segunda-feira, 23 de março de 2009

Polêmica interna marca retorno da França ao comando integrado da Otan

Para os opositores, retorno da França às estruturas de comando da Otan rompe consenso de 43 anos e compromete originalidade política francesa. Governo em Paris considera ingresso uma chance de europeizar a aliança.

Na polêmica envolvendo o retorno da França ao comando militar integrado da Otan, a Assembleia Nacional aprovou nesta terça-feira (17/03) moção de confiança ao governo do primeiro-ministro François Fillion. O governo obteve 329 votos a favor e 228 contra.

Perante a Assembleia Nacional, nesta terça-feira (17/03), o primeiro-ministro francês, François Fillon, refutou as acusações de que a reintegração da França implicaria uma perda de autonomia. Ele também anunciou a intenção de se empenhar pela reforma da Otan, a fim de garantir maior influência do país sobre as decisões estratégicas da aliança.

Em 1966, após ter se tornado uma potência atômica sob o presidente Charles de Gaulle, a França se afastou do comando integrado da Otan, a fim de se precaver do envolvimento em um eventual conflito nuclear durante a Guerra Fria. Hoje, o país participa de todas a operações militares e está representado em quase todos os grêmios da aliança.

Quarenta e três anos após o desligamento, o presidente Nicolas Sarkozy pretende reinserir o país no comando militar integrado. Isso será formalizado durante a próxima cúpula da Otan, a ser realizada em Estrasburgo e Kehl/Baden-Baden, em 3 e 4 de abril.

Do ponto de vista constitucional, a decisão não exigia aprovação do Parlamento. No entanto, como o retorno à Otan é uma medida polêmica dentro do próprio partido do governo, a União por um Movimento Popular (UMP), o primeiro-ministro submeteu-a ao voto de confiança.

Por uma europeização da Otan

O principal argumento do presidente Sarkozy é que os militares franceses já participam de inúmeras operações da aliança, sendo portanto inconcebível que o país não tenha influência sobre o planejamento das missões.

O ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, refutou as críticas à medida, explicando que o afastamento da Otan ocorreu numa época em que havia tropas estrangeiras estacionadas na França e em que uma eventual guerra contra o bloco socialista inevitavelmente levaria a um confronto nuclear.

Para o ministro francês da Defesa, Hervé Morin, a reintegração da França possibilitaria uma europeização da Otan: quanto mais responsabilidade os europeus assumirem, mais chances eles têm de influenciar a orientação da aliança.

No entanto, Morin é contra uma "Otan global". O ingresso da Geórgia e da Ucrânia, favorecido por Washington, não poderá ocorrer sem a anuência da Rússia, advertiu o ministro francês. O premiê Fillon também reforçou essa posição: "A França e a Alemanha, sua parceira, acreditam na necessidade de respeitar a Rússia".

Perda da "distância que permite dizer não"

Para o líder da bancada socialista da Assembleia Nacional, Jean-Marc Ayrault, o retorno da França ao comando militar integrado da Otan rompe um consenso político de 43 anos. "Se reingressarmos", disse antes da votação, "mais uma vez serão os Estados Unidos a se manterem no comando das grandes questões militares e estratégicas". Para Ayrault, a França perderá a originalidade política que tinha até então: "Ainda nos lembramos da guerra no Iraque; na época, tínhamos razão, e isso nos trouxe muito prestígio".

O antigo ministro da Defesa socialista Jean-Pierre Chevénement afirma que a reintegração tem "um alcance político e simbólico muito grande, mas não mudará muito a influência da França". "A Otan é uma organização amplamente dependente das orientações da diplomacia americana. Não temos peso nenhum e ainda perdemos a distância que permite dizer não", acrescentou ele.

"Decisão corajosa"

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, já havia saudado a decisão de a França reingressar no comando militar integrado da Otan, após 43 anos de ausência. Merkel considera corajosa a atitude de Paris.

O ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Jung, acha a reintegração da França importante não só para a Otan, mas também para a Europa, "caso a União Européia continue se tornando uma estrutura sólida na política de defesa, a fim de poder atuar de forma eficiente em parceria com a aliança do Atlântico Norte".

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