quarta-feira, 20 de maio de 2009

Expulsão de ONGs provoca temor de nova catástrofe humanitária em Darfur

CARTUM, Sudão, 6 Mar 2009 (AFP) - Mais de um milhão de pessoas podem passar fome no Sudão, com a morte de milhares, em consequência da expulsão de 13 organizações não governamentais (ONGs) de Darfur, advertiu a ONU.



"Com a saída das ONGs, e se o governo não reconsiderar sua posição, 1,1 milhão de pessoas ficarão sem comida, 1,5 milhão ficarão sem cuidados médicos e mais de um milhão sem água potável", explicou a porta-voz do gabinete de coordenação para Assuntos Humanitários da ONU, Elizabeth Byrs.



Pelo menos 13 organizações foram obrigadas a abandonar o Sudão depois que a Corte Penal Internacional (CPI) de Haia emitiu uma ordem de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade para o presidente sudanês, Omar al-Bashir.



A expulsão das ONGs de Darfur coloca em dúvida o envio de uma ajuda humanitária vital para as população desta região do oeste do Sudão em guerra civil. No total, 2,7 milhões de pessoas dependem da ajuda das organizações.



A Ação contra a Fome (ACF), que está entre as ONGs expulsas, afirmou nesta sexta-feira em Pari que as crianças atendidas por desnutrição aguda em Darfur "estão ameaçadas de morte".



"As crianças internadas atualmente em nossos centros de nutrição estão ameaçadas de morte", anunciou a ONG.



"A situação é difícil agora. Não sabemos o que acontecerá no futuro", declarou um dos refugiados de Darfur nesta sexta-feira.



"Sem ajuda e sem alimentos teremos grandes problemas", acrescentou à AFP no acampamento de Ardamat, que abrita 27.000 pessoas no oeste de Darfur.



Bashir voltou a criticar a ordem de prisão emitida contra ele e afirmou que em nada mudará a política do governo.



"A decisão da CPI não mudará os planos e programas do governo", declarou Bashir aos membros de seu partido e da oposição em uma reunião na quinta-feira, informa a agência oficial Suna.



"O governo continuará as gestões para a paz e organizará eleições livres e justas", completou o chefe de Estado, que pretende visitar no fim de semana Darfur, região devastada desde 2003 por uma guerra civil que já deixou 300.000 mortos segundo a ONU e 10.000 de acordo com Cartum.



"Apesar desta fachada de confiança, o regime está muito nervoso e há tensões no partido no poder", relata um diplomata que pediu para não ser identificado.



"Tomaram uma decisão muito severa em relação às ONGs", afirmou à AFP Fuad Hikmat, analista do International Crisis Group.



"Esta decisão não é nada mais que uma represália contra milhões de pessoas em Darfur", completa Georgette Gagnon, da Human Rights Watch.



Para Katherine Bragg, diretora adjunta das operações humanitárias da ONU, a decisão está em contradição com as garantias que a organização havia recebido.



Bashir, 65 anos, chegou ao poder em 1989 em um golpe de Estado militar. Em 2000 ganhou a eleição presidencial com 87% dos votos, em uma votação considerada uma farsa pela oposição.



Este ano deveriam ser celebradas novas eleições gerais, mas a data não foi determinada até o momento. Segundo vários analistas, Bashir vai concorrer a um novo mandato, apesar da ordem de prisão da CPI.

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