quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Carvão vegetal seqüestra 16 toneladas de CO2

Ambientalistas ainda não conseguem fazer projeções sobre o que vai representar a crise mundial para as emissões de gases que causam o aquecimento global. Se, por um lado, queda na economia pode significar redução nas emissões, via produção menor, por outro, há o risco de a busca por custos menores representar também a opção por fontes mais poluentes de energia, por exemplo, por serem mais baratas. O equilíbrio para países emergentes como o Brasil poderia vir da opção pela produção limpa, subsidiada por recursos advindos, por exemplo, de créditos de carbono.

Um estudo do professor Omar Campos Ferreira, anterior à crise financeira mundial, mas muito atual, é o exemplo que pode ser seguido, ao comparar as emissões de gases-estufa na siderurgia com uso de carvão vegetal, mais caro, mas altamente benéfico ao meio ambiente, e carvão mineral, mais barato, porém com graves danos, por não ser fonte renovável de energia e porque contribui muito para as mudanças climáticas.

"Há informações de que a cidade mineira de Sete Lagoas reduziu em 90% a produção de ferro-gusa, por causa da crise que atingiu fortemente a indústria siderúrgica", informa Ferreira, aposentado pela engenharia nuclear da Universidade Federal de Minas Gerais e hoje professor a PUC-MG. O carvão é componente básico na fabricação de gusa e a dúvida é se, diante de dificuldades financeiras, essas siderúrgicas vão escolher o carvão mineral como insumo. Hoje, calcula Ferreira, a produção se faz meio a meio, com queima do carvão vegetal e mineral.

No trabalho, Ferreira informa que enquanto o coque (carvão mineral) emite, desde sua extração até a queima nos fornos siderúrgicos, 1,65 tonelada de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, e fixa 1,53 tonelada oxigênio por tonelada de aço produzida, o carvão vegetal seqüestra 16,33 toneladas de CO2 e regenera a mesma quantidade de oxigênio por tonelada de aço. Adicionalmente, afirma, a rota do coque ainda libera 7 quilos de óxido de enxofre (SO2), emissão praticamente inexistente na rota do carvão vegetal.

O carvão vegetal a ser usado é o de florestas plantadas de eucalipto que, com cortes em 7, 14 e 21 anos, "sem necessidade de replantio (rebrota), mantém-se um estoque permanente de madeira em pé, enquanto perdura a produção da siderúrgica, correspondente aos 6 anos de crescimento da planta". Segundo o professor, as condições singulares do Brasil mostram que o País pode liderar "um movimento no sentido do estabelecimento do sistema de bônus pelo seqüestro de carbono¿.

O mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) previsto no Protocolo de Kyoto, acordo global para combater a emissão de gases de efeito estufa, contempla substituição de fontes de energia na produção siderúrgica, com a exigência de que o carvão vegetal tenha origem certificada, de florestas plantadas e não fruto de derrubada de matas nativas.

DiárioNet

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