sexta-feira, 24 de julho de 2009

Acordo mundial sobre clima só será possível com apoio da China, diz ONU

Michael Bristow

De Pequim para a BBC News

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, disse que não será possível um acordo para o combate às mudanças climáticas sem uma liderança forte vinda da China.

"Sem a China, não vai haver sucesso em se criar um novo parâmetro para o clima global", afirmou Ban em um discurso em Pequim, nesta sexta-feira, em referência às expectativas de que se chegue a um novo pacto para substituir o Protocolo de Kyoto, durante uma reunião da ONU prevista para ocorrer no fim deste ano em Copenhague.

O secretário, no entanto, também elogiou os esforços da China até agora para promover o crescimento econômico sustentável e desenvolver fontes de energia renováveis.

"A China já se tornou um líder mundial nas tecnologias solar e eólica", afirmou. "Agora, o país pode inaugurar um novo caminho para o mundo e criar um novo caminho para a prosperidade com a energia limpa."

Energias renováveis

Segundo Yang Fuqiang, especialista em mudanças climáticas da organização ambiental WWF International, a China é o maior emissor de dióxido de carbono do mundo.

"Se o país continuar operando como está hoje, a China vai ser responsável por 25% ou mais das emissões de gás carbônico do mundo até 2030", disse o especialista à BBC.

Mas Yang reconheceu que a China já está tentando cortar suas emissões desenvolvendo fontes renováveis de energia.

O país também está melhorando sua eficiência energética, desenvolvendo energia nuclear e trabalhando de maneira a capturar e armazenar poluentes.

"A China espera fazer com que 15% de sua energia provenha de fontes renováveis até 2020", disse o especialista.

Segundo a ONU, o setor de energia renovável movimenta US$ 17 bilhões e emprega quase 1 bilhão de pessoas na China.

Julgamento de Suu Kyi ouve argumentos finais

Advogados no julgamento da líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, retornaram a corte para começar a apresentar seus argumentos finais.

A ganhadora do prêmio Nobel de 64 anos pode enfrentar até 5 anos de prisão se ela for acusada de violar os termos de sua prisão domiciliar.

Depois de terem sido privados de acesso ni início da semana, seus advogados disseram que finalmente puderam visitá-la na Quinta-feira para que pudessem finalizar o caso.

"Nós estamos muito otimistas porque nossos argumentos estão apoiados em uma base legal sólida", disse o principal advogado de Suu Kyi, Kyi Win, a agência de notícias "Associated Press" após de uma reunião de duas horas e meia.

Ele também afirmou que "nós estamos com a lei do nosso lado, mas não sabemos se os juízes estão do nosso lado".

relatos afirmam que a segurança ao redor da prisão de Inseis, nas proximidades da ex-capital de Mianmar, estava reforçada com bloqueios de estrada e policiais guardando barricadas de arame-farpado.

A líder da oposição é acusada de violar os termos de sua detenção ao permitir um estadunidense não convidado, que secretamente nadou para a sua casa na beira do lado, para permanecer por dois dias.

O Americano, John Yettaw, também está sendo julgado juntamente com duas assistentes de Aung San Suu Kyi.

O grupo de advogados da líder da oposição ainda não contestou os fatos básicos do caso, mas eles argumentaram que as acusações que ela está enfrentando são ilegais, porque o governo militar a acusou por uma lei de uma constituição abolida a duas décadas.

Eles também afirmaram que os guardas que monitoram a casa e garantem que ela se mantenha lá dentro também são responsáveis por quaisquer intrusos na propriedade.

A corte deve entregar o veredito no próximo mês.


O julgamento, que já durou várias semanas, tem sido conduzido a portas fechadas, dentro da prisão de Insein.

Porém, para os argumentos finais dessa sexta-feira, diplomatas do Reino Unido, França, Alemanha, Noruega e Itália terão acesso a corte, relatou a "Associated Press".

A corte ouviu 14 testemunhas de acusação, mas somente permitiu que duas testemunhas de defesa comparecessem.

Pedido por libertação

Na Quinta-feira, a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, reiterou pedidos para o governo militar de Mianmar para libertar Aung Suu kyi e mais de 2000 outros prisioneiros políticos no país.

Clinton também pediu a membros da ASEAN para considerar a expulsão de Mianmar a não ser que ela seja libertada, mas a Tailândia, que atualmente é membro do bloco regional, rejeitou o pedido.

Aung San Suu kyi tem sido mantida em prisão domiciliar ou convencional por 14 dos últimos 19 anos.

Grupos de Direitos Humanos e oposicionistas classificaram as acusações contra ela como uma farsa feita pelos militares para mantê-la na prisão durante as eleições nacionais que, segundo eles, acontecerá no próximo ano.

Rights groups and opposition supporters have condemned the charges against her as a sham trumped up by the military to keep her in jail during national elections it has said will be held next year.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

GLOBAL: IPCC to help prepare for short-term climate extremes

JOHANNESBURG, 21 July 2009 (IRIN) - In a significant move, the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), an international body of climate change experts, is set to produce a "how to" manual for policy-makers and disaster officials on managing the risks of extreme weather events and bolstering resilience, to promote adaptation to global warming.

"Years of lobbying the IPCC have finally paid off," said Maarten van Aalst, leading climate specialist at the Climate Centre of the International Federation of the Red Cross and Red Crescent Societies (IFRC).

The IPCC has assessed the long-term impact of climate change. The panel has now acknowledged that measures and policies identified as adaptation in their previous reports had not taken into account the full range of activities that need to be undertaken to reduce the risks of extreme events and disasters.

The special IPCC report, Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation, will provide methods and tools to manage climate risks. It will also provide 25 case studies to show how extreme events and vulnerability interact to result in disasters, with lessons learnt from vulnerable countries such as Bangladesh in Southeast Asia, and others in Southern Africa.

The report is expected to be released in 2011.

Besides integrating adaptation and disaster risk reduction (DRR), which both "aim to reduce the impacts of shocks by anticipating risks and addressing vulnerabilities", van Aalst told IRIN, the IPCC's special report would help agencies like IFRC, which are trying to draw up plans to help communities prepare for extreme weather events, especially in areas where climate change forecasts are uncertain.

He cited IFRC's experience in West Africa, where various climate change projections have predicted increasingly uncertain rainfall. "As forecasts give only probabilities, not certainties", it leaves IFRC disaster managers like those based in Dakar, Senegal's capital, to make "judgement calls to utilize seasonal forecasts to apportion scarce resources".

