domingo, 14 de dezembro de 2008

Principais atores no conflito do Camboja

As informações selecionadas a seguir, sobre o Camboja,  foram coletadas das análises de vários cientistas políticos, sendo os principais David Chandler, Lao Mong Hay, Dylan Hendrickson, Yos Hut Khemacaro. O resultado de suas pesquisas, até o ano de 1998, foi conjugado numa publicação da entidade Accord (An International Review of Peace Initiatives). O enfoque da Accord procurou ponderar os fatos e ações empreendidas no Camboja de forma abrangente, valorizando questões até então não vislumbradas por outros analistas, e que também não consistiram em foco de preocupação da ONU, até então. O Accord é uma instituição que busca analisar diferentes casos de resolução de conflitos, de forma neutra. Outras pesquisas também foram realizadas, a exemplo da crítica de David Ashley, em “The Failure of Conflict Resolution in Cambodia”, e dos documentos disponibilizados pela ONU em site oficial. Resumindo, tudo que vocês vêem aqui, é acessível e está disponível na internet.


"Partidos Políticos" ou Facções:

• Khmer Rouge

O Khmer Rouge surgiu como uma facção militar, formada do antigo Partido Comunista Cambojano, em 1951. Seu principal líder foi Pol Pot, morreu em 1998. De 1975 a 1979, a facção tomou o poder no Camboja, instituindo a “Democrática Kampuchea”. Este regime comunista foi responsável pela morte de aproximadamente um milhão de cambojanos. Depois de 1993, a facção perdeu sua força, embora continuasse a operar com estratégias de guerrilha, na selva, sem os mesmos propósitos defendidos em 1970.

• Partido do Povo Cambojano (CPP)
O CPP surgiu em 1979, decorrente do Estado socialista do Camboja (SoC), regime instituído com o apoio do Vietnã, após Golpe de Estado ao Governo da Kampuchea. O partido se firmou como uma das principais forças políticas dominantes no Camboja. A principal figura do partido é seu líder Hun Sen, ex-oficial do Khmer Rouge. 

• FUNCINPEC
A Frente Nacional Unida por um Camboja Independente, Neutro, Pacífico e Cooperativo (FUNCINPEC) surgiu como um movimento armado, promovido pelo Rei Sihanouk, em 1981. Em 1989, o Príncipe Ranariddh tomou a liderança da facção. A transformando em partido em 1992, ele obteve uma surpreendente vitória nas eleições de 1993, embora tivesse sido imediatamente forçado a conceder grande parte do poder ao CPP. O partido é apoiado pela elite de intelectuais do Camboja, principalmente por ex-exilados.

• Partido Sam Rainsy (SRP)
O SRP foi formado em 1995, originalmente sob o nome de KNP (Khmer Nation Party), pelo ex-Ministro das Finanças do FUNCINPEC, Sam Raisy. A vontade de seu líder de acabar com a corrupção do Governo, em 1993-95, fez com que ele fosse destituído de suas atividades, o levando a fundar o partido. O SRP possui uma linguagem populista, defendendo ainda vários princípios democráticos. Nas eleições de 1998, o SRP obteve 14% dos votos.

• Partido Liberal Budista (BLP) / Partido Son Sann
Os partidos surgiram de uma divisão do BLDP (Partido Liberal Budista Democrático), o qual teve participação na coalizão do governo pós-1993, sob a denominação de KPLNF (Frente de Libertação Nacional do Povo Cambojano). Nenhum dos dois partidos obteve assentos na eleição de 1998.

Grupos civis e pró-democráticos:

 Associações budistas

Várias associações budistas, com orientação política, surgiram a partir de 1998. Entre elas estão a “Coalisão para a Paz e a Reconciliação” e o Centro Dhammayitra para a Paz e a Não Violência. Tais organizações têm tido grande influência com a população mais carente, uma vez que empreendem várias atividades em prol da paz e da democracia. O “Fórum para a Paz através do Amor e da Compaixão” é organizado periodicamente para promover a troca de experiências entre ONG’s, a fim de articular esforços para encontrar respostas para o conflito.
Organizações não-governamentais

Grupos de defesa pelos direitos humanos como a Associação para os Direitos Humanos no Camboja (ADHOC), a Liga Cambojana para a Promoção e Defesa pelos Direitos Humanos (LICAHDO), o Instituto Khmer pela Democracia (KID) e o Instituto Cambojano pelos Direitos Humanos (CIHR) têm assistido a ONU no monitoramento e investigação de abusos aos direitos humanos, particularmente após o Golpe de Julho de 1997. O Comitê de Ação pelos Direitos Humanos constitui uma federação de 15 membros, responsáveis ativamente pelo monitoramento de abusos. Outra instituição igualmente importante é o Ponleu Khmer, formada em 1993 para monitorar e contribuir com o debate em torno da Constituição e os esforços para promover um Estado de Direito no Camboja.

Forças de Segurança:

 Forças Armadas Reais Cambojanas (RCAF)

O RCAF foi formado em 1993 para unir forças militares do FUNCINPEC e KPNLF às antigas forças armadas do Camboja (composta por integrantes do CPP). No entanto, com a falência da UNTAC com a desmobilização, ela permanece desproporcional às necessidades do Estado. A reforma do exército acabou por se tornar um assunto sensível entre 1993-97, fazendo com que um amplo sistema de forças militares, milícias e forças “especiais” de polícia continuassem em operação, respondendo diretamente ao CPP. 

Organizações inter-governamentais:

 ASEAN

O grupo regional ASEAN, formado em 1967, inclui dez nações do sudeste asiático. O grupo tem apoiado o Camboja em várias das suas iniciativas para resolver problemas internos, embora seus membros adotem uma política de não intervenção. 

 União Européia

A EU provê significativa assistência humanitária e em prol do desenvolvimento ao Camboja, embora seu representante local não lide diretamente com o Governo cambojano em suas questões políticas. A maioria dos países membros da União Européia prefere não assumir responsabilidades quanto a ajuda política, o fazendo somente por meio das resoluções votadas na ONU.

 FMI / Banco Mundial

As instituições financeiras internacionais focam seus projetos de auxílio na reforma da contabilidade nacional e das instituições do Estado, buscando desenvolver uma maior liberalização da economia cambojana.

 Organização das Nações Unidas

A ONU assumiu papéis diversos no conflito do Camboja, atuando como mediadora entre as facções militares na década de 80, auxiliando a implementação dos Acordos de Paris, em 1991, e assumindo responsabilidades do Estado, com a criação da UNTAC (United Nations Transitional Authority in Camboja), até as eleições de 1993. Com o fim da missão de peacebuilding, a Organização diminuiu sua influência no país, passando a atuar por meio dos projetos do PNUD (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas), da UNHCHR (Alto Comissariado da ONU pelos Direitos Humanos) e do SRSG (representante especial do secretário geral da ONU no Camboja). 


Site da publicação da Accord: http://www.c-r.org/accord/cam/.

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