terça-feira, 4 de novembro de 2008

A lógica de morte estadunidense



“A guerra no Iraque não é coberta corretamente em função do irreprimível perigo que os jornalistas têm que enfrentar”, explica Liam Madden, um veterano da desastrosa ocupação do Iraque.
Segundo o oficial estadunidense, “existem muitas confusões nas cabeças das pessoas sobre a verdadeira natureza da ocupação militar”.

De fato, a mídia corporativa ocidental cumpriu bem o papel dela desde a invasão ao Afeganistão, em 2001, e mais tarde ao Iraque, em 2003, em fabricar contos e omitir realidades para a
escassa audiência no Ocidente. Quem sabe, então, não seja bom ouvir um pouco dos próprios veteranos que acordaram para essa realidade?
A cada dia aumenta o número de veteranos estadunidenses que retornam do Iraque e contam suas histórias. Não demorou muito para ficar claro que as brutalidades dos notórios crimes
estadunidenses de Guantánamo e Abu Ghraib e da série de estupros seguidos de homicídio de toda uma família em Al-Haditha não se tratam de “acidentes isolados”, mas sim da norma da
ocupação.

Esse é o caráter da invasão, e quem afirma isso são os próprios militares estadunidenses que lá estiveram: “Eu me esforcei muito para me sentir orgulhoso do meu trabalho, mas só consigo
sentir-me envergonhado”, disse Michael Prysner, um cabo veterano do exército estadunidense. “Contaram-nos que estávamos combatendo terroristas, mas o verdadeiro terrorista era eu mesmo, e o verdadeiro terrorismo é a ocupação do Iraque”, complementou Prysner.

De acordo com a organização “Política Exterior Justa” (Just Foreign Policy, nome original em inglês), um grupo estadunidense fundado em 2006 dedicado a “reformar a política externa dos Estados Unidos”, até às 19h de 29 de outubro de 2008, o número de iraquianos mortos desde a invasão do país em 2003 é de 1.273.378 pessoas, entre homens, mulheres e crianças.
Esses dados são adquiridos a partir das únicas fontes com credibilidade sobre o verdadeiro número de mortos em função da desastrosa ocupação do Iraque – os jornais The Lancet e Opinion Research Business. O estudo do conceituado periódico médico britânico The Lancet, a única análise científica realizada sobre o número de civis mortos no Iraque desde a invasão do país, publicado ainda em 2006, conta “pelo menos 655 mil civis iraquianos mortos como resultado direto da invasão e ocupação do país”. O outro estudo com confiabilidade, mais atualizado em termos de data, foi realizado pela organização britânica Opinion Research Business, que anunciou em setembro de 2007 que “cerca de 1,2 milhão de pessoas foram mortas como resultado da guerra”.
Esse mais de 1 milhão de vítimas, classificadas pela mídia ocidental como “dano colateral”, assusta se comparado com os números fabricados e fornecidos pelos militares estadunidenses. “O número verdadeiro de mortos é dez vezes maior do que as estimativas oficiais, e é baseado em estudos científicos conduzidos desde 2003”, explica o economista Mark Weisbrot, fundador do “Política Exterior Justa”. Ironicamente, muitos ainda conseguem afirmar que os Estados
Unidos foram ao Iraque para levar a “democracia e liberdade”.
Acontece que, até hoje, os iraquianos viram apenas miséria. “Os soldados vão perceber que eles têm mais em comum com o povo iraquiano do que com os bilionários que lhes enviaram ao Iraque”, diz o otimista cabo Michael Prysner. Aos poucos, espera-se que a verdade ficará clara para todos. Mas o povo do Ocidente, enganado diariamente pela mídia corporativa ocidental, aliada aos interesses comerciais daqueles que vandalizam qualquer moralidade, permanecerá iludido por algum tempo, enquanto inocentes são mortos a cada dia.


Fonte: Jornal Oriente Médio Vivo, edição 119


Humam al-Hamzah e Zaid Muhammad


3 de Novembro de 2008

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