Countries attending the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) conference in Bali, Indonesia, in 2007 recognised the relevance of disaster-risk reduction to advance adaptation.

The IPCC special report is a response to their calls for "enhanced action on risk management and risk reduction strategies, including risk transfer mechanisms such as insurance ... to lessen the impact of disasters on developing countries", said a scoping paper on the forthcoming report by IPCC officials.

Integrating disaster risk reduction and adaptation

"There is significant overlap between DRR and climate change adaptation. However, these agendas have evolved independently until now," wrote van Aalst in a paper he co-authored with Tom Mitchell, a researcher at the Climate Change and Development Centre of the UK-based Institute of Development Studies.


''Some of the world's least developed countries and small island states... view a distinction between adaptation and DRR as "problematic, given their experience of the increased magnitude and frequency of disasters impacting their countries''


DRR deals with the short-term changes in climate variables, such as temperature, but "can be the first-line defence against climate change" and become an essential part of adaptation, which has tended to focus on long-term impacts, van Aalst and Mitchell argued in their paper.

It is a point often made by the DRR community as well as some of the world's least developed countries and small island states, which view a distinction between adaptation and DRR as "problematic, given their experience of the increased magnitude and frequency of disasters impacting their countries".

These nations have regularly asked what "portion of disasters can be attributed to anthropogenic climate change [caused by man] compared to existing climatic variability?, said van Aalst and Mitchell.

In the IPCC scoping paper, the panel's officials acknowledged that reducing vulnerability to climatic variables could improve resilience to the increased hazards associated with climate change.

jk/he

Análise: Crise em Honduras reflete batalha ideológica na América Latina

BBC

Desde que Manuel Zelaya foi deposto da Presidência de Honduras pelos que se opunham ao seu plano de mudanças constitucionais, o país está em crise.

O conflito reflete uma batalha ideológica que está ocorrendo por toda a América Latina, segundo o professor de Política Comparativa e da América Latina na London School of Economics George Philip.

Na América Latina, assim como em outros lugares, os conflitos constitucionais costumam refletir batalhas pelo poder.

A crise em Honduras, que começou quando Zelaya tentou aprovar uma emenda à Constituição do país para permitir a reeleição presidencial, também parece seguir este padrão.

Para alguns, principalmente o presidente venezuelano Hugo Chávez, o conflito em Honduras é uma batalha entre esquerda e direita.

Segundo a interpretação do presidente venezuelano, a esquerda hondurenha liderada por Zelaya tenta estabelecer uma Presidência forte, capaz de liderar um processo de transformação política e social. Por outro lado, os conservadores como o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, querem um executivo mais fraco, sob controle do Congresso e do Judiciário.

O conflito a respeito do limite de mandatos presidenciais, apesar de este não ser o único fator para a inibição ou o reforço de uma Presidência forte, pelo menos reflete parcialmente esta diferença de ponto de vista.

Estados Unidos

De certa forma, os Estados Unidos têm uma perspectiva diferente.

O presidente Barack Obama está tentando mostrar que seu governo está comprometido com a governança democrática na América Latina, não importa quem esteja envolvido.

Ele tem evitado um duelo com Hugo Chávez, seja sobre Honduras ou qualquer outro assunto.

Para Obama, a questão mais importante é de legitimidade. Ele quer o governo dos Estados Unidos livre de sua reputação histórica de intimidação regional.

Barack Obama quer ser o promotor da democracia, não um intervencionista, além de um bom vizinho. Conflitos institucionais dentro da América Latina podem fazer com que este objetivo americano seja mais difícil de alcançar.

Reeleição proibida

A questão da reeleição presidencial recentemente ficou importante na América Latina.

Rafael Correa e Evo Morales
Rafael Correa, do Equador, e Evo Morales, da Bolívia, são vistos como aliados de Chávez

Apesar das histórias diferentes dos países da região, já ocorreram várias votações relativas, de forma direta ou indireta, à questão.

Historicamente a ideia de proibição da reeleição tinha como objetivo limitar as vantagens do mandato presidencial em países onde outras formas de responsabilidade política eram fracas.

Originalmente, os presidentes podiam fazer o que queriam, bastava ter o apoio necessário dos militares.

O lema da Revolução Mexicana - sufragio efectivo, no re-elección ("um voto efetivo e sem reeleição", em tradução livre) - era visto como democratizador.

Quando a democracia voltou a fincar raízes na América Latina no final dos anos 80, a maioria das Constituições dos países da região proibiu a reeleição imediata.

A década de 80 foi um período econômico ruim para a América Latina e poucos presidentes tinham chances de reeleição, portanto a questão foi colocada de lado. No entanto, na década de 90, quando a economia regional começou a se recuperar, a questão voltou a ser discutida.

Outros países

O presidente peruano Alberto Fujimori fechou o Congresso Nacional em 1992, organizou eleições para uma nova Assembleia Constituinte e aprovou uma nova constituição por plebiscito. Com isso, ele conseguiu um segundo mandato em 1995.

Mudanças constitucionais durante a década de 90 também permitiram um segundo mandato para a Presidência no Brasil e Argentina.

Na Colômbia, a Constituição foi mudada recentemente para permitir um segundo mandato consecutivo e o presidente Álvaro Uribe foi reconduzido ao poder.

Já na Venezuela, a questão da reeleição se tornou mais polarizadora desde a eleição de Hugo Chávez para a Presidência. Ele usou uma série de plebiscitos para mudar a Constituição do país.

A nova Constituição aumenta o mandato presidencial de cinco para seis anos e permite uma única reeleição. Ao ser reeleito em 2006, ele convocou um novo plebiscito para permitir o terceiro mandato.

Chávez foi derrotado na primeira votação em 2007. Ele então convocou uma votação sobre a mesma questão (com algumas mudanças) no início de 2009 e venceu.

Juan Peron
Juan Peron, da Argentina, foi substituído na presidência pela terceira mulher, Isabel

E este padrão, um presidente aprovando mudanças constitucionais para aumentar o poder da Presidência e permitir um segundo mandato (ou mais), também foi adotado pelos principais aliados de Chávez, o presidente Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, no Equador.

Agora, há a crise em Honduras e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, também pedindo mudanças na Constituição do país para permitir a reeleição.

Familiares

Pode parecer uma anomalia toda esta preocupação com a questão da reeleição na América Latina.

