domingo, 26 de outubro de 2008

Pacto Grã-Bretanha - Jaish al-Mahdi



O pacto britânico com o Jaish al-Mahdi














Escapou essa semana a notícia de que as forças de ocupação britânicas no Iraque haviam feito um pacto secreto com a milícia xiita Jaish al-Mahdi, do clérigo Muqtada as-Sadr, símbolo da resistência xiita à ocupação estrangeira, que manteve os soldados britânicos fora da área de combate de Al-Basra nas batalhas de março desse ano. A novidade comprovou a força da milícia no Iraque, que havia expulsado os britânicos da província em setembro de 2007.
O exército do governo-fantoche iraquiano coordenou em março deste ano a sua maior ofensiva até então: o ataque a Al-Basra, a segunda maior cidade iraquiana. A operação tinha a intenção de
“expulsar todos os membros da milícia Jaish al-Mahdi”, como afirmou na ocasião o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, que visitou a região pessoalmente para avaliar a ofensiva. Oficiais britânicos descreveram a operação como “planejada, liderada e executada por forças iraquianas”, negando que as forças estrangeiras, britânicas ou estadunidenses, estivessem envolvidas.


Mas essa história foi desmentida recentemente. O jornal inglês The Times confirmou que, ao contrário do que os militares haviam declarado em março, o que manteve os soldados britânicos fora de combate em Al-Basra foi um acordo secreto com a milícia Jaish al-Mahdi. O resultado das batalhas foi a derrota das tropas iraquianas
não somente em Al-Basra, mas também em Bagdá, Kut, Amarah, Nasiriyah e Diwaniya, capitais de quatro importantes províncias no sul do país.


O Ministério da Defesa do Reino Unido rejeitou a acusação do The Times, afirmando que o único motivo pelo qual as forças britânicas se mantiveram distantes das batalhas de Al-Basra, território que supostamente controlavam, era para que a ofensiva do governofantoche
iraquiano fosse reconhecida pelo povo iraquiano como uma missão nacionalista, sem apoio estrangeiro. Mas não demorou muito até que fontes da inteligência militar britânica confirmassem para a rede de notícias BBC que as conversas com o Jaish al-Mahdi
aconteciam há alguns anos, tempos antes da ofensiva de Al-Basra, contradizendo o próprio ministério e colocando as forças britânicas sob suspeita.


Ali al-Salman, comandante do Jaish al-Mahdi na província de Al-Basra, conversou pessoalmente com a BBC e confirmou que atendeu a reuniões com “oficiais militares britânicos e contratantes
civis” entre os dias 8 e 10 de fevereiro, pouco antes da ofensiva.
Salman detalhou o acordo conseguido com os britânicos, e afirmou que “ambos pareceriam vencedores”. Segundo ele, 60 prisioneiros do Jaish al-Mahdi detidos pelos britânicos foram libertados e oficiais militares prometeram que soldados britânicos não iriam mais
patrulhar as ruas de Al-Basra, deixando a região sob controle da milícia. Em troca, o Jaish al-Mahdi, responsável por cerca de 20% das baixas invasoras no Iraque desde a invasão em 2003, havia concordado em não atacar posições britânicas. Ali al-Salman foi capaz de detalhar fatos do acordo secreto, e ainda culpou os britânicos por “não cumprirem com seu papel” por terem, nos últimos dias de batalha, apoiado as forças do governo-fantoche na
ofensiva.


Pensamos que, se saíssemos da região, removeríamos a fonte dos nossos problemas. Mas na realidade, o Jaish al-Mahdi tem nos combatido porque nós somos o único obstáculo para que eles
tenham o controle total de Al-Basra”, afirmou. A região, que conta com o principal porto do país e é rica na produção de petróleo, era a única parte do Iraque que se mantinha sob controle de forças britânicas. Após a retirada em setembro de 2007, o Jaish al-Mahdi assumiu o controle da região. Na ocasião, generais do governo fantoche criticaram o Reino Unido, afirmando que teriam deixado a milícia xiita reinar em Al-Basra.


O Ministério da Defesa do Reino Unido continua a negar que o suposto acordo tenha acontecido. Apesar da retirada britânica de Al-Basra no ano passado, mais de 4 mil soldados permaneceram
ativos na base instalada no aeroporto local. Segundo Tom Holloway, porta-voz dos militares britânicos, “pelo menos 1800 soldados estavam prontos para combate” durante a ofensiva de março. É interessante então que nenhum deles interveio a favor das
forças iraquianas quando os mesmos se mostravam derrotados
.

Apesar das recentes afirmações do governo estadunidense de que a maioria das batalhas no país acontece “entre iraquianos” – um fraco argumento para tirar a responsabilidade do caos no país dos ombros da ocupação – fontes do governo iraquiano confirmaram que aproximadamente 90% dos ataques em Al-Basra eram mesmo contra as forças britânicas. Ao que tudo indica, os britânicos secretamente negociaram com o Jaish al-Mahdi para poupar seus próprios homens de mais baixas, e abandonaram o caos de Al-Basra para o frágil governo pró-ocupação imposto pelos Estados Unidos.




Autores:
Humam al-Hamzah
Zaid Muhammad



Fonte: Jornal Oriente médio Vivo - edição 117 - 20 de outubro de 2008

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