segunda-feira, 1 de setembro de 2008

As Cruzadas

Antes de o filme começar...


No início do século XI a Europa vivia o auge do feudalismo, quando este começava a entrar em declínio. Superpopulação, a exploração feudal superior à capacidade de sobrevida material dos camponeses, somente os filhos mais velhos herdavam as posses dos pais nobres (os outros seguiam carreira sacerdotal ou partiam a aventuras – ou ambas) e estava isolada, cercada de inimigos ferozes.

As construções de castelos de pedra, com fossos cheios de animais perigosos, pontes levadiças, soldados em vigília permanente tinham sua razão de ser: ao Leste o perigo de invasões magiares, de hunos ou mongóis, em épocas diversas, era concreto. Ao Norte viviam os Vikings que, cruzando os rios europeus saqueavam o que lhes estava ao alcance. Ao Sul, o Mar Mediterrâneo se havia transformado num “lago muçulmano” no qual, durante muitos séculos, os cristãos não conseguiam fazer sequer uma tábua flutuar sem serem atacados.

Ensinava-se o significado de eternidade e ficávamos entre deslumbrados com sua imaginação e aterrorizados com uma idéia tão assustadora:

“Imagine uma bola de aço do tamanho do Sol. A cada mil anos uma pequenina mariposa se aproxima desta bola de aço e passa suavemente as asas uma vez sobre ela. Quando toda a bola de aço se consumir terá passado um segundo na vida da Eternidade”. É tempo!

A crença num castigo eterno num inferno de fogo é um dos dogmas inquestionáveis de toda a cristandade. Mas nesses tempos de relativismos e racionalismos, fica-se a pensar: Deus não é Amoroso, todo Bondade e Perdão? Onde a justiça de se castigar por um ato delituoso – mesmo que dure uma vida consideravelmente longa, aí de uns 80 anos – com a Eternidade em sofrimento sem remissão? Eu estudei catecismo, fui batizado e crismado na Igreja de São Judas Tadeu. Era repreendido por questionar determinados valores, pois “os desígnios de Deus são insondáveis”. Mas nunca me pareceu compatível com um Deus de Justiça essa história de inferno. Enfim, dogma é uma coisa que não se discute. Aceita-se ou se está sendo herege e, portanto, candidato à eternidade em condições nada auspiciosas, que Deus me proteja! Poder e democracia nunca foram compatíveis. A poderosíssima Igreja Católica Romana impõe valores. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. A Razão passa longe...



O que fazer com a população excedente e fundamentalista religiosa cristã?


Em 1095 o papa Urbano II, sensibilizado com a situação miserável do povo na Europa além das ameaças que se diziam pesar sobre os cristãos em peregrinação para a Palestina convocou uma Guerra aos Infiéis sob o mote repetido ad nauseam durante todo o período das Cruzadas: “Deus o quer! Deus o quer!” Foi prometida uma ampla indulgência e o caminho direto ao paraíso – não importam quais fossem os pecados – a todo o cristão que “tomasse a cruz” e fosse “libertar a Terra Santa”.

O fervor religioso era tamanho que o primeiro contingente de cristãos despreparados, liderados por um destes loucos sensacionais chamado de “Pedro, o Eremita”, foram à Palestina armados apenas com a sua fé e, naturalmente, foram massacrados ou escravizados pelos muçulmanos atacados em sua própria terra...

Os ânimos europeus se acirraram e uma Cruzada de Nobres foi convocada. Cavaleiros bem preparados e armados se dirigiram em contingentes gigantescos primeiro ao Egito e Chipre e, a seguir a um cerco direto a Jerusalém. Um comentarista da época relata entusiasmado o resultado final da vitória cristã sobre os muçulmanos em Jerusalém: “caminhava-se pelas ruas da cidade com sangue sarraceno até os joelhos”. O local onde fora construído o Templo de Salomão, transformado em Mesquita de Al-Aqsa, foi depredado e os sacerdotes passados todos a fio de espada (ainda hoje existem grupos muçulmanos que envergam o nome “Mártires de Al-Aqsa”, por sinal). O lugar era sagrado para os judeus pois tratava-se da Construção de um Templo cuja planta tinha sido divinamente inspirada; sagrado aos cristãos pois foi em Jerusalém que Jesus de Nazaré pregou, morreu supliciado na cruz e ressuscitou trazendo a seus seguidores o batismo com o Espírito Santo; sagrado para os muçulmanos porque se acredita que o profeta Maomé, o mais recente porta-voz de Deus na Terra, havia subido aos céus da Cúpula do Rochedo.