Afinal, existem formas de contornar a questão e uma delas é a eleição de um familiar do presidente.

Cristina Fernández de Kirchner foi eleita para a Presidência da Argentina em 2007, logo depois do fim do mandato de seu marido.

Outro presidente argentino, Juan Perón, foi substituído no cargo pela esposa, Isabel, depois de sua morte em 1974. Mas este mandato foi curto e desastroso.

No conflito particular de Honduras, existe o aspecto constitucional, mas a questão também pode ser vista como o conflito entre Chávez (e seus partidários) e os conservadores da região.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Talibã é fruto de vácuo de poder após anos de conflito no Afeganistão

Grupo islâmico radical surgiu em 1994 e tomou Cabul em 1996. Durante seu governo, direitos foram suprimidos, e o país se fechou.

Até os atentados de 11 de Setembro de 2001, quase ninguém tinha ouvido falar nos militantes islâmicos radicais do Talibã, em Osama bin Laden e no papel que eles ocupavam no Afeganistão. A tragédia americana voltou os olhos do mundo para a árida região montanhosa da Ásia central e seus protagonistas, que lutam há séculos pelo controle do país islâmico.

Mas, afinal, quem está por trás do Talibã? Como o grupo surgiu e por onde anda agora, depois da tomada do país pelas tropas americanas em 2001?

Em março deste ano, o presidente Barack Obama afirmou que o combate ao Talibã e à al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão passaria a ser prioridade dos EUA, tirando o foco da luta antiterrorismo do Iraque. Em julho, as tropas lideradas pelos EUA iniciaram uma grande ofensiva contra o movimento na província de Helmand.

Saiba mais sobre os radicais islâmicos que governaram o Afeganistão por cinco anos e que, segundo os norte-americanos, ainda são uma ameaça à segurança do Ocidente.

Histórico

O Talibã surgiu em um momento de lutas internas dentro do país. Voltando um pouco no tempo: o Afeganistão foi unificado em 1747 e foi motivo de briga entre os impérios britânico e russo até sua completa independência, em 1919. Após experimentar a democracia, um golpe em 1973 inaugurou um período de conflitos que dura até hoje no país. Em 1978, um contragolpe comunista estabeleceu a República Democrática do Afeganistão.

De olho no país, a ex-União Soviética invadiu o território no ano seguinte, com 30 mil homens e ajudou os comunistas numa luta ferrenha contra os rebeldes tribais muçulmanos. O número de soviéticos no país chegou a 115 mil, e, nessa época, muitos refugiados foram para o Paquistão e para o Irã.

As guerrilhas rebeldes, conhecidas como Mujahideen (‘santos guerreiros’), não estavam unidas, e de nada adiantava a ajuda em armas e dinheiro enviada pelos EUA aos guerreiros, que estavam concentrados em sua maioria no Paquistão.

A saída dos soviéticos ocorreu em 1989, mas as diferenças entre os grupos fizeram com que a guerra civil continuasse. Em 1992, os Mujahideen tomaram o poder, e um acordo permitiu a governança até 1994, quando a crise entre as diferentes facções guerreiras explodiu novamente.

Ao mesmo tempo, no sul do Afeganistão, surgiu um outro grupo militante, liderado por Mullah Mohammed Omar e que envolvia aprendizes do Islã sunita que pegavam em armas: o Talibã.

Ele logo conquistou as cidades de Kandahar e Charasiab.

“Após ter conquistado Kandahar, eles entenderam as misturas sociais e étnicas da região e tentaram manipular essas diferenças étnicas para seus ganhos políticos e militares. Eles davam recompensas a quem cooperava e puniam quem ia contra eles. [...] Usavam armas roubadas e ajuda externa militar na formação de seu exército”, escreveu Neamatollah Nojumi no livro "The rise of the Taliban in Afghanistan" (A ascensão do Talibã no Afeganistão, Inédito em português).

Com financiamento paquistanês, eles foram derrotados na primeira tentativa de conquistar Cabul, mas continuaram os bombardeios à cidade, tomando-a por completo em setembro de 1996 e impondo um governo islâmico radical no país.

Apogeu e convivência com a al-Qaeda

Num país assolado por anos seguidos de guerras, a rigidez do Talibã trouxe uma certa calmaria à região. A maioria dos líderes tribais havia sido derrotada, e seus líderes foram enforcados. A população foi desarmada, e as ruas foram desbloqueadas, facilitando o comércio.

O grupo aplicou no país uma interpretação rígida da Sharia, a lei islâmica. Logo as escolas de meninas foram fechadas, e as mulheres foram proibidas de deixar suas casas até para fazer compras. Fontes de entretenimento como música, TV e esportes também foram banidas.

Foto: Jean Claude-Chapon e Shah Marai/AFP
Na esquerda, foto de 1997 mostra uma das estátuas de Buda datadas dos séculos II e V, na província de Bamiyan. Eram os maiores monumentos do tipo, com cerca de 53 metros. Na foto da direita, de 2008, o local aparece sem o Buda, destruído em 2001 por ordem de Mullah Omar (Foto: Jean Claude-Chapon e Shah Marai/AFP)


A aproximação com o líder da rede terrorista da al-Qaeda, Osama bin Laden, não tardou. A princípio um opositor do Talibã, Bin Laden mudou de lado após um encontro com Mullah Mohammed Omar em 1996. Com o apoio de Omar, sua al-Qaeda estava segura para agir no Afeganistão.

“O Talibã teve inigualável sucesso, pois implementou uma teocracia austera e puritana às quais desejavam a al-Qaeda e outro grupos jihadistas. Apesar de só ser reconhecido por três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita), o minicalifado sob ordens de Mullah Omar reinou a vontade para realizar seus experimentos entre 1996 e 2001”, escreveu Abdel Bari Atwan no livro "Historia secreta da al-Qaeda".

Queda e dispersão

E o controle do território foi aumentando até que, pouco antes da invasão americana, em 2001, o Talibã controlava 90% do Afeganistão - embora nunca tenha sido reconhecido pela ONU. Aliás, os únicos países que reconheciam o governo eram a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Paquistão.

O fim da administração do Talibã no Afeganistão está vinculado aos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA. O presidente americano à época, George W. Bush, revidou com uma invasão ao país que dava abrigo à rede al-Qaeda, responsável pelos ataques. Paquistão e Arábia Saudita se tornaram aliados na luta ao terror, e os talibãs continuaram a sua luta armada, agora na clandestinidade.

