segunda-feira, 23 de março de 2009

Resenha de Filme - "Waltz for Bashir"

Massacre de Sabra e Chatila pode ter matado mais de 1.500 em 1982

Ataque israelense é mostrado na animação 'Valsa com Bashir'.
Filme estreia nesta sexta-feira.


As estimativas mais conservadoras dizem que 800 pessoas morreram no massacre de Sabra e Chatila. Centenas de mulheres, crianças e idosos que estavam no campo de refugiados palestinos no Líbano durante a invasão israelense de 1982 foram assassinados por antigos rivais do grupo libanês Falange, que tiveram a entrada no local liberada pelas Forças Armadas de Israel. Grupos independentes dizem que o número de mortos ultrapassa 1.500. Por mais que militares israelenses não tenham agido diretamente no massacre, o então ministro de Defesa do país, Ariel Sharon, é visto pela comunidade internacional como o principal responsável pelas mortes.


Pouco tempo depois de Israel invadir o Líbano, em junho de 1982, as forças israelenses cercaram Beirute. Um acordo de cessar-fogo foi negociado dois meses depois, permitindo que uma força internacional, incluindo soldados norte-americanos, entrasse na cidade - o que fez com que os soldados da Organização pela Liberação da Palestina deixassem a região.

O presidente do Líbano, Bashir Gemayel, foi assassinado no dia 14 de setembro. No dia seguinte, Israel enviou tropas na parte oeste de Beirute, onde cercaram os dois campos de refugiados palestinos. Sharon permitiu que milicianos do partido Falange, inimigo histórico dos palestinos, entrassem no campo para "limpar" o que chamou de "dois ou três mil terroristas que ficaram para trás".

Bashir era filho de Pierre Gemayel, fundador do partido libanês Kataeb, mais tarde conhecido como Falange. O grupo foi criado em 1936 como uma organização de jovens paramilitares cristãos maronitas. Gemayel pai teria se inspirado em organizações fascistas a que assistiu durante as Olimpíadas de Berlim. Era uma organização autoritária e centralizada.



Julgamento


A comunidade internacional condenou a ação israelense, e até mesmo dentro do Estado judeu houve protestos contra o governo de Menachem Begin, cobrando um inquérito judicial. Uma comissão presidida pelo presidente da Suprema Corte de Israel, Yitzhak Kahan, decidiu que oficiais israelenses foram "indiretamente responsáveis", porque permitiram que inimigos mortais dos palestinos entrassem nos campos e continuassem lá mesmo depois de receberem relatos das atrocidades que estavam sendo cometidas.

Uma comissão internacional julgou que, pela lei internacional, Israel foi diretamente responsável, porque os campos estavam sob sua jurisdição como força ocupante do Líbano, e porque militares do país planejaram a entrada dos milicianos, evitaram que houvesse fugas de sobreviventes e não interromperam o assassinato em massa depois de saberem de sua existência.

Em 2001, a Anistia internacional e o Human Rights Watch pediram uma investigação de Sharon por seu papel nos massacres.

Na época, Sharon foi forçado a abandonar o cargo de ministro da Defesa, mas acabou se tornando primeiro-ministro do país e nunca foi julgado pelos massacres. Em 2001, durante uma campanha eleitoral, Sharon expressou pesar pela "terrível tragédia" em Sabra e Chatila, mas negou qualquer responsabilidade.


'Valsa com Bashir' retrata pesadelos de um jovem soldado

Animação israelense venceu Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar.
Versão em HQ do drama de Ari Folman também chega ao Brasil.


Nem sempre as vítimas de uma guerra são só aquelas que estiveram do lado derrotado. Para os milhares de jovens convocados a vestir a farda e empunhar um rifle por seu país, a experiência no campo de batalha pode provocar traumas irreparáveis. "Valsa com Bashir", filme de animação israelense que estreia no Brasil nesta sexta, conta a história de um deles.

Ari Folman, diretor e personagem principal do longa, tinha 19 anos quando participou de um dos episódios mais sangrentos da Guerra do Líbano, em 1982, conhecido como o massacre de Sabra e Chatila. Duas décadas depois, ele não consegue se lembrar de praticamente nada daqueles dias, à exceção de alguns flashes soltos que rondam sua mente.


Premiado com um Globo de Ouro e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro - vencido pelo japonês "Okuribito" -, "Valsa com Bashir" é o resultado da busca de Folman para tentar reconstituir sua memória. Por mais estranho que possa soar, o filme é um documentário em animação, no qual as cenas são desenhadas a partir de depoimentos reais gravados por Folman em conversas com amigos que combateram a seu lado no exército israelense, muitos deles igualmente traumatizados.

Menos superficial do que uma simples reconstituição com atores de carne e osso, o formato animado e a trilha sonora de punk rock ajudam a criar uma atmosfera jovem para a história. A intenção, no entanto, passa longe de glamourizar a experiência, como esclareceu em entrevista ao G1 no ano passado o diretor Ari Folman. "Este é um filme antiguerra. Em filmes americanos, mesmo nos que criticam a guerra, você sempre vai ter um certo glamour em torno da guerra: a glória, a amizade entre os soldados, a masculinidade, a bravura. Você vê e fala: 'sim, é um filme antiguerra, mas eu quero ser um desses caras'. Com 'Bashir', quero que os jovens vejam e não queiram se sentir parte disso."

Já descrito como uma mistura de "Persépolis", a graphic novel da quadrinista Marjane Satrapi sobre sua infância na Revolução Iraniana, com "Nascido para matar", filme de Stanley Kubrick sobre o impacto psicológico do serviço militar na mente dos jovens americanos, "Valsa com Bashir" é capaz de sensibilizar e perturbar o espectador mesmo que não traga necessariamente todos os lados da delicada situação no Oriente Médio.

Aproveitando o lançamento nos cinemas, a editora L&PM coloca nas prateleiras do Brasil a história em quadrinhos do filme. Publicada em cores e em formato de livro, a HQ foi produzida diretamente com os frames do longa-metragem, reproduzindo em papel os desenhos de David Polonsky e o roteiro escrito por Folman.

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