segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

ONU inicía retorno de refugiados do Camboja

Sok Nang introduziu hoje seus quatro filhos á sua terra natal que eles nunca viram, Camboja.

No primeiro dia da ação das Nações Unidas de repatriar aproximadamente 370.000 refugiados cambojanos, Sr. Sok Nang e sua jovem família entraram em um comboio de ônibus na Tailândia essa manhã, e atravessaram a empoeirada estrada fronteiriça para o Camboja, 13 anos depois de o Sr. Sok Nang ter fugido para a Tailândia para escapar da guerra civil.

Eles estavam entre 527 refugiados Cambojanos -- alguns deles animados, alguns deles temerosos, poucos sem alguma forma de emoção forte -- que fizeram a jornada hoje de volta ao Camboja.

"Eu disse aos meus filhos que esse é o Camboja, essa é a casa deles", disse o Sr. Sok Nang, um impressor de 37 anos cujos 4 filhos nasceram em campos de refugiados na fronteira com a Tailândia. Até hoje, ele disse, seus filhos só podiam imaginar como esse lugar chamado Camboja poderia ser. No Centro de Recepção da ONU: "eu estou muito animado", disse a sua filha mais velha, Sok Mavvak, de 12 anos, que esperou ansiosamente esta tarde para o início da cerimônia de boas-vindas dos primeiros refugiados à Sisophon, uma pequena cidade no Camboja ocidental aonde a ONU construiu um centro de recepção para os cambojanos que retornavam.

"Agora", disse ela, "eu sou uma cambojana de verdade."

O programa de repatriação de 116 milhões de dólares está sendo supervisionado pela ONU como parte de um acordo de paz alcançado ano passado entre o governo cambojano instalado pelos vietnamitas e três grupos rebeldes que à muito desejavam derrubá-lo.

A guerra -- e com ela uma geração de derramamento de sangue e caos no Camboja -- supostamente está terminada, com todas as quatro facções depondo suas armas e começando o trabalho de reconstruir a sua nação. Mas mesmo quando os primeiros refugiados estavam indo para suas casas no Camboja hoje, haviam indícios de que o Governo central tinha iniciado uma nova grande ofensiva contra a mais poderosa facção rebelde, o Khmer Vermelho, o movimento apoiado pelos chineses responsável pela morte de mais de um milhão nos anos 70.

Depois de cumprimentar os refugiados em Sisophon, o Príncipe Norodom Sihanouk -- um membro do Conselho Nacional Supremo do Camboja, um grupo de coalizão com todas as quatro facções -- se encontrou com repórteres e disse que recentemente haviam acontecido "serios confrontos" ao norte de Phnom Penh, a capital do país.

Ele citou um oficial militar sênior enquanto dizia que "ainda hà uma espécie de pequena guerra" no Camboja. Havia sido dito que repetidas violações de acordos de cessar-fogo poderiam forçar a ONU a abandonar o programa de repatriação.

A luta contínua foi a razão da ansiedade encontrada entre os refugiados que se juntaram essa manhã em uma área festivamente decorada no campo de refugiados na fronteira da Tailândia conhecido como Site 2, casa de mais de 200.000 refugiados Cambojanos. Mas essa não era a única razão para tal ansiedade.
" Eu temo que nós vamos voltar pra casa, e as pessoas ainda estarão se matando", disse Nuon Chan, 27, que cuidava de seu bebê de seis semanas, Roeun Ra, enquanto esperava num banco de madeira por um sinal para embarcar no ônibus com o seu marido e seus outros dois filhos.
" Eu estou com medo de que, no Camboja, meus filhos vão pisar em minas terrestres ou contrair Malária", ela disse. "Existem tantas coisas para se preocupar".

Camboja está infestado com centenas de milhares, senão milhões, de minas terrestres plantadas nos campos pelo governo e pelos rebeldes durante a longa guerra civil, e a Malária é uma ameaça mortal e sempre presente em um país aonde quase não há cuidados médicos modernos.

Apesar disso, a Srta. Nuon Chan rapidamente disse: "Eu não quero ir para casa no Camboja, eu quero afastar a minha família do Khmer Vermelho".

Sua família ficou, por quatro anos, num campo de refugiados Tailandês conhecido como Site 8, que é administrado pelo Khmer Vermelho com a ajuda da ONU. Sua família terminou no Site 8 porque, disse ela, nós viramos para um lado quando deveríamos ter virado para o outro".

Ainda há 5 outros centros de recepção da ONU como o deSisophon, e em todos eles refugiados receberão kits com material de construção, incluíndo madeira para a construção de uma casa e materiais para necessidades caseiras, como cordas e baldes de plástico. Comida vai ser providenciada periodicamente por 18 meses.

Depois de alguns dias nos centros de recepção, os refugiados serão colocados novamente em ônibus ou caminhões e levados para as áreas do Camboja aonde eles pediram para serem colocados.

Hoje, os refugiados cruzavam a ponte separando a Tailândia e o Camboja, e foram recebidos por oficiais Cambojanos que carregavam buquês de orquídeas e presebtesm e portando as bandeiras vermelhas, azuis e douradas do Camboja.

Philip Shenon
The New York Times, 31 de março de 1992

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