Reportagem de 2001
O Conselho de Segurança da ONU recebeu um apelo para dar um fim no uso de crianças como soldados em conflitos armados – e pela primeira vez na história do órgão, o pedido foi feito por um adolescente que esteve envolvido em uma guerra.
Alhaji Babah Sawane, de 14 anos, forçado a participar da guerra civil em Serra Leoa, pediu à ONU que acabe com a "triste história" dos soldados-mirins.
"Queremos ser livres para visitar nossas famílias e amigos sem correr o risco de ser raptados ou recrutados", disse Sawane, que aos 10 anos começou a lutar ao lado dos rebeldes da Frente Revolucionária Unida.
Ele foi raptado, agredido e roubado antes de receber treinamento em armas de fogo e ser integrado às tropas rebeldes, com as quais lutou durante dois anos e meio.
Reabilitação
Sawane foi libertado em janeiro do ano passado, depois que forças de paz da ONU convenceram os rebeldes a lhes entregar 250 crianças que estavam lutando em suas fileiras.
Ele acrescentou que, além da prevenção, é preciso pensar na reabilitação desses jovens. "Muita gente duvida que eu algum dia volte a ser uma criança normal", afirmou Sawane ao Conselho de Segurança.
"Eu fiz coisas muito ruins na guerra", afirmou o adolescente.
Após ser libertado, Sawane foi adotado por uma mulher, já que sua família não pôde ser encontrada.
O processo foi administrado pela ONU e recebeu elogios do jovem leonês. "O programa me ajudou a me sentir normal de novo."
Preocupação
A ONU estima que mais de 300 mil crianças estejam lutando ao lado de exércitos regulares, movimentos rebeldes e grupos guerrilheiros em pelo menos 30 países.
Desse total, 5.000 estão envolvidas na guerra civil de Serra Leoa.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse no Conselho de Segurança que o conflito no Afeganistão apenas reafirma a necessidade de melhorar a situação dessas crianças.
Representantes de países muçulmanos também se dirigiram ao órgão, ressaltando a situação das crianças envolvidas nos conflitos do Oriente Médio.
Resolução
O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade uma resolução convocando os países-membros da entidade a ratificar um tratado que proíbe o recrutamento de soldados com menos de 18 anos.
Trata-se da terceira resolução do gênero aprovada pelo órgão desde agosto de 1999.
A Representante Especial da ONU para as Crianças Envolvidas em Conflitos, Olara Otunna, afirmou que a comunidade internacional não está fazendo o suficiente para ajudar as meninas combatentes.
"Infelizmente, há grupos armados que preferem escolher as meninas para participar de operações suicidas", disse Otunna.
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