A guerra destituiu os radicais e impôs um novo governo ao país. Até hoje, as tropas americanas lutam contra a insurgência que se divide em diferentes grupos opositores - entre eles, o Talibã.

Em outubro de 2007, uma reportagem do jornal "The New York Times" estimou que o grupo tinha 10 mil combatentes, embora apenas 3 mil fossem soldados exclusivos.

O Talibã que hoje luta no Paquistão foi organizado de maneira distinta que o grupo que atuou no Afeganistão, emergindo em 2002 após ataques do Exército a regiões tribais. Hoje, o Paquistão empenha sua máxima força na luta contra os talibãs no vale do Swat.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Zelaya dá como esgotado diálogo e anuncia 'insurreição'

Presidente deposto pediu endurecimento contra o governo de Micheletti. Manuel Zelaya disse que prepara sua volta a Honduras.

O presidente de Honduras deposto Manuel Zelaya deu como "esgotado" o diálogo para resolver a crise no país, anunciou o início de uma "insurreição" e pediu à comunidade internacional para "endurecer as medidas" contra o governo de Roberto Micheletti.

Em entrevista coletiva concedida na Embaixada de Honduras em Manágua nesta segunda-feira (20), na qual esteve acompanhado de seus delegados no diálogo na Costa Rica, Zelaya anunciou a organização de uma "frente interna" no país para "derrubar" os golpistas. Ele afirmou que o artigo 3 da Constituição hondurenha estabelece o direito à insurreição.

"Vou estar em Honduras e vou seguir fazendo tudo o que tiver que fazer (...) até que este grupo usurpador do poder tenha que se submeter às ordens que deu a comunidade internacional", enfatizou. Zelaya deu como "esgotado" o diálogo por causa do que considerou a "soberba" e "desrespeito" da delegação de Micheletti, que não aceitou uma proposta feita pelo presidente costarriquenho, Óscar Arias, mediador do conflito.

"Hoje os golpistas ignoraram mais uma vez a comunidade internacional, Óscar Arias e a própria secretária dos Estados Unidos, Hillary Clinton, promotora e patrocinadora" do diálogo, disse. Zelaya disse que o governo de Micheletti, ao qual definiu como um "grupo de elite extremamente conservador, com práticas fascistas", é visto pelo mundo como um "grupo intransigente", "desrespeitoso" e com uma "imensa soberba".

"Não vamos permitir o primeiro golpe de Estado no século XXI, até que derrubemos os usurpadores", insistiu. Zelaya considerou que a comunidade internacional está à prova, porque os golpistas "estão desafiando o mundo inteiro".

Ele pediu à comunidade internacional para "endurecer as medidas" contra o governo de Micheletti. "Se os Estados Unidos e outros países atuassem com mais forças, com mais dedicação, já do ponto de vista das atividades dos autores do golpe, este golpe não demoraria mais que poucas horas", disse o governante deposto.

Volta a Honduras

Zelaya pediu particularmente aos Estados Unidos para aplicar um "torniquete" às Forças Armadas hondurenhas, as quais, segundo disse, estão sustentando os golpistas. "Há um Exército sustentando (o governo de Micheletti), um Exército que, logicamente, nascendo das entranhas do povo, sua cúpula traiu o povo hondurenho", denunciou Zelaya.

O governante assegurou que as Forças Armadas hondurenhas têm uma "grande relação" com o Comando Sul dos Estados Unidos e com o Pentágono. "Eles têm um contato muito direto e acho que aplicar um torniquete nessa situação poderia resolver o que é o elo mais forte do golpe, porque estão mantendo esse golpe com repressão, com as armas, não com a vontade popular", disse Zelaya, que reafirmou que não renunciará ao cargo.

O presidente deposto revelou que, a partir da noite desta segunda-feira (20), começará a preparar sua volta a Honduras "com todos os mecanismos que disponibilizam as leis e o povo hondurenho", e que espera que nesta ação seja acompanhada pela imprensa internacional.

domingo, 19 de julho de 2009

EUA finalizam controvertida operação militar em base do Equador

Claudia Jardim

De Caracas para a BBC Brasil

Os Estados Unidos iniciaram a retirada militar da base de Manta, no Equador, com a realização de seu último voo antinarcóticos nesta sexta-feira, antes do fechamento definitivo da base instalada no país sul-americano.

Principal centro das operações dos EUA na região há pelo menos uma década, a concessão para a manutenção da base militar, instalada em 1999 no Estado de Manta, na região do Pacífico, não foi renovada pelo presidente equatoriano, Rafael Correa.

De acordo com o ministro equatoriano de Relações Exteriores, Fander Falconí, com o fim do convênio, "além de cumprir a Constituição", o governo "deixa as bases para que nenhum governo, por nenhuma razão, volte a conceder território nacional a forças militares estrangeiras".

A nova Constituição equatoriana proíbe a instalação de bases militares estrangeiras em seu território.

Para a base governista e organizações sociais que participaram da redação da Carta Magna, a base de Manta atendia aos interesses geopolíticos dos EUA na região, em especial na implementação do Plano Colômbia.

O fechamento da base foi uma das promessas de campanha do presidente equatoriano.

Nos próximos dias, os EUA darão início à retirada dos equipamentos militares e dos 450 soldados que servem na base. A saída definitiva está prevista para o mês de setembro.

A base possui capacidade para estacionar até oito aviões rastreadores de aeronaves e submarinos que são utilizados pelo narcotráfico.

A partir de Manta, as aeronaves americanas eram capazes de cobrir uma área de até 6,4 mil quilômetros quadrados que abrange parte do Pacífico, Peru e América Central.

Polêmica

A saída das forças americanas do Equador gerou outro foco de polêmica na região.

O governo colombiano e o norte-americano negociam um acordo militar que, se aprovado, permitirá a transferência das operações militares até agora realizadas em Manta para pelo menos três bases militares na Colômbia.

Se o acordo for aprovado, a Colômbia, principal aliado dos EUA na região, pode se converter no principal centro de operações militares americanas na América do Sul, fator que tem sido visto com preocupação tanto por alguns grupos políticos colombianos como por vizinhos críticos à política norte-americana, como Venezuela, Equador e Bolívia.