Três religiões que cultuam o mesmo Deus bíblico em confronto por detalhes de importância no mínimo discutível...


Começa o Filme


A ação se passa no final do século XII, época em que o sultão Saladino (de origem curda) reconquista a cidade de Jerusalém (1187), que os cristãos da Primeira Cruzada (1090) haviam tornado capital de seu Reino Latino .

No filme, o personagem principal, Balian, é um bastardo ferreiro francês, que se torna cavaleiro e barão de Ibelin (um feudo na "Terra Santa"), graças à inesperada visita de seu genitor, o nobre Godfrey de Ibelin. Após a morte do pai, ele viaja para Jerusalém e, no caminho, mata, em duelo singular, um experiente guerreiro muçulmano, apesar de só ter tido algumas poucas horas de treinamento no uso da espada. Em Jerusalém, Balian toma posse de seu feudo, torna-se amigo do rei-leproso, Baldwin IV, e do conselheiro real, Tiberias, conde de Trípoli, e ainda namora a bela Sybilla, esposa insatisfeita do prepotente Guy de Lusignan.

A verdade histórica é que Balian nunca foi ferreiro, nem precisou viajar para a Palestina, pois já estava lá, àquela época. Era um dos três filhos do barão Balian (e não Godfrey), e sua família (de origem francesa ou normando-siciliana) participava da Alta Corte do Reino Latino. Também não teve um caso com a princesa Sybilla, que era irmã do rei-leproso e mãe do herdeiro do trono, Baldwin V, (ainda criança e solenemente omitido no filme). Segundo o historiador árabe, Ali ibn al-Athir, Sybilla apaixonou-se "por um recém-chegado do Ocidente, um certo Guy [de Lusignan]. Ela o esposou e, com a morte prematura de Baldwin V, colocou a coroa na cabeça do marido".

No filme, o conde de Trípoli (Tiberias), que é o artífice da política de coexistência pacífica com o sultão Saladino, abandona Jerusalém quando Guy sobe ao trono e conduz os cristãos à desastrosa batalha de Hattin. Mas Ibn al-Athir nos exibe outra imagem do conde: "ele era muito ambicioso e desejava ardentemente tornar-se rei". Durante algum tempo, o conde (cujo nome real era Raymond) foi regente do rei-menino, Baldwin V, mas perdeu prestígio com a ascensão de Guy, o que lhe gerou tanto rancor que escreveu a Saladino oferecendo-lhe sua amizade, em troca do trono de Jerusalém. O máximo que conseguiu foi ter sua fuga para Trípoli garantida pelo sultão.

O grande vilão do filme é Reynald de Chatillon, Cavaleiro da Ordem dos Templários, responsável pelo ataque a uma caravana muçulmana, fato que levou ao rompimento da trégua construída por Baldwin IV, e conseqüente investida de Saladino contra Jerusalém. Após a batalha de Hattin, ele é aprisionado (juntamente com Guy) e morto pelo próprio sultão, sendo este um dos poucos pontos em que a realidade histórica e o filme de Scott não conflitam. Segundo o escritor Imadeddin al-Asfahami, conselheiro de Saladino, que assistiu ao fato, "a cabeça de Reynald foi cortada e o seu corpo arrastado diante do rei Guy, que começou a tremer".

Balian foi, realmente, o responsável pela defesa de Jerusalém, como mostra o filme. O cerco da cidade durou de 20 a 29 de setembro de 1187, e terminou com um acordo entre Balian e Saladino. No filme, o cristão entrega Jerusalém em troca de salvo-conduto gratuito para todos os seus habitantes, depois de ameaçar destruir os "lugares santos" da cidade. A verdade histórica é que, além disso, ele ameaçou matar todos os cinco mil muçulmanos que viviam em Jerusalém. Por outro lado, o acordo não saiu de graça: Saladino cobrou um resgate de cada pessoa a quem garantiu salvo-conduto.

O filme se encerra com Balian retornando à França, na companhia de Sybilla. A realidade é que ele partiu sozinho para Tiro, ao encontro de sua verdadeira esposa


Um comentário:

Anônimo disse...

Muitoo Obg vc me ajudou muito pois estava com garades duvidadas sobre o filme!!!!