sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

União Europeia inicia missão diplomática no Oriente Médio

A presidência tcheca de UE classificou a investida terrestre de Israel na Faixa de Gaza como "defensiva, não ofensiva". Na Europa e na Alemanha, dividem-se as opiniões sobre o novo clímax do conflito no Oriente Médio.

A União Europeia iniciou sua missão de intermediação no Oriente Médio. O ministro tcheco do Exterior, Karel Schwarzenberg, partiu neste domingo (04/01) para o Cairo, acompanhado por seus colegas de pasta Bernard Kouchner e Carl Bildt, da França e da Suécia, respectivamente, assim como pela comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner.

Chefe da diplomacia tcheca, Karel SchwarzenbergChefe da diplomacia tcheca, Karel Schwarzenberg

A missão durará três dias, estendendo-se a Israel, Cisjordânia e Jordânia. Pouco antes da partida, Schwarzenberg – cujo país preside a UE no primeiro semestre de 2009 – voltou a atribuir a culpa da escalada ao Hamas. Antes, ele classificara a operação de Israel como "defensiva, não ofensiva". O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Mussa, declarou-se horrorizado pelo fato de políticos europeus justificarem as investidas contra os palestinos como autodefesa israelense.

"Perigosa escalada militar"

Porém, entre os demais chefes da diplomacia europeia, a condenação à ofensiva terrestre de Israel na Faixa da Gaza é praticamente unânime.

Bernard Kouchner disse considerar esta última fase da violência "uma perigosa escalada militar", dificultando os esforços da comunidade internacional para dar fim aos combates, levar auxílio imediato aos civis e alcançar um cessar-fogo permanente. "A França condena a ofensiva terrestre contra Gaza, assim como condena a continuação dos ataques de mísseis", declarou o ministro das Relações Exteriores.

Para o ministro britânico do Exterior, David Miliband, "o desdobramento dos eventos demonstra a necessidade urgente do cessar-fogo imediato pelo qual apelamos".

Soldados israelenses marcham sobre a Faixa de GazaSoldados israelenses marcham sobre a Faixa de Gaza

Seu homólogo espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que já representou a União Europeia no processo de paz do Oriente Médio, instou tanto o Hamas a suspender o lançamento de mísseis como Israel a cessar sua operação terrestre. O governo da Espanha declarou-se "profundamente preocupado" com a atual situação, urgindo ambos os lados a "dar ouvidos aos apelos da comunidade internacional e parar os choques".

Já antes do início da ofensiva terrestre, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, apelara às nações islâmicas para que colaborassem para o fim dos ataques com mísseis pelo Hamas. Segundo comunicado do Ministério do Exterior, Steinmeier conversou no sábado (03/01) com seu homólogo turco antes de um encontro na Arábia Saudita, reunindo os 57 membros da Organização da Conferência Islâmica. Steinmeier reiterou seu apoio a um "cessar-fogo humanitário", que simplificaria o abastecimento da população civil em Gaza e abriria o caminho para a diplomacia.

"Interceder é tarefa dos países árabes"

Na Alemanha, as opiniões sobre a nova situação no Oriente Médio dividem até mesmo a coalizão de governo de social-democratas (SPD) e conservadores cristãos (CDU/CSU).

O porta-voz para assuntos externos da bancada da CDU/CSU no Parlamento, Eckart von Klaeden, expressou compreensão pela ofensiva israelense. De seu ponto de vista, quase não havia alternativa para o governo de Tel Aviv proteger sua população dos mísseis do Hamas. Ele considera irrealista o apelo por um armistício, enquanto o fogo dos rebeldes palestinos não cessar.

Segundo Von Klaeden, o alvo político do Hamas é aniquilar Israel. A tarefa de trazer o grupo militante à razão caberia sobretudo aos políticos e governos árabes, já que nem a Europa nem os Estados Unidos possuiriam o necessário acesso aos dois polos políticos palestinos, Hamas e Fatah, entre os quais se desenrolaria o verdadeiro conflito.

Não "Israel ou palestinos", mas sim "guerra ou negociação"

Sob bandeira palestinaSob bandeira palestina

O especialista para o Oriente Médio da bancada social-democrata, Rolf Mützenich foi bem mais crítico em relação ao procedimento de Tel Aviv, que considerou desproporcional ao dever de defender a população israelense. Mesmo que vença rapidamente a situação militar, não há garantia de que isso traga segurança a Israel, afirmou.

"No Líbano demonstrou-se que a luta contra o Hisbolá não levou a um enfraquecimento [da milícia xiita], que, pelo contrário, saiu militarmente fortalecida. E temo que o mesmo ocorrerá com o Hamas."

Num ponto, Von Klaeden e Mützenich estão de acordo: nenhum dos dois deposita grandes esperanças na missão de mediação da UE.

Por sua vez, os partidos de oposição representados na câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag) exigem um papel mais ativo da Europa e da Alemanha no conflito. O porta-voz do partido A Esquerda para assuntos externos, Wolfgang Gehrke, enfatizou que ninguém precisa optar entre Israel ou os palestinos. A alternativa agora é: guerra ou negociações de paz.

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