quarta-feira, 1 de abril de 2009

Entrevista com o primeiro-minsitro do Líbano

A euronews entrevista Primeiro-ministro libanês numa altura decisiva. Dentro de dias acontece em Doha, a capital do Qatar, um encontro entre os países árabes. Por outro lado, no Líbano, decorre a campanha para as eleições parlamentares de 7 de Junho, decisiva para a história libanesa mas marcada por variáveis regionais e internacionais.

euronews: Dentro de alguns dias acontece em Doha no Qatar, a cimeira árabe. Depois do apelo do Rei da Arábia Saudita Abdallah a uma reconciliação dos países árabes, pensa que é realmente possível materializar-se esta reconciliação?

Fouad Siniora, Primeiro-ministro libanês: Qualquer acção que vise fortalecer as relações entre os árabes e apartar as discórdias entre eles, é benéfica para as suas causas. Porque não podemos enfrentar os desafios em relação à questão palestiniana e ao conflito israelo-árabe com uma posição dividida: especialmente quando temos à nossa frente um governo novo de falcões que sabem que o actual governo de pombas começou duas guerras sucessivas devastadoras no Líbano e em Gaza. Pergunto-me o que acontecerá com um governo de falcões.

euronews: Como vê a posição europeia em relação ao Líbano?

PM Fouad Siniora: A União europeia preocupa-se com a sua relação com o Líbano da mesma forma que o Líbano quer manter boas relações com a Europa devido ao lugar que o país ocupa e às relações que mantemos com os europeus através do Acordo de Associação.

euronews: Assistimos a uma abertura dos europeus e dos americanos em relação à Síria, teme que o Líbano pague, de uma forma ou de outra, com esta abertura?

PM Fouad Siniora: Pensamos que esta abertura à Síria é importante e apoiamo-la. Mas, ao mesmo tempo, queremos que a nossa relação com Damasco se baseie na confiança e no respeito mútuo. Por outras palavras, queremos uma relação de igual para igual. É preciso que haja vontade real para resolver as questões que estão em suspenso, que persistem há vários anos. É por isso, que pensamos que a mudança de tom da Europa e dos E.U.A. em relação à Síria não nos perturba, muito pelo contrário.

euronews: O que pensa em relação às acusações da maioria parlamentar de que está contra a Síria e que lhe atribuem um papel no assassinato do Primeiro-ministro Rafik Hariri?

PM Fouad Siniora: Não podemos, de forma nenhuma fazer acusações gratuitas. Devemos esperar as conclusões do tribunal encarregue da investigação. Confiamos nesse tribunal e ficaremos satisfeitos com as suas conclusões e decisões.

euronews: Acredita que esse tribunal irá julgar os verdadeiros culpados?

PM Fouad Siniora: Há dois objectivos principais: o primeiro é que possamos saber, finalmente, a verdade, saber quem cometeu este crime abominável, quem foi o assassino do Primeiro-ministro Hariri. O segundo objectivo também importante: É tentar descobrir o que sucedeu. Através do tribunal internacional, firmamos uma posição partilhada por todos os libaneses que não querem que o seu país continua e a ser teatro de crimes totalmente impunes.

euronews: Há quem afirme que o tribunal encarregue do inquérito ao assassinato do Primeiro-ministro Rafik Hariri está a ser instrumentalizado, que responde a isto?

PM Fouad Siniora: Comete-se um erro grosseiro quando se acusa o tribunal de ser instrumentalizado. Penso que este tribunal vai cumprir a sua missão e o mundo inteiro supervisiona o processo. As sessões são públicas por isso ninguém pode instrumentalizar ou desviar o tribunal do objectivo a que se propõe.

euronews: Como vê a relação entre Beirute e Damasco e até que ponto a Revolução do país do Cedro pode conter a hegemonia da Síria sobre o Líbano?

PM Fouad Siniora: O Líbano é um país árabe e a Síria é um país irmão, temos que manter uma relação sã entre nós. Muito já foi alcançado, nos anos passados, e o Líbano continua a afirmar a sua soberania sem se desvincular do mundo árabe.

euronews: Sabemos que o apoio do Irão ao Líbano passa pelo Hezbollah, como vê o papel de Teerão no seu país?

PM Fouad Siniora: Os árabes devem ter uma relação de igual para igual com o Irão. Não queremos interferir nos assuntos internos do Irão e, ao mesmo tempo, não queremos que o Irão interfira nos nossos assuntos. Temos uma responsabilidade e o Irão tem uma ainda maior, a de conseguir que as nossas relações sejam entre estados e não entre um estado e uma organização. Parece-me que isso não é útil. Imagine que um país árabe tenta estabelecer uma relação com uma organização iraniana, qual será a atitude do Irão, aceitará? Penso que não.

euronews: A cimeira árabe de 2002 viu nascer a iniciativa que propõe terras pela paz. O que poderá acontecer a esta iniciativa com a chegada ao poder da direita e da extrema-direita a Israel?

PM Fouad Siniora: Esta iniciativa constitui uma aproximação vanguardista e civilizada para pôr fim à violência na região mas depende de Israel que, de qualquer maneira, nunca se mostrou muito entusiasmado com essa proposta. Até agora os governos de Israel não deram nenhum passo nesse sentido, nem as pombas nem os falcões.
É necessário que aproveitem esta ocasião para que esta iniciativa possa ganhar vida e avançar.

euronews: Em que é que a Finul contribuiu para dissuadir Israel e como vê as relações com o Hezbollah?

PM Fouad Siniora: As forças da Finul são bem-vindas ao Líbano e consideramos que têm um papel primordial na manutenção da paz e na protecção do país. E, em colaboração com o exército libanês, a Finul garante a segurança a sul do rio Litani. Da nossa parte, seguimos de perto todos os acontecimentos e queremos prestar homenagem a esta colaboração séria e construtiva entre o exército libanês e as forças da Finul.

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