Na polêmica envolvendo o retorno da França ao comando militar integrado da Otan, a Assembleia Nacional aprovou nesta terça-feira (17/03) moção de confiança ao governo do primeiro-ministro François Fillion. O governo obteve 329 votos a favor e 228 contra.
Perante a Assembleia Nacional, nesta terça-feira (17/03), o primeiro-ministro francês, François Fillon, refutou as acusações de que a reintegração da França implicaria uma perda de autonomia. Ele também anunciou a intenção de se empenhar pela reforma da Otan, a fim de garantir maior influência do país sobre as decisões estratégicas da aliança.
Em 1966, após ter se tornado uma potência atômica sob o presidente Charles de Gaulle, a França se afastou do comando integrado da Otan, a fim de se precaver do envolvimento em um eventual conflito nuclear durante a Guerra Fria. Hoje, o país participa de todas a operações militares e está representado em quase todos os grêmios da aliança.
Quarenta e três anos após o desligamento, o presidente Nicolas Sarkozy pretende reinserir o país no comando militar integrado. Isso será formalizado durante a próxima cúpula da Otan, a ser realizada em Estrasburgo e Kehl/Baden-Baden, em 3 e 4 de abril.
Do ponto de vista constitucional, a decisão não exigia aprovação do Parlamento. No entanto, como o retorno à Otan é uma medida polêmica dentro do próprio partido do governo, a União por um Movimento Popular (UMP), o primeiro-ministro submeteu-a ao voto de confiança.
Por uma europeização da Otan
O principal argumento do presidente Sarkozy é que os militares franceses já participam de inúmeras operações da aliança, sendo portanto inconcebível que o país não tenha influência sobre o planejamento das missões.
O ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, refutou as críticas à medida, explicando que o afastamento da Otan ocorreu numa época em que havia tropas estrangeiras estacionadas na França e em que uma eventual guerra contra o bloco socialista inevitavelmente levaria a um confronto nuclear.
Para o ministro francês da Defesa, Hervé Morin, a reintegração da França possibilitaria uma europeização da Otan: quanto mais responsabilidade os europeus assumirem, mais chances eles têm de influenciar a orientação da aliança.
No entanto, Morin é contra uma "Otan global". O ingresso da Geórgia e da Ucrânia, favorecido por Washington, não poderá ocorrer sem a anuência da Rússia, advertiu o ministro francês. O premiê Fillon também reforçou essa posição: "A França e a Alemanha, sua parceira, acreditam na necessidade de respeitar a Rússia".
Perda da "distância que permite dizer não"
Para o líder da bancada socialista da Assembleia Nacional, Jean-Marc Ayrault, o retorno da França ao comando militar integrado da Otan rompe um consenso político de 43 anos. "Se reingressarmos", disse antes da votação, "mais uma vez serão os Estados Unidos a se manterem no comando das grandes questões militares e estratégicas". Para Ayrault, a França perderá a originalidade política que tinha até então: "Ainda nos lembramos da guerra no Iraque; na época, tínhamos razão, e isso nos trouxe muito prestígio".
O antigo ministro da Defesa socialista Jean-Pierre Chevénement afirma que a reintegração tem "um alcance político e simbólico muito grande, mas não mudará muito a influência da França". "A Otan é uma organização amplamente dependente das orientações da diplomacia americana. Não temos peso nenhum e ainda perdemos a distância que permite dizer não", acrescentou ele.
"Decisão corajosa"
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, já havia saudado a decisão de a França reingressar no comando militar integrado da Otan, após 43 anos de ausência. Merkel considera corajosa a atitude de Paris.
O ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Jung, acha a reintegração da França importante não só para a Otan, mas também para a Europa, "caso a União Européia continue se tornando uma estrutura sólida na política de defesa, a fim de poder atuar de forma eficiente em parceria com a aliança do Atlântico Norte".
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