quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quem são os Estados Unidos para Julgar?

Dando uma curta pausa na nossa programação normal, coloco aqui mais uma notícia do jornal "Oriente Médio Vivo".


O relatório anual de direitos humanos publicado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos provocou fortes críticas dos países que foram apontados como “violadores sistemáticos” de direitos humanos durante o ano de 2008. O relatório divulgado em março desse ano apresenta dados de 194 países e tece severas críticas aos países que, de alguma forma, fazem oposição aos Estados Unidos e aos interesses da Casa Branca.

Mas afinal, quem são os Estados Unidos para falar em direitos humanos? Essa pergunta é o mínimo que se espera de qualquer cabeça pensante. Obviamente, um país responsável por torturas sistemáticas de presos inocentes, sem acusação alguma, em que alguns casos levaram té a morte, como aconteceu em Guantánamo, Abu Ghraib e Bagram, não pode ditar regras de direitos humanos. Um país que mata civis diariamente no Afeganistão, Iraque e Paquistão com bombardeios indiscriminados a áreas residenciais não pode ter credibilidade nesse assunto. Uma nação não pode ser confiável após reeleger Bush para mais quatro anos no poder, mesmo depois de comprovadamente ter sido enganada pela administração dele e por ter visto com clareza os horrores da invasão ilegal ao Iraque.

Foram os mesmos eleitores que elegeram Barack Obama, mais no intuito de dar um sinal para o
mundo de que eles não são tão ruins assim do que pela vontade de “mudança”. Mas, por enquanto, Obama fez muito pouco do que vinha prometendo. Para ele, transformar Guantánamo
em um caso encerrado e passado era de extrema importância para a retórica de mudança adotada como slogan da campanha eleitoral.

Até agora a postura do novo presidente com relação à política de detenção sem causa ou quanto aos “outros Guantánamos”, como o campo de concentração de Bagram, continua a mesma do
antecessor.

Quanto ao relatório dos Estados Unidos, o informe denuncia violações das liberdades individuais em diversos países: Cuba, Venezuela, China, Egito, Irã, Sri Lanka, Zimbábue, Armênia, Mauritânia, República Democrática do Congo, entre outros. Mas ele diz algo sobre Guantánamo, Abu Ghraib ou Bagram? Ou sobre a invasão ilegal do Iraque? Os bombardeios diários contra civis no Afeganistão? Alguma linha foi escrita sobre o fornecimento de armas ilegais para Israel testar contra o povo palestino em Gaza? Não, para os estadunidenses isso simplesmente não aconteceu. Essa é a típica posição de descaso com relação ao resto do mundo que finalmente posicionou os Estados Unidos como inimigos do mundo nos últimos anos – e isso Obama parece não ter força nem caráter para mudar.

A atitude de dois pesos e duas medidas que reina nos relatórios dedireitos humanos publicados pelos Estados Unidos, em que aliados são parabenizados e inimigos são denunciados, é clara também na autoavaliação, em que os crimes que cometeu são sempre omitidos. Acontece que hoje, quando os crimes estadunidenses são claros para todos, esse relatório não serve mais para nada – não há credibilidade. Como afirmou o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores iraniano, Hassan Qashqavi, em resposta ao relatório, “os Estados Unidos, que são um dos principais violadores dos direitos humanos no mundo, não estão em posição de comentar sobre o
assunto.” Muitos países, pela primeira vez, assumiram essa postura. Entre eles estão muitos países da América do Sul, como Bolívia, Chile e Venezuela. O mundo só tem a ganhar com esse
levante contra os Estados Unidos, afinal, quem são eles para julgar?




Fonte: Oriente Médio Vivo, Nº 136, 6 de Abril de 2009


Humam al-Hamzah
Zaid Muhammad


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