segunda-feira, 11 de maio de 2009

Banco Mundial falha em um terço dos programas

A pressão de muitos países emergentes por uma reforma do Banco Mundial ganhou reforço extra. Relatório produzido por uma auditoria interna da instituição concluiu que um terço dos programas de ajuda do banco para garantir melhor qualidade de vida, saúde e educação no mundo na última década não funcionaram ou até pioraram a situação original.

70% dos programas de combate à aids do Banco Mundial não deram os resultados esperados. Pior: apenas metade do dinheiro gasto chega até as populações mais pobres.

Desde a eclosão da crise financeira, em 2008, países emergentes, como Brasil, Índia e China, vêm pressionando por alterações na forma que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) atuam. No centro do debate está a capacidade dos países emergentes de também influenciarem as decisões. Mas a aplicação de programas também é delicada.

A partir dos anos 90, o Banco Mundial decidiu adotar uma estratégia de atuar diretamente no setor social, como forma de lutar contra a pobreza. Mas, segundo a auditoria interna, US$ 6 bilhões em programas de luta contra a fome, saúde ou qualidade de vida foram simplesmente desperdiçados entre 1997 e 2008. No total, o Banco Mundial usou US$ 17 bilhões nesse período nas áreas sociais.

De acordo com a auditoria, falta de avaliação sobre os riscos, falta de monitoramento e falta de transparência no uso dos recursos são os principais problemas. A avaliação de programas seria praticamente inexistente.

Na África, apenas 27% dos programas implementados deram algum resultado satisfatório. Uma das conclusões do estudo foi apontar que parte substancial do dinheiro do Banco Mundial acaba beneficiando apenas os 20% mais ricos das populações dos países que receberam recursos. Os mais pobres, portanto, continuam excluídos dos benefícios.

O setor de saúde é o mais questionado. O alerta aponta que alguns dos programas acabaram enfraquecendo os sistemas públicos de saúde de governos, promovendo terceirização de algumas áreas. Sete de cada dez projetos financiados pelo Banco Mundial não chegaram aos resultados esperados no combate à aids. Na África, onde a epidemia afeta mais de 20 milhões de pessoas, 80% dos programas fracassaram.

Outro problema é que, nos últimos anos, a atenção especial dada à aids fez com que o volume de recursos para garantir a alimentação das populações despencasse. "Concordamos que, muitas vezes, nossos objetivos são ambiciosos demais dada a capacidade dos governos e a nossa própria", afirmou Julian Schweitzer, diretora de Saúde do Banco Mundial.

Mas a falta de controle do destino do dinheiro também é algo levantado pela auditoria. "A falta de controle levou os projetos a terem objetivos irrelevantes, metas irrealistas e são incapazes de saber se foram eficientes", diz a auditoria.

O Banco Mundial, assim como a auditoria, apontaram que parte da culpa também é dos governos que recebem os recursos. O relatório foi saudado pelas ONGs que há anos criticam o Banco Mundial por sua ineficiência. Para a Oxfam, está claro que o Banco Mundial, ao menos como está, não pode ser um ator principal na luta pela saúde.

Emma Seery, representante da Oxfam, afirmou que a conclusão da auditoria deve ser estudada por governos que querem transformar o Banco Mundial no centro de reformas do setor de saúde no mundo.

Rachel Baggaley, diretora do programa de aids da entidade Christian Aid, também é crítica em relação ao papel do Banco Mundial. "O relatório nos mostra que 82% dos projetos contra a aids do Banco Mundial na África não tiveram sucesso", afirmou.

Para ela, governos europeus devem parar de dar dinheiro aos programas sociais do Banco Mundial e destinar os recursos para outras instituicões, como o Fundo Global contra aids, malária e tuberculose.

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