Após uma guerra civil, Phnom Penh foi dominada, O Khmer Rouge estabeleceu uma das mais brutais e radicais reformas da sociedade moderna. O plano era transformar um país para ser Maoísta, baseado no cooperativismo.
A primeira medida do Khmer Rouge no poder foi tirar todo mundo das cidades e enviá-los aos campos para trabalhos escravo, sem pagamento. Velhos, criancas e doentes eram obrigados a trabalhar na agricultura. Qualquer forma de revolta era vista como extremamente perigosa e as pessoas eram executadas ali mesmo. De novo, mais massacres.
A segunda medida foi abolir a moeda local. No Cambodia durante esse período não existiu moeda, e tudo era oferecido pela China, o big brother da época. Fecharam-se todas as fronteiras e comunicação com o resto do mundo; a única via de comunicação para fora era um voo semanal de Phnom Penh para Pequim ( hoje Beijing, China ). Aliás, hoje o Cambodia tem uma moeda oficial, mas curiosamente são somente notas; não existem moedinhas. Deve ser algo fruto dessa época.
As mudanças drásticas não pararam aí. A contagem do tempo e a data foram abolidas também, imagine só, o governo Khmer Rouge declarou que a partir de então aquele era o ano zero. Seria algo como o renascimento do Cambodia. Para o resto do mundo, aquele era o ano de 1970.
O Cambodia que um dia foi o maior império Asiático, com exército de milhares, tropas inteiras de elefantes e arquitetura refinada com seu auge em Angkor Wat (depois falamos disso) viu-se totalmente fora dos trilhos e sua sociedade começava a entrar em decadência. Interessante como apenas basta um líder para destruir uma nação.
Quem era o grande líder dessa revolução? Um senhor chamado Pol Pot.
Falar no nome Pol Pot por aqui no Cambodia, ainda é um tabu para a população. Se você for numa festinha ou estiver entre amigos tomando uma cerveja, falar 'pol pot' faz com que todos olhem para ti e um clima de medo e tristeza fica no ar. Todos aqui tem pelo menos um pai, uma mãe, um avô, um grande amigo ou filho que morreu durante essa terrível época. A ferida histórica é muito grande e a cicatriz ainda está aberta. Algo vivido de forma similar na Alemanha e seu passado com Hitler; Após 50 e tantos anos, somente no ano passado durante a copa de 2006 os Alemães finalmente puderam erguer sua bandeira nacional e cantar seu hino em público sem serem chamados de Nazistas.
E o mais interessante: Pol Pot durante anos nunca foi visto por ninguém. Ele não aparecia em público, o que alimentava ainda mais sua imagem mítica. Alto, forte, um fantasma, conseguia ler as mentes das pessoas...a lenda urbana em torno de seu poder apenas aumentava cada dia.
Ele tinha um ódio, aparentemente ainda não explicado, do Vietnam que fez com que virasse uma obsessao derrota-los em batalha.
Nessa dia de batalha, de novo mais guerras, o Vietnam derrotou o Khmer Rouge e destronou Pol Pot, que fugiu para a Tailandia. Passou os anos 80 montando uma guerrilha na selva, com apoio da China e (vejam só) dos Estados Unidos. Quem está na faixa dos 30 anos lembra o que era aquela época maluca da cortina de ferro e da guerra fria.
Várias vezes sua morte foi anunciada nos jornais e na TV, mas ninguém acreditava. Era algo como se fosse hoje anunciar a morte de Ossama Bin Laden. Finalmente quando seu corpo foi exposto na TV que houve essa certeza. Mas ainda hoje no cambodia há quem acredite que ele esteja vivo.
Não se sabe exatamente quantos morreram nas mãos desse governo durante 4 anos de dominio. Aparentemente 2 milhoes de pessoas, mas muitos morreram de cansaço e fome, não contabilizados.
Conversando com o rapaz que guia nosso tuk-tuk ele falou que o povo do cambodia vive como se fosse o último dia de vida deles, como se não houvesse amanhã. Para quem visita o Cambodia, pode achar estranho essa falta de compromisso com futuras gerações, com a natureza etc...mas depois que nós, antes de começarmos a julgar suas ações, aprendemos sobre sua história recente, as coisas começam a ficar mais claras.
Eles vivem como se não houvesse amanhã, porque na verdade, há apenas alguns anos realmente não existia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário