sexta-feira, 13 de março de 2009

Isto não é um teste. Isto não é um teste

The New York Times
Thomas L. Friedman

É sempre ótimo ver o mercado de ações ressuscitar dos mortos. Mas estou profundamente preocupado que nosso sistema político não tenha entendido quanto nossa crise financeira ainda pode minar tudo o que queremos ser como país.

Amigos, isto não é um teste. Economicamente, este é o grandão. É agosto de 1914. É a manhã seguinte após Pearl Harbor. É o 12 de Setembro. Mas, de muitas formas, parecemos estar realizando a política de costume.

Nosso país sofre de uma insuficiência cardíaca congestiva. Nosso coração, nosso sistema bancário que bombeia sangue para nossos músculos industriais, está entupido e funcionando bem abaixo da capacidade. Nada mais se compara remotamente em importância à necessidade urgente de curar nossos bancos.

Mas eu leio que estamos bloqueando dezenas de nomeações-chave no Departamento do Tesouro porque estamos preocupados se alguém pagou as contribuições para o Seguro Social de uma babá contratada há 20 anos por US$ 5 a hora. Isso é insano. É como se nossa casa financeira estivesse em chamas, mas não deixássemos os bombeiros abrirem o hidrante até eles nos assegurarem que não há cloro demais na água. Hello?

Enquanto isso, o Partido Republicano se comporta como se preferisse ver o país fracassar do que Barack Obama ser bem-sucedido. Rush Limbaugh, o chefe de fato do Partido Republicano, disse tão explicitamente a ponto de levar John McCain a falar sobre o presidente Obama na "Politico": "Eu não quero que ele fracasse em sua missão de restaurar nossa economia".

O Partido Republicano está de fato debatendo se quer ou não o fracasso de nosso presidente. Em vez de ajudarem o presidente a tomar as decisões difíceis, os republicanos optaram por atrapalhá-lo. Seria como se na manhã após o 11 de Setembro, os democratas dissessem que não queriam se envolver em nenhuma guerra contra a Al Qaeda -"George Bush, você que se vire sozinho".

Quanto a Obama, eu gosto de sua calma sob fogo, mas às vezes sinto como se ele estivesse deliberadamente mantendo distância da crise bancária, enquanto busca pressionar o avanço de outras iniciativas populares. Eu entendo que ele não queira que sua presidência se torne refém dos altos e baixos das ações dos bancos, mas ele é refém. Todos nós somos.

Crises grandes e difíceis são o que produz grandes presidentes, de forma que sabemos ao menos de uma coisa: Obama terá sua chance de chegar à grandeza. Esta crise é particularmente difícil em quatro aspectos.

Primeiro, para sair de uma crise como esta, é preciso limpar os mercados. É preciso deixar as empresas falidas, ou proprietários de imóveis, realmente falirem, destravar seu capital morto e reaplicá-lo em entidades prósperas. Foi como acabou o estouro da bolha pontocom, e daquela carnificina surgiu toda uma nova série de empresas. O problema com esta crise é que o AIG, Citigroup e General Motors - e a hipoteca de risco do seu vizinho- não são o Dogfood.com. Permitir que o mercado as elimine poderia resultar em sermos eliminados junto com elas. Portanto, o presidente precisa encontrar um modo de punir os maus agentes financeiros sem permitir outro efeito dominó como o do Lehman Brothers.

Segundo, nós precisamos de um mercado em funcionamento que proporcione um valor justo e clareza às "hipotecas tóxicas" que minam os balancetes de nossos grandes bancos. Isto provavelmente exigirá algum grau de subsídio do governo aos grupos de private equity e fundos hedge, para permitir que deem os primeiros lances por estes ativos tóxicos, ao garantir que não sairão perdendo. Isto pode fazer sentido em termos de política, mas é um pesadelo para ser vendido politicamente. Poderia parecer a muitos como outra ajuda injusta a Wall Street.

Infelizmente, o presidente poderá ter que olhar o povo americano nos olhos e explicar que "eqüidade não está mais no cardápio". Tudo o que resta no cardápio no momento é se evitaremos ou não um colapso do sistema - e isto exigirá recompensar alguns novos investidores.

Terceiro, o presidente terá que tomar alguns decisões de trilhões de dólares -como a nacionalização de grandes bancos ou dobrar o estímulo econômico- sem nenhum precedente real e sem saber todas as consequências a longo prazo.

Finalmente, para fazer tudo isso, o presidente terá que nos fazer entender quão perigoso é o momento em que estamos, sem criar um pânico que leve os americanos a colocarem todo centavo que possuem sob o colchão e minar a economia ainda mais.

Tudo isso exigirá liderança da mais alta ordem - decisões ousadas, persistência e persuasão. Há muito dinheiro de lado ávido para ser apostado de novo nos Estados Unidos. Mas no momento, há incerteza demais; ninguém sabe quais serão as novas regras que regerão os investimentos em nossas maiores instituições financeiras. Se Obama puder produzir e vender esse plano, os investidores privados, pequenos e grandes, nos darão um estímulo como nunca foi visto.

O motivo para eu acordar toda manhã esperando ler esta história:

"O presidente Obama anunciou hoje que convidou os 20 principais banqueiros do país, os 20 principais industrialistas, os 20 principais economistas de mercado e os líderes democratas e republicanos da Câmara e do Senado para se juntarem a ele e sua equipe em Camp David. 'Nós não desceremos da montanha até chegarmos a uma estratégia comum e transparente para nos tirar desta crise bancária', disse o presidente, enquanto embarcava em seu helicóptero."

Tradução: George El Khouri Andolfato

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