"Políticos latino-americanos que aceitam uma base militar norte-americana em qualquer país da América Latina são traidores de seu país, de sua pátria", afirmou o presidente boliviano, Evo Morales, na quinta-feira, em La Paz, em alusão às negociações do acordo militar entre Bogotá e Washington.

Nesta semana, o ministro de Defesa da Colômbia, general Freddy Padilla, por sua vez, afirmou que a cooperação militar tem como objetivo "a luta contra o narcotráfico e o terrorismo".

Ban busca melhorar sua imagem

Secretário-geral da ONU tenta superar a falta de carisma e se mostrar mais ativo nas principais crises do planeta

Jamil Chade

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, revelou há poucos dias ao Estado como se sente diante das críticas que vem recebendo. "Estou arrasado", disse Ban, que está há dois anos e meio à frente da ONU. Há um mês, a revista americana Foreign Policy classificou Ban como o "coreano mais perigoso do mundo". "Nunca, na minha vida, pensei que seria chamado de o homem mais perigoso do mundo", lamentou.

No entanto, a crítica da revista ao secretário-geral da ONU é apenas a ponta de um iceberg de avaliações negativas contra um diplomata considerado ausente, pouco carismático, com sérias dificuldades para se expressar em francês e inglês e recalcitrante em participar de algumas das piores crises do planeta.

"O secretário-geral é tão forte quanto queiram os membros da ONU", defendeu-se Ban. "É simplesmente impossível fazer mais sem apoio político. Preciso de mais apoio e recursos", disse o sul-coreano em uma conferência de imprensa há duas semanas.

Segundo essa lógica, a fraqueza não é do atual secretário-geral, mas da própria organização, incapaz de encarar todas as crises com um orçamento congelado há três anos e obrigada a manter mais de 100 mil capacetes azuis em operações de paz pelo mundo.

Para completar, a crise econômica está reduzindo as doações voluntárias. Apesar da chuva de críticas, Ban foi apontado como a segunda personalidade mundial que mais inspira confiança, de acordo com uma pesquisa de opinião feita há um mês pela empresa World Public Opinion. Entre 35% e 40% dos 20 mil entrevistados confiam em Ban. Contudo, 57% dos americanos, não. No Egito, a rejeição chega a 70%. Já na Coreia do Sul, seu país natal, a aprovação alcança 90%.

Desde o início do ano, a ONU começou a montar uma estratégia para reverter a imagem de um líder ausente que tem o sul-coreano - mesmo que ele insista em dizer que seu objetivo não é ser um "queridinho da mídia". Entrevistas foram agendadas com jornais e panfletos foram publicados e distribuídos com fotos e mensagens do secretário-geral.

A forma de atuar de Ban contrasta com a de seu antecessor, Kofi Annan, que chegou a ser chamado de "Papa Secular". Isso antes do escândalo envolvendo a corrupção de funcionários da ONU no comércio com o Iraque.

Ban insiste que ele não é um homem de retórica e não gosta de se autopromover junto à mídia. Ele garante, porém, que fala grosso quando está a sós com os líderes de todo o mundo. "Falo as coisas diretamente", disse.

Tradicionalmente, secretários-gerais da ONU são reeleitos para um segundo mandato. Entretanto, o sul-coreano prefere ainda não falar sobre isso. Vozes de dentro e de fora da organização dizem que a reeleição de Ban pode não vir. Ele mesmo já admitiu, em entrevistas recentes, que percebe as muitas avaliações negativas a seu respeito.

"Quando chegar o momento, espero que os membros da ONU julguem o que eu consegui", afirmou. "Trabalho como a voz daqueles que não tem voz e defendo aqueles sem defesa."

No entanto, o futuro de Ban dependerá especialmente de um entre os 192 membros da ONU: os EUA. Ainda não foi possível perceber uma sintonia entre Ban e o presidente americano, Barack Obama. Afinal, o sul-coreano é um secretário-geral que foi escolhido graças, em parte, ao amplo apoio do governo do ex-presidente George W. Bush.

Irã nomeia moderado para direção de setor de energia nuclear

Ali Akbar Salehi assume o cargo de chefe na Organização de Energia Atômica após 12 anos na ONU

Reuters

TEERÃ - O governo iraniano nomeou o ex-representante do Irã na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, Ali Akbar Salehi, para a chefia da Organização de Energia Atômica do país, informou a agência estatal de notícias nesta sexta-feira, 17.

Salehi, que renunciou ao cargo que ocupava há 12 anos na ONU, foi o escolhido para substituir Gholamreza Aghazadeh na direção da Organização de Energia Atômica em uma reunião do gabinete de governo na quinta-feira. Salehi atuou na AIEA durante o governo do ex-presidente reformista Mohammad Khatami.

A organização conduz um programa nuclear que provoca divergências entre o Irã e países do Ocidente, os quais temem que sua meta seja a produção de bombas atômicas. O governo iraniano diz que seu objetivo é o uso pacífico da energia nuclear, para produção de eletricidade.

Um parente de Salehi disse que ele foi convidado, mas não ficou claro de imediato se havia aceitado. A informação sobre a nomeação foi divulgada pela agência estatal de notícias Isna e outros órgãos da mídia local.

Salehi, um político de temperamento conciliador, é favorável à resolução da disputa nuclear entre o Irã e o Ocidente por meio de conversações, disse um analista. "A indicação de Salehi é um sinal positivo para o Ocidente. Salehi é uma pessoa sensata e de fala mansa, que tem a confiança da AIEA", disse um analista, que pediu para permanecer no anonimato.

O atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, descartou várias vezes ceder à pressão ocidental e suspender atividades nucleares que podem ter tanto uso civil como militar. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, é a figura mais poderosa do país e tem a última palavra em todos os assuntos de Estado, incluindo a questão nuclear.

Aghazadeh, que também era vice-presidente, anunciou sua renúncia na quinta-feira. Ele é um aliado do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, que apoiou o candidato oposicionista Mirhossein Mousavi, na controvertida eleição presidencial de 12 de junho, mas o noticiário de quinta-feira sobre sua renúncia não afirmou se a decisão estava ligada ao pleito.

Ahmadinejad foi reeleito em junho, mas Mousavi diz que a votação foi fraudada e o novo governo será ilegítimo. Ahmadinejad tomará posse em agosto. Ele já indicou que fará mudanças no gabinete de governo.

sábado, 18 de julho de 2009

Ex-presidente do Irã pede libertação de detidos em protestos

BBC

O ex-presidente iraniano Ali Rafsanjani pediu nesta sexta-feira em Teerã a libertação das pessoas que foram detidas nos protestos contra os resultados da última eleição presidencial, no mês passado.

