sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A Campanha da Rússia

CAAAAAAAALMA, eu sei que o Medvedev ganhou, eu sei que isso tudo faz parte do passado. Não é dessa campanha da Rússia que eu estou falando. Falo da invasão do Napoleão a Russia, em 1812. Essa Campanha foi gigantesca, perpetrada Franceses e seus aliados, sob o comando de Napoleão em 1812, e que teve grande impacto sobre o desenrolar das chamadas Guerras Napoleônicas. Afinal, as forças de invasão, ao final, foram reduzidas a 2% do seu contingente inicial.

Eu gosto muito desse tema porque uma das minhas músicas favoritas e meu nome não existiriam se essa campanha não existisse... Eu explico, mas primeiro, o que foi a campanha?

Ela começou na madrugada do dia 24 de junho de 1812, quando o grande exército napoleônico cruzou o Nemen e invadiu a Rússia sem avisos ou declarações formais de guerra, e a 17 de Agosto atacava Smolensk. A ação foi um golpe nos planos de Alexandre I, que desde maio vinha montando seu próprio grande exército. Incluindo cossacos e milícias populares, chegava-se à espantosa cifra de 900 mil homens. O problema é que essa massa militar estava sendo reunida na Moldávia, na Criméia, no Cáucaso, na Finlândia e em regiões do interior do império, longe demais do local de entrada do exército francês. Por isso, em junho de 1812 os russos só conseguiram colocar cerca de 280 mil homens e 934 canhões na fronteira ocidental.

Ao todo, eram três exércitos cuidando da fronteira. O 1° Exército, com 160 mil homens, combateria sob as ordens do general e ministro da guerra, Mikhail Bogdanovich Barclay de Tolly, posicionado em direção a São Petersburgo. O 2° Exército, de Pyotr Bagration, general e príncipe da Geórgia, tinha 62 mil homens e se fixara entre os rios Nemen e Bug, ao norte dos pântanos de Pripet. Já o Terceiro Exército, do general Pyotr Alexander Tormasov, tinha cerca de 58 mil homens e olhava para o sul, em direção a Kiev. Sem condições de contra-atacar, os russos começaram a se retirar para o interior da pátria-mãe. Era uma necessidade para oferecer combate aos invasores. Em 8 de julho, a Rússia saiu às ruas para ouvir um manifesto de Alexandre I que conclamava o povo a combater os franceses. As milícias populares vieram por causa do chamado, apoiado pela Igreja Ortodoxa. Cossacos, camponeses e até ciganos se alistaram aos milhares.

Mesmo assim, no dia 23 de julho o marechal Davout bloqueou a passagem do general Bagration em Mogilev (na atual Bielorrússia) e impediu sua reunião com Barclay e, por extensão, a reação russa. Os problemas, entretanto, já começavam a rondar a brigada francesa. Sem ter lutado nenhuma batalha decisiva, a grand armée havia sido reduzida em cerca de 2/3 por causa de fadiga,fome, deserção e morte. A vantagem, porém, continuava ao lado de Napoleão. No lado oposto, o czar reclamava da incompetência de Barclay em interromper o avanço francês e o substituiu pelo general Mikhail Illarionovich Kutuzov em 20 de agosto. Este, contudo, após tomar ciência da situação, continuou a estratégia de seu antecessor. Na época, ele disse o seguinte a seus homens: "Os franceses vieram para cá sozinhos e sozinhos voltarão". É preciso entender que essa retirada russa escondia um mecanismo perverso. Quanto mais os franceses avançavam, mais sofriam com a falta de comida e armamentos. Em paralelo, as fileiras de Alexandre I engordavam. Preocupado em conseguir suprimentos, Napoleão rumou para a capital russa, onde tinha a certeza de poder se reabastecer. Não foi bem o que aconteceu.


Kutuzov na Batalha de Borodino.


