sábado, 8 de novembro de 2008
Obama inspira Afro-brasileiros
Provavelmente nenhum grupo de pessoas está assistindo a ascenção de Barack Obama como o primeiro presidente negro dos EUA tão avidamente como os habitantes de Salvador, Brasil
Salvador, na costa nordeste do Brasil, é a terceira maior cidade do país, com aproximadamente 2,8 milhões de habitantes, dos quais 80% se definem como negros de raça mista.
A maioria dos habitantes da cidade são descendentes diretos da primeira leva de 4 milhões de escravos que foram trazidos para a cidade no século XVI da região da atual Nigéria.
Salvador foi o principal ponto de entrada de escravos do Brasil e foi a capital colonial até 1763, e até hoje mantêm um forte sentimento africano, com sua comida, música e cultura atraindo centenas de milhares de turistas todos os anos.
Condoleeza Rice, a primeira afro-americana a chegar a posição de secretária de estado dos EUA, visitou a cidade mais cedo esse ano, e um número cada vez maior de afro-americanos visitam Salvador para saber mais sobre suas raízes.
Candomblé, a religião original trazida da África, é ainda amplamente praticada, apesar do fato de que a maioria dos escravos terem sido forçados ao catolicismo.
A maioria das pessoas de lá dizem que a vitória de Obama vai afetar a vida das crianças da cidade de várias maneiras, mas não apenas porque ele é negro.
"Obama não é presidente porque ele é negro. Ele é presidente por causa do poder de suas propostas", disse Cesar Souza, que ensina dança africana em uma escola para crianças carentes.
"E isso é um exemplo para cada criança negra das áreas pobres do mundo de que ele ou ela podem crescer e ir para uma escola, uma universidade, e ter objetivos. Essas crianças assistirão Obama na televisão e ficarão curiosas. Ele então será uma referência positiva para as pessoas no Brasil - especialmente as crianças negras."
Esperanças políticas
Salvador é a capital do estado da Bahia, uma região particularmente pobre aonde a disparidade de renda é drástica e o poder político está consolidado nas mãos de uma elite não-negra.
De acordo com as estatísticas oficiais, 40 por cento da população vivem com um ou menos de um salário mínimo, enquanto menos de 1 por cento ganham mais de 20 salários mínimos.
Nenhum dos membros da elite política de salvador são negros, então muitos lá vêem Obama como um modelo para obter poder político.
"Em Salvador, mais de 80 por cento da população é negra, e nós vivemos nas piores condições", disse Marcos Rezende, um jovem líder comunitário que estava assistindo os resuldatos das eleições dos EUA junto com dezenas de outros na televisão, na terça-feira.
"A vitória de Barack Obama tem uma imensa importância para nós, porque todos os nossos candidatos negros locais sempre perdem as eleições".
O Brasil nunca teve um presidente negro, apesar do fato de que 47% de seus 190 milhões de habitantes se considerarem negros ou de raça mista.
"Obama não só vai influenciar os EUA, ele vai influenciar a política ao redor do mundo - e especialmente aqui no Brasil", disse Lindinalva de Paula, que também estava assistindo os resultados da terça á noite na televisão local.
"Para a comunidade negra daqui, isso representa um avanço para cada um de nós, e nos faz pensar seriamente na possibilidade do Brasil de se ter um presidente negro".
No dia 20 de Novembro, o Brasil vai comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra - e pelo menos em Salvador - devido ao novo presidente dos EUA - esse dia vai levar um pouco mais de significado.
"Crianças negras que não entendem política agora vêem Obama como presidente na TV e percebem que alguém da sua cor é presidente do país mais poderoso do mundo", diz Rezende.
"Essas crianças dirão, 'eu quero fazer isso também. Eu posso fazê-lo. Eu espero ser o presidente do Brasil.'"
Gabriel Elizondo, Salvador, Brasil
7 de Novembro de 2008
Fonte: Al Jazeera English
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