Rafsanjani durante as orações desta sexta-feira
O sermão de Rafsanjani foi transmitido ao vivo pela rádio estatal

“Na situação atual não é necessário para nós ter pessoas nas prisões... deveríamos permitir que elas voltem à suas famílias”, disse ele, também um líder religioso islâmico, durante seu 1º sermão desde a eleição.

“Somos todos membros de uma família. Espero que, com este sermão, possamos atravessar esse período de crise.”

No sermão, transmitido ao vivo pela rádio estatal, Rafsanjani também pediu um debate franco na TV e no rádio sobre as eleições de junho e pediu para que as restrições nos meios de comunicação sejam amenizadas.

“Não é necessário pressionar a mídia. Devemos deixar que eles trabalhem livremente dentro da lei”, disse ele.

Simpatizantes da oposição estavam presentes no local e gritaram “liberdade’” durante o sermão. Muitos usaram vestimentas verdes, a cor da oposição.

O correspondente da BBC em Teerã John Leyne, que recebeu ordens de deixar o país no mês passado, disse que, neste sermão, Rafsanjani chegou perto de questionar a autoridade do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

Importância

Rafsanjani afirmou que um grande número de iranianos ainda duvida dos resultados e que algo precisa ser feito para trazer de volta a segurança a estes eleitores.

"Nosso problema é restaurar a confiança que levou o povo para a votação naquela escala (de alto comparecimento) e que foi manchada. Restaurar aquela confiança, este deve ser nosso objetivo sagrado", afirmou.

Rafsanjani é uma importante figura política no Irã e apoiou o candidato de oposição à Presidência, Mir Hossein Mousavi, que foi derrotado nas eleições do dia 12 de junho.

A reeleição de Ahmadinejad levou a uma série de acusações de fraude e a uma onda de protestos e choques nas ruas do Irã que persistiram durante dias e deixaram pelo menos 20 mortos e centenas de presos.

A mais importante figura política iraniana, o líder supremo aiatolá Ali Khamenei confirmou a vitória de Ahmadinejad e exigiu o fim dos protestos. Apesar disto, Mousavi continuou exigindo uma nova eleição e classificando o governo de ilegítimo.

Mais protestos

A polícia iraniana disparou gás lacrimogêneo para dispersar outra manifestação de partidários da oposição nesta sexta-feira, durante as orações na Universidade de Teerã.

As orações de sexta-feira na Universidade de Teerã costumam contar com a participação de milhares de pessoas. Normalmente são transmitidas para o país inteiro.

O correspondente da BBC afirmou que o fato de a televisão estatal não ter transmitido ao vivo o sermão de Rafsanjani demonstra que o governo está extremamente tenso a respeito de suas declarações. Foi a primeira vez em dois meses que ele comandou as orações.

Apesar de não ter se manifestado durante a onda de protestos depois das eleições, integrantes da família de Rafsanjani, incluindo sua filha Faezeh, apoiaram abertamente Mousavi.

De acordo com Jon Leyne, este pode ser um momento importante no confronto entre o governo de Ahmadinejad e membros da oposição.

O ministro do setor de Inteligência iraniano, Gholam Hossein Mohseni Ejehi, pediu na quinta-feira que o "sábio povo iraniano" fosse "vigilante para que as orações de sexta-feira não sejam transformadas em um palco para cenas indesejáveis".

Para EUA, volta de Zelaya 'põe em risco' mediação em Honduras

Chávez disse que líder deposto retorna ainda nesta sexta; Washington pede novamente tempo para diálogo


Hondurenhos realizam novos protestos pró-Zelaya em Tegucigalpa. Foto: AP

WASHINGTON - Os Estados Unidos se opuseram nesta sexta-feira, 17, a uma nova tentativa de volta a Honduras do presidente deposto José Manuel Zelaya, avaliando que a medida poderia pôr em risco os esforços de mediação liderados pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Mais cedo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que Zelaya estava pronto para retornar ao país "nas próximas horas."

Uma segunda tentativa de regresso de Zelaya "não seria de grande ajuda", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano Robert Wood. Ele acrescentou que o líder deposto "sabe a posição" de Washington e deve "se comprometer plenamente com esse processo (de mediação), dando-lhe tempo". Zelaya tentou voltar a Honduras há dez dias, uma semana depois de ter sido expulso do país pelas Forças Armadas. Na ocasião, as autoridades hondurenhas bloquearam a pista do aeroporto de Tegucigalpa e seu avião não conseguiu pousar.

Aliados de Zelaya disseram nesta sexta que as negociações que serão realizadas na Costa Rica entre o governo deposto e de facto no sábado podem ser a última chance de evitar um confronto, e talvez uma guerra civil. O presidente de facto, Roberto Micheletti, disse que Zelaya deve tentar entrar no país cruzando a fronteira florestal da Nicarágua com Honduras, mas o presidente deposto parecida ainda estar na capital nicaraguense nesta sexta-feira.

Zelaya declarou à televisão estatal venezuelana, na noite de quinta-feira, que as conversações do final de semana são um momento de esperança para uma solução, mas que estava se aprontando para retornar. "Estou preparando várias alternativas: por ar, terra e outros."

Em Honduras, cerca de 2 mil partidários do presidente deposto bloquearam duas estradas que ligam Tegucigalpa às costas caribenha e pacífica por várias horas nesta sexta-feira. A companhia aérea American Airlines suspendeu temporariamente dois de seus voos diários dos Estados Unidos para a capital hondurenha por causa da crise política, informou a porta-voz da empresa, Berna Osorto. A Continental e a Delta mantiveram seus voos.

OPÇÕES

Arias apresentou uma série de acordos possíveis para os dois lados, mas indicou que um pacto de compartilhamento de poder no qual Zelaya retornasse para concluir seu mandato com poderes limitados vai dominar as conversações. Arias disse que as discussões também vão abranger uma possibilidade de anistia para Zelaya.

A Suprema Corte emitiu um mandato de prisão para Zelaya antes do golpe, afirmando que sua tentativa de realizar um referendo para formar um assembleia constituinte era ilegal. Em vez disso, os militares decidiram enviá-lo ao exílio no dia 28 de junho, uma medida que os próprios advogados militares declararam ser ilegal, mas necessária.

