergentes. A nova proposta até aceita criar as salvaguardas para agricultura . Mas o desacordo é sobre quando os países em desenvolvimento poderão aplicá-las. China e Índia defendem acionar o mecanismo quando as importações subirem 10% do volume da média dos últimos três anos. Já EUA querem que salvaguardas só sejam acionadas quando as importações subirem 40%, acima da média dos últimos três anos, que é o que está na proposta de Pascal Lamy.
Estamos por um fio - sintetizou o chanceler brasileiro Celso Amorim ao sair de uma das várias reuniões de ontem. O Brasil e Austrália tentaram mediar o acordo e salvar a Rodada.
Se a Rodada fracassar, a própria OMC pode cair num limbo de pelo menos três anos. Será também um duro golpe para o Brasil, que apostou no pacote em negociação como o único meio possível no momento para melhorar o acesso dos produtos agrícolas brasileiros a mercados de países ricos, como EUA e União Européia (UE).
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