Em setembro, o general Kutuzov achou que chegara o momento de parar e lutar. Estacionou seus então 155 mil homens e 640 canhões na aldeia de Borodino, a menos de 150 km de Moscou. No dia 7 de setembro, às 6 horas da manhã, Napoleão deu início ao ataque com seus 135 mil homens e 587 canhões. O sangue jorrou até depois do pôr-do-sol. Foram cerca de 16 horas de confronto ininterrupto, transformando Borodino na maior batalha de um dia das Guerras Napoleônicas. Apesar de a vitória ter sido francesa, a armada de Napoleão amargou 58 mil mortos, incluindo 48 marechais. Os russos perderam quase metade de seu exército: 66 mil baixas, entre elas a do general Bagration. A demora na chegada do reforço e o massacre do dia anterior fizeram Kutuzov optar pela retirada. Enquanto Napoleão esperava a rendição do czar, o inimigo aumentava seus exércitos rapidamente.


O exército de Napoleão em Moscou.

Napoleão teve então de reavaliar as opções. Seu exército estava enfraquecido. As linhas de abastecimento foram cortadas. A rendição inimiga não dava mostras de acontecer. Após cinco semanas acampando sobre as cinzas da cidade, decidiu dar meia volta e iniciar o retorno à França em 19 de outubro. Junto aos soldados, seguiram uma lenta procissão de carroças carregadas de peles, prata, porcelana e seda — fruto de saques. Em 24 de outubro, 20 mil homens do marechal francês Delzons procuravam suprimentos em Maloyaroslavets, a 121 km de Moscou. Ao dar com os primeiros franceses, o general russo Kutuzov cometeu um erro. Acreditando se tratar de uma facção desgarrada, enviou apenas 12 mil homens para detê-la. Na Batalha de Maloyaroslavets, apesar da vitória tática de Napoleão, o imperador francês foi empurrado de volta ao caminho devastado usado na ida. No dia 4 de novembro, uma neve pesada começou a cair sobre os franceses desnutridos. No dia 9 de novembro, a temperatura caiu para cerca de -26°C e continuava baixando. O frio penetrava nas roupas esfarrapadas dos soldados e se somava à exaustão. Muitos mal conseguiam andar, quanto mais resistir aos constantes ataques dos cossacos liderados pelo chefe Matvey Ivanovich Platov. Quando essa multidão maltrapilha finalmente alcançou os suprimentos guardados em Smolensk, toda a disciplina militar desapareceu. Uma turba de soldados famélicos saqueou os armazéns e destruiu boa parte dos alimentos, que poderiam ter durado o inverno inteiro. Por volta do dia 16 de novembro, sob o frio de -32°C, a marcha tentava ir para casa.


O passo seguinte era atravessar o rio Berezina (na atual Bielorrússia). No dia 26 de novembro, os remanescentes da grande armée caíram numa armadilha. Pela frente os russos seguravam a ponte. Por trás pressionava o exército de Kutuzov. Em segredo, Napoleão enviou seu corpo de engenharia para construir uma ponte improvisada sobre o semicongelado Berezina. Quando os russos perceberam, abriram fogo. Cerca de 10 mil russos pereceram, contra 36 mil franceses, muitos dos quais só foram encontrados com o degelo da primavera. No dia 14 de dezembro de 1812, sob um frio de -38°C, apenas 10 mil homens conseguiram cruzar o rio Nemen de volta. A contagem das baixas do fracasso napoleônico: 550 mil homens mortos. No lado russo, 250 mil soldados efetivos e 50 mil entre milícias cossacas e populares. A campanha da Rússia mostrou que Napoleão não era invencível. Muitos países se rebelaram. Era o fim do sonho napoleônico de um domínio da Europa

Até 1941 a campanha era conhecida na Rússia sob o nome de Guerra Patriótica (em russo Отечественная война, Otechestvennaya Voyna). Atualmente, o termo russo Guerra Patriótica de 1812 a distingüe da Grande Guerra Patriótica, que designa a campanha levada à cabo pelos Soviéticos contra os Nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mais do que isso, essa vitória marcou profundamente a cultura Russa, tanto que Leon Tolstoi escreveu seu clássico "Guerra e Paz" como essa Guerra de pano de fundo. Além disso temos o famoso 1812 Overture de Tchaikovsky que também retrata esse momento.





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