Muitos hondurenhos viram o referendo como uma tentativa de Zelaya de implantar um sistema de governo socialista nos moldes de Chávez. Arias disse nesta sexta-feira que os dois lados tem "abrandado e eu acho que vamos encontrar mais flexibilidade". Na primeira rodada de conversações, os dois lados concordaram apenas em se reunirem novamente.

Micheletti disse à rádio colombiana RCN que seu governo está aberto ao diálogo, mas afirma que Zelaya cometeu crimes contra "a economia, a cidadania e contra a Constituição" e não pode ter permissão para voltar ao poder. Ele acusou Zelaya de "convocar um derramamento de sangue."

O líder de facto disse também que espera avançar com as eleições como uma fora de sair da crise. Ele afirmou que ele deixaria o cargo "se o senhor Zelaya parar de incitar um movimento revolucionário no país e parar de tentar voltar para cá."

Se nenhum acordo for alcançado, a ministra ao Exterior do governo Zelaya, Patricia Rodas, disse que vai voltar para Honduras e instalar um governo paralelo "para dirigir o que eu chamarei de batalha final". Ela não deu mais explicações. O prazo final dado por Zelaya para que os líderes do golpe deixem o governo - domingo - coincide com o 30º aniversário da revolução sandinista de 19 e julho de 1979, que depôs o ditador Anastasio Somoza.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Repórteres Sem Fronteiras acusa Irã de prender fotógrafos

REUTERS

PARIS - O Irã prendeu ao menos sete fotógrafos desde a contestada eleição presidencial, com a maioria das prisões ocorrendo há menos de uma semana, informou nesta sexta-feira a ONG Repórteres Sem Fronteiras.

Imagens de manifestantes sujos de sangue revelaram o drama dos conflitos provocados pelo resultado da eleição presidencial no mês passado, além de um vídeo exibindo a morte de uma jovem iraniana, Neda Agha-Soltan, que se tornou um ícone dos protestos da oposição.

"O regime de Teerã está assustado com as imagens. As autoridades lançaram uma caça aos repórteres fotográficos de modo que nenhuma foto ou vídeo profissional de assuntos sensíveis saia do país", informou a organização com sede em Paris em um comunicado.

O Irã reprimiu os protestos e no início de julho disse que a maioria das pessoas presas durante as manifestações já tinha sido solta.

O Repórteres Sem Fronteiras, uma organização que luta pela liberdade de imprensa, disse que cinco fotógrafos estão detidos há menos de uma semana.

A organização informou que o fotógrafo Mehdi Zabouli foi preso no dia 20 de junho e seu colega franco-iraniano Said Movahedi, no dia 9 de julho.

Os fotógrafos Tohid Bighi, Majid Saidi, Satyar Emami, Marjan Abdolahian e Koroush Javan foram presos no dia 11 de julho, e ao menos cinco outros ficaram feridos pela polícia ou milícia.

Quatro dias após a eleição, o Irã proibiu que jornalistas da mídia estrangeira filmassem ou fotografassem os protestos, ou até mesmo que saíssem de seus escritórios para cobrir os eventos.

(Reportagem de Sophie Hardach)

Tráfico caminha para formar um "narcoestado" na Venezuela

El País
Antonio Caño
Em Washington (EUA)

Um relatório do Congresso dos EUA adverte sobre uma forte penetração do narcotráfico na Venezuela, com um aumento muito significativo do volume de exportações de drogas e da cumplicidade no negócio de altos funcionários civis e militares do regime, que colaboram e protegem a guerrilha e as organizações criminosas colombianas. Substancialmente, o relatório, que será divulgado no final deste mês, descreve o nascimento de um "narcoestado" na Venezuela.

De acordo com a investigação, esse país se transformou no principal centro de distribuição de cocaína produzida na Colômbia e no maior porto de embarque do produto com destino, especialmente, aos mercados dos EUA e da Espanha. "Um alto nível de corrupção dentro do governo venezuelano, do exército e de outras forças da ordem e de segurança contribuiu para a criação desse clima de permissividade", afirma o relatório, ao qual El País teve acesso.

"As conclusões desse relatório aumentam minha preocupação de que a negativa da Venezuela a colaborar com os EUA na perseguição do narcotráfico se deva à corrupção existente no governo desse país", afirma o senador Richard Lugar, o republicano mais graduado na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que encomendou a elaboração desse documento ao Departamento de Controle do Governo (Government Accountability Office) em uma tentativa de confirmar os dados do Departamento de Estado sobre o aumento do narcotráfico na Venezuela.

Lugar considera que depois dessa investigação "se exige no mínimo uma revisão profunda da política dos EUA para a Venezuela" e sugere medidas semelhantes a "outros países afetados" por essa situação.

De 2004 até 2007, o volume de cocaína produzida na Colômbia e que saiu da Venezuela mais que quadruplicou, passando de 60 toneladas por ano para 260. Essa cifra representa, segundo o informe, 17% de toda a cocaína produzida no mundo em 2007. "Depois de entrar na Venezuela, a cocaína habitualmente sai do país a bordo de aviões que decolam e aterrissam em centenas de aeroportos clandestinos", relata o documento.

As agências de segurança americanas detectaram em 2007 178 voos originários de aeroportos da Venezuela suspeitos de transportar drogas, comparados com os 109 que haviam sido localizados em 2004. Nesse mesmo período, os voos com cocaína da Colômbia foram praticamente eliminados, graças aos programas antinarcóticos desenvolvidos conjuntamente por esse país e os EUA.

Isto é, desde 2004 a Venezuela substituiu de fato o trânsito de cocaína que antes era gerado na vizinha Colômbia. E isto foi alcançado, segundo o relatório, graças à estreita colaboração entre as forças armadas venezuelanas e a guerrilha colombiana, intensamente envolvida no negócio.

"Segundo membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia interrogados pelo governo colombiano, funcionários públicos venezuelanos, incluindo membros da Guarda Nacional, receberam suborno para facilitar a passagem de cocaína pela fronteira colombiana", afirma o documento do Congresso americano.

"A corrupção dentro da Guarda Nacional", acrescenta o relatório, "representa a ameaça mais significativa, pois a guarda responde diretamente ao presidente Hugo Chávez e controla as fronteiras, os aeroportos e os portos da Venezuela."

