Em Serra Leoa, durante a guerra civil, os dois principais grupos rebeldes raptaram meninas, algumas com apenas sete anos, forçando-as à escravidão sexual.
Muitas destas meninas ficaram traumatizadas e têm medo de admitir o que lhes aconteceu ou não têm acesso aos programas de ajuda. Mas aos poucos continuam a contar as suas histórias.
Agora, com 12 anos de idade, uma jovem, que prefere que lhe chamem Aminatta, começou a receber aconselhamento para as vítimas de violação sexual por parte de um gangue. Ela diz que uma amiga lhe falou do centro, na cidade de Makeni, dirigida pela organização não-governamental Ação para as Crianças em Conflito. Esta agência oferece conselhos médicos e legais às crianças vítimas de abusos sexuais.
“Eu tinha cerca de 10 anos quando fui violada pelo meu irmão e um grupo de quatro rapazes mais velhos. Mais tarde, quando ouvi falar deste centro, decidi vir até cá e contar o que me aconteceu. Desde então eles têm-me aconselhado.”
Aminatta não vê o irmão desde a violação, e diz que ele fazia parte dos Rebeldes da Frente Revolucionária Unida, apesar de na altura da violação ele não ser muito mais velho que ela.
Os grupos rebeldes recrutavam crianças soldados, injectando-lhes drogas para eles combaterem melhor. A violência sexual era usada como uma arma, e os familiares eram forçados a verem as suas filhas e mulheres serem violadas, ou eram eles mesmos forçados a violá-las.
Ainda hoje se continuam a registar ataques sexuais na Serra Leoa.
O responsável pela proteção da UNICEF, Donald Shaw estima que ocorram por ano cerca de três mil casos de abuso sexual, na sua maior parte cometidos por familiares ou amigos. Mas, Shaw acredita que a violência sexual que se registou durante a guerra faz com que as pessoas agora falem contra isso.
Segundo ele a violação sexual indiscriminada de crianças levou a que as pessoas vejam o horror do ato.
Através de campanhas, organizações como a UNICEF estão a consciencializar as pessoas para o abuso sexual na sociedade e mais vítimas começam a quebrar os tabus sociais e começam a falar sobre o abuso.
Um conselheiro para casos de violação sexual do grupo Action for Children in Conflict, Sadama Michaels, diz que a organização começou a oferecer apoio legal gratuito a crianças que queiram levar o seu caso a tribunal.
“Temos alguém que é advogado e não deixamos que estes casos fiquem assim. Queremos dizer aos pais que quando estas coisas acontecem não devem manter em segredo, deixem que se saiba para que se possam levar os responsáveis perante a justiça.”
Recentemente, um jovem ganhou o seu caso em tribunal, usando os serviços desta organização. Era um caso contra um vizinho a quem ela acusou de a ter violado sexualmente.
Apesar das leis sobre o abuso sexual na Serra Leoa não terem mudado, elas começam a ser usadas e as queixas das crianças são agora levadas a sério. Por forma a acomodar as vítimas, a polícia e os serviços sociais começaram a receber treino em como devem responder a casos de abuso sexual.
Mais informações sobre o conflito em Serra Leoa:http://www.terra.com.br/istoe/1598/internacional/1598idade.htm
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