quarta-feira, 6 de maio de 2009

China terá que provar que pode crescer sem destruir meio ambiente, dizem analistas

Rogerio Wasserman

Enviado especial da BBC Brasil a Pequim

Poluição durante as Olimpíadas de Pequim foi teste para autoridades chinesas A degradação ambiental foi um dos resultados do desenvolvimento acelerado da China desde a abertura econômica do país há 30 anos. Mas, para chegar a 2020 como liderança respeitada pelo, a China terá que provar ao resto do mundo que pode se desenvolver sem destruir o planeta.

O país se tornou recentemente o maior emissor mundial de dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global, ultrapassando os Estados Unidos.

O crescimento econômico também multiplicou a demanda do país por energia, grande parte dela altamente poluente. Hoje, a China é o maior consumidor de carvão, forma mais barata, mas também mais poluente, de obter energia.

Com isso, a China queima um quarto de todo o carvão no mundo, e depende dele para mais de dois terços de suas necessidades de energia.

O rápido crescimento também alterou hábitos chineses que terminavam preservando o meio ambiente. Hoje, nas cidades chinesas, as bicicletas perderam seu lugar como principal meio de transporte para os carros. Somente na capital do país, Pequim, a frota de veículos quase triplicou nos últimos dez anos, com mais de mil carros novos chegando às ruas a cada dia.

Alvo dos ambientalistas

Tudo isso fez do país um dos principais alvos dos ambientalistas em todo o mundo, que cobram da China a adoção de um modelo de desenvolvimento que leve em conta a proteção ambiental.

Um dos principais pontos de crítica à China é a relutância do país em se comprometer com metas obrigatórias para a redução de suas emissões de gases do efeito estufa.

Nas discussões para o chamado acordo internacional pós-Kyoto para o combate às mudanças climáticas, a China admite a adoção de metas obrigatórias, mas condiciona isso a metas mais rígidas aos países desenvolvidos.

"A China não é mais um país fechado. Para manter seu crescimento econômico e sua posição como um ator importante no cenário internacional, precisa reconhecer o que os outros países estão dizendo sobre a China", afirma Tom Wang, porta-voz da ONG Greenpeace em Pequim.

Wang diz que o direito dos países em desenvolvimento crescerem deve ser respeitado, mas contesta a noção de que os danos ambientais são inevitáveis em uma economia em expansão como a China.

Segundo ele, o país perde anualmente entre 3% e 5% de seu PIB com os custos provocados pelos danos ambientais.

Danos

Os próprios chineses são as maiores vítimas dos danos ambientais causados pelo desenvolvimento do país.

Segundo dados do Banco Mundial, a China tem hoje 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo. A cada ano, mais de 400 mil pessoas morrem em decorrência de doenças relacionadas à poluição.

Muitos dos rios do país estão poluídos por metais pesados, prejudicando o uso da água para irrigação ou contaminando a cadeia alimentar.

Cerca de um terço do território chinês é afetado pela chuva ácida provocada pela poluição, com um impacto direto na produção de alimentos.

O governo da China já começa a agir, principalmente por causa da ameaça que a degradação ambiental traz ao crescimento econômico do país.

As Olimpíadas de Pequim, no ano passado, serviram como uma grande vitrine para o governo chinês tentar mostrar ao mundo que está preocupado com o ambiente.

Todas as construções destinadas às competições contavam com itens como energia solar, mecanismos de captação da água da chuva e outras características "verdes".

Além disso, medidas como limitações às indústrias poluentes e um rodízio de carros que retirou de circulação metade da frota a cada dia, conseguiram o que parecia impossível: céu azul durante as duas semanas de competições.

As medidas adotadas durante as Olimpíadas, apesar de terem tido um alcance limitado, mostraram que o país é capaz de combater seus problemas ambientais se tiver vontade política.

Para o diretor do Banco Mundial na China, David Dollar, o país tem conseguido avanços nessa área, apesar de os problemas que enfrenta ainda serem sérios.

"Se tivéssemos esta conversa há um ano, diria que os problemas ambientais eram o maior desafio que a China enfrentava e a maior ameaça ao crescimento do país no longo prazo", diz.

"O que é menos conhecido, porém, é que tem havido muito progresso no campo ambiental nos últimos dez anos. A China é um dos poucos países do mundo que vem aumentando rapidamente sua cobertura florestal, tem conseguido reduzir a poluição do ar e também a poluição das águas", afirma Dollar.

Se o país conseguir realmente ampliar suas medidas de controle, alterar suas fontes de energia e conter suas emissões de poluentes, poderá até 2020 servir de exemplo para mostrar ao mundo que desenvolvimento econômico e proteção ambiental podem vir lado a lado.

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