sábado, 1 de novembro de 2008

Ministros europeus se reúnem com presidente do Congo

Os ministros do Exterior da França e da Grã-Bretanha, Bernard Kouchner e David Milliband, se reuniram neste sábado com o presidente congolês, Joseph Kabila, como parte dos esforços diplomáticos para por fim à crise na República Democrática do Congo.

Kouchner e Milliband pediram a implementação imediata dos existentes acordos de paz entre a República Democrática do Congo e a vizinha Ruanda, além do desarmamento das milícias lideradas pelo general Laurent Nkunda.

Os ministros estão a caminho de Goma, no leste do Congo, de onde dezenas de milhares de pessoas fugiram depois que as milícias tutsi se aproximaram.

Os soldados da milícia estão estacionados a 15km da cidade desde quarta-feira, depois de acertado um cessar-fogo, mas eles ameaçam invadir Goma, a não ser que tropas da ONU garantam a segurança.

Segundo o correspondente da BBC na região, Peter Greste, o cessar-fogo parece estar sendo respeitado ao redor de Goma, mas a situação dos refugiados está cada vez pior.

Há informações de que alguns estariam tentando voltar para casa, se deslocando a pé por territórios atualmente sob o controle das milícias lideradas pelo general Laurent Nkunda.
Encontro

O general Nkunda alega estar protegendo seu povo tutsi contra os hutus ligados ao genocídio de Ruanda, em 1994, que estariam baseados no leste da República Democrática do Congo e continuariam agredindo tutsis.

Cerca de 35 mil a 40 mil refugiados teriam ido a Goma para fugir dos conflitos, mas a ajuda humanitária tem demorado a chegar à cidade em meio às péssimas condições de segurança.

Na sexta-feira, os presidentes de Ruanda e da República Democrática do Congo concordaram em se encontrar para tentar resolver a crise entre o exército congolês e as tropas rebeldes de Nkunda, no leste do Congo.

O encontro entre o ruandês Paul Kagame e o congolês Joseph Kabila foi acertado depois de dois dias de negociações com o comissário de Desenvolvimento e Ajuda Humanitária da União Européia, Louis Michel.

As negociações, que vão contar com a presença de observadores das Nações Unidas e da União Africana, devem acontecer em Nairóbi, capital do Quênia, em uma data ainda não anunciada.

Um dos maiores desafios é tentar convencer o general Nkunda a se retirar das posições que conquistou recentemente.

O general, no entanto, ainda não foi convidado para o encontro, segundo informou Louis Michel à BBC.

O governo do Congo acusa Ruanda de apoiar o general Nkunda com tropas e artilharia pesada.
Ruanda nega essas acusações, apesar de ter invadido o Congo duas vezes nos últimos anos.

Campos incendiados

Apesar do cessar-fogo declarado por Nkunda na quarta-feira, situação no leste do Congo ainda é muito tensa.

Nesta sexta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) disse ter relatos confiáveis de que campos que abrigavam cerca de 50 mil deslocados no leste da República Democrática do Congo foram destruídos.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) disse estar preocupado com relatos sobre a destruição dos campos de Rutshuru, localizados a 90 quilômetros ao norte de Goma, capital da província de Kivu do Norte.

Segundo relatos, os campos foram evacuados à força, saqueados e depois incendiados.

"Havia cerca de 50 mil pessoas nesses campos", disse Ron Redmond, porta-voz do Acnur. "Não sabemos onde elas podem estar agora, estamos com medo de que simplesmente tenham se dispersado na floresta."

Deslocados

Calcula-se que 250 mil pessoas na região leste do Congo tenham fugido dos confrontos entre tropas do governo e rebeldes leais ao general Laurent Nkunda.

De acordo com o correspondente da BBC em Goma, a falta de comida e de água está levando milhares de refugiados a deixar a cidade em direção a Kibati, a cerca de 12 quilômetros ao norte.
Segundo Peter Greste, a estrada que sai de Goma está tomada por uma multidão de famílias que carregam todos os seus pertences nas costas.

"Toda a população de Goma e também das áreas em torno da cidade está extremamente insegura", disse Marcal Izard, porta-voz da Cruz Vermelha, à BBC.

Um agente humanitário congolês que trabalha em Goma, Godefroid Marhenge, contou à BBC
que alguns dos deslocados "precisam desesperadamente de ajuda humanitária".

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, já havia afirmado que a violência está criando uma crise de "dimensões catastróficas" no país.

Apesar de o general Nkunda ter dito na quinta-feira que abriria um "corredor humanitário" para que os refugiados em Goma pudessem voltar para suas casas, o correspondente da BBC afirma que muitas pessoas foram obrigadas a voltar para a cidade por medo de serem alvo de tiros.

De acordo com Greste, aqueles que conseguiram chegar a Kibati afirmaram ter mais chances de obter água e comida nas florestas ao redor da cidade do que em Goma.

A ONU mantém cerca de 17 mil homens no Congo, a maior missão de paz da organização no mundo. No entanto, o contingente não é suficiente para conter a crise.

Tanto rebeldes como tropas do governo são acusados de cometer atrocidades contra civis, principalmente estupros em massa.

Recursos minerais

As origens do atual conflito no leste da República Democrática do Congo remontam ao genocídio de membros da etnia tutsi por hutus em Ruanda, durante o ano de 1994.

Nkunda afirma que suas tropas lutam para defender a comunidade tutsi de ataques de rebeldes hutus de Ruanda, acusados de terem participado do genocídio.

O governo do Congo já prometeu repetidas vezes impedir que milícias hutus utilizem seu território, mas até agora não cumpriu a promessa.

O último prazo para cumprir essa medida expirou no final de agosto, exatamente quando os confrontos foram retomados.

Há inclusive denúncias de ligações do exército congolês com as guerrilhas hutus.

No entanto, alguns analistas afirmam que os confrontos poderiam ter outro motivo. O leste do Congo é rico em recursos naturais, como ouro, e a luta poderia ser pelo controle dessas riquezas.

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