sexta-feira, 10 de abril de 2009

Jean Charles é lembrado no "Put People First"

Thiana Biondo
Especial para Terra Magazine


Carregar faixas e ir às ruas parece antiquado. Aprendemos que todos nós devemos almejar a nossa ascensão social e que somos responsáveis pelo nosso sucesso ou infortúnio. Assim, as manifestações públicas se tornaram desnecessárias e ineficazes. Mas, com a crise financeira global, na qual banqueiros e industriais pedem em coro socorro do Estado, protestar voltou a ser visto como uma maneira eficaz e moderna de pressionar governantes, para que ponham as pessoas em primeiro lugar (Put People First, em inglês), em vez de multinacionais e estatísticas.

E foi essa idéia que deu nome aos protestos que ganharam as ruas de Londres (http://www.putpeoplefirst.org.uk/), às vésperas da cúpula do G-20. No fim de semana, a marcha reuniu cerca de 35.000 pessoas e contou com o apoio de 150 organizações civis, entre elas Oxfam, Greenpeace, Fairtrade Foundation, Save the Children. As principais exigências: trabalho, justiça e responsabilidade com o meio ambiente. No site, algumas sugestões de mudanças: "os investidores devem seguir os Princípios de Responsabilidade das Nações Unidas e incluírem cálculos de risco sobre impactos sociais, ambientais e de governança em suas práticas de investimento". Ou constatações, como: "São os pobres que estão segurando o peso da crise, e não deve ser esquecido que 70% dos mais pobres no mundo são mulheres".



Família participa da marcha: Alex Freeman, Lurian Kai Phoenix (criança)
e Shiri Shalmy

Cidade e circunstância mais do que oportunos, com a chegada dos líderes das 20 maiores potências econômicas do mundo para o G-20, na quinta-feira, em Docklands, parte leste da capital, bem afastado do centro; o comentário é que a polícia deve fechar todas as rotas de transporte para as manifestações não chegarem até lá, mas já tem gente acampada na área.

No sábado, tudo foi bem pacífico. Na marcha que começou na área de Embankment, à beira do Tamisa e foi até o Hyde Park Corner - mais de 6 quilômetros -, a sensação era de que sabemos o que queremos, temos até sugestões para dar aos poderosos, e sentimos fé e insegurança de que algo irá realmente mudar na sociedade global.

Em meio aos grupos de socialistas, ambientalistas, sindicatos de trabalhadores e pessoas sem filiação nenhuma, todos os manifestantes exigiam "um mundo melhor". Entre eles, os moradores da região Norte da cidade, Shiri Shalmy, Alex Freeman e o filho deles, Lurian Kai. "Minha maior preocupação é com as próximas gerações, e o que iremos deixar para ela. A forma como a indústria produz precisa ser mais responsável com o meio ambiente", comentou a mãe do pequeno quando deixávamos a vista do Rio Tamisa e chegávamos em Westminster.



O sindicato belga CSC viajou de navio para participar da passeata

"A produção de alimentos Fair Trade deve ser incentivada, é uma das formas em que justiça e melhores condições de vida podem chegar aos países em desenvolvimento", falou Sarah, funcionária da empresa de chocolate "Divine Chocolate", que compra cacau do Gana (África). De peruca vermelha, ela distribuía adesivos mais ousados: "Ovo nos políticos. Mantenha-se 'Fair Trade' na reunião de cúpula do G-20".

Nunca tinha ouvido falar nessa expressão, até chegar do lado de cá do Oceano. Às vezes as pessoas perguntam: "É fair trade (comércio justo)?" Ou seja, foi produzido seguindo os critérios da fundação Fairtrade; entre eles, não colocar as pessoas em condições de trabalho escravo nas fazendas.

Caso Jean Charles

Antes de chegar ao parque, ainda encontrei três freiras indianas, Jasmim, Punithein e Virginia carregando cartazes: "Largue o hábito do Carbono" e "Crie um clima com justiça". Uma delas foi direto ao assunto: "Queremos que os governantes façam da pobreza História". Reencontrei minha amiga Paula e deixando o evento juntas, ela me relembrou de Daniel Obachike, que havíamos encontrado no momento da saída.

Obachike, com o nome de Jean Charles de Menezes, pedia justiça no caso do assassinato do brasileiro. "Eu sou sobrevivente do atentado a bomba que aconteceu no dia 7 de Setembro (2005)." No seu panfleto, ele conta sua versão: "Não havia nenhum asiático carregando mochila nas costas, dentro do ônibus que explodiu. O MI5 (Serviço de Inteligência Britânico) fez isso." Obachike pedia justiça no caso de Jean Charles, no qual nenhum policial foi considerado culpado. A essa altura, a multidão já ocupava o parque.

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