Outro informe, elaborado entre agosto de 2008 e este mês de julho, inclui as ações que o governo venezuelano tomou nos últimos anos para destruir aeroportos clandestinos e esconderijos de drogas, mas adverte que é difícil confirmar a veracidade desses dados, pois a participação dos EUA na atividade contra o narcotráfico na Venezuela, que foi muito intensa até 2004, praticamente desapareceu na atualidade.

Alguns oficiais da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) continuam trabalhando na Venezuela, mas o documento do Congresso afirma que seu trabalho é marginal: "Dizem que continuam se reunindo informalmente com os responsáveis venezuelanos, mas essas reuniões são geralmente para manter a comunicação, mais que para discutir assuntos substanciais de cooperação".

Segundo o relatório, os EUA fizeram algumas tentativas de retomar essa colaboração, especialmente depois do encontro em abril, na cúpula de Trinidad e Tobago, entre Chávez e o presidente americano, Barack Obama. Uma dessas gestões foi a de convidar o ministro da Justiça da Venezuela a visitar Washington para discutir várias iniciativas antidrogas, mas o Ministério das Relações Exteriores venezuelano ainda não deu autorização para essa viagem. A ajuda americana no combate às drogas na Venezuela, que foi de quase US$ 11 milhões em 2003 (R$ 22 milhões), foi reduzida para menos de US$ 2 milhões (R$ 4 milhões) em 2008. "Apesar de todos os esforços, a colaboração continua em declínio", conclui o documento.

O relatório do Congresso americano menciona a Espanha como o principal destino fora da América dos voos originários da Venezuela. Nesse continente, as rotas principais para os EUA são através do México, República Dominicana, Haiti e outros países da América Central e do Caribe. No México a droga procedente da Venezuela fica nas mãos de bandos que têm o controle dessa atividade no país. Nos demais lugares, os carregamentos muitas vezes não chegam à terra; são lançados ao mar, onde são recolhidos por barcos que continuam o transporte.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Empresas europeias planejam megausina solar no Saara

Um consórcio de empresas de multinacionais – que reúne gigantes como Siemens, RWE, E.On e Deutsche Bank, entre outros – assinou nesta terça-feira uma carta de intenções para criar o maior projeto de energia solar do planeta: a Iniciativa Industrial Desertec.

O projeto prevê a construção de uma rede de usinas de produção de energia totalmente limpa no Deserto do Saara, no norte da África, e de redes transmissão de energia, capaz de fornecer pelo menos 15% da eletricidade consumida na Europa, além de dois terços da necessidade do norte africano e do Oriente Médio.

O Desertec foi orçado em US$ 577 bilhões e prevê a instalação de uma tecnologia solar de última geração, que utiliza espelhos para concentrar a luz do sol sobre torres de energia que produzem vapor, que por sua vez movimentam turbinas que produzem eletricidade.

O calor excedente produzido durante o dia pode ser armazenado em tanques especiais para manter a usina em funcionamento durante a noite ou em dias nublados.

A ideia de se aproveitar o sol do Saara vinha amadurecendo há décadas, mas só agora o avanço das tecnologias, tanto solar quanto de transmissão de eletricidade, teria viabilizado o investimento.

Mediterrâneo

A água necessária para criar o vapor que movimenta as turbinas sairia do Mar Mediterrâneo, que dessalinizada – com sal derretido sendo usado nas baterias para estocar calor –, poderia ainda ser reaproveitada em regiões desérticas.

Especialistas sugerem ainda que a sombra dos espelhos poderia ser usada para plantação de espécies que normalmente não sobreviveriam ao intenso calor do deserto.

Essa tecnologia, chamada Concentrando Energia Solar (CSP, na sigla em inglês) já é usada em usinas solares nos Estados Unidos e na Espanha.

A ideia, que surgiu na Alemanha, vem sendo defendida com vigor pelo próprio governo alemão e pela Comissão Europeia, embora ainda existam dúvidas sobre como os problemas políticos de um projeto verdadeiramente internacional como este seriam equacionados.

"O conceito de energia renovável está associado também ao de independência energética. Então, me pergunto por que deveríamos depender novamente de outros para o nosso fornecimento", disse à BBC o especialista alemão Wolfgang Palz, presidente europeu do Conselho Mundial de Energias Renováveis.

Outros acusam a iniciativa europeia de representar um suposto "colonialismo energético" – crítica prontamente rebatida por um dos diretores da Desertec, Michael Straub.

"Da nossa rede de 60 cientistas e especialistas em energias renováveis, a metade é da África e do Oriente Médio. A outra metade é de europeus", afirmou Straub, acrescentando que representantes dos países envolvidos participaram do projeto desde o início.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mercado de carbono segue dinâmico, mas aguarda EUA

O volume de negociações de emissões de gases poluentes subiu 124%, chegando a 4,1 bilhões de toneladas

MICHAEL SZABO - REUTERS

LONDRES - O mercado de emissões de carbono está saudável, apesar da desaceleração da economia, mas uma lei relacionada às mudanças climáticas, em discussão no Senado dos Estados Unidos, vai decidir seu futuro, disse o diretor de meio ambiente do Barclays Capital.

A nova lei --que o Senado dos EUA espera aprovar até o fim deste ano-- vai ampliar o volume dos negócios em gás do efeito estufa e estimular o financiamento para novos projetos de energia limpa, embora boa parte desses recursos provavelmente vá ser investido no país, disse Louis Redshaw.

"O mercado de carbono está com boa saúde, apesar da crise financeira e quedas dramáticas de preços em toda a parte", disse Redshaw à Reuters, em um entrevista recente.

O volume de negociações de emissões de gases poluentes subiu 124%, chegando a 4,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na primeira metade de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado, disseram os analistas da Point Carbon na semana passada.

No entanto, o valor desse mercado cresceu somente 22%, passando a US$ 65 bilhões nos primeiros seis meses do ano, o que demonstra um aumento das especulações e uma queda nos preços das emissões de carbono.

Os preços da concessão no Benchmark European Union, negociado a 14,15 euros (US$ 19,68 dólares) na manhã de segunda-feira, estão 12% abaixo em 2009 e ainda mais de 50% abaixo dos valores recordes alcançados em julho passado (por volta de 30 euros).

"Mais e mais compromissos de contrapartida estão envolvidos no mercado, em um indício de que as empresas estão avaliando os custos do carbono muito mais do que na fase 1 (de 2005 a 2007)", disse Redshaw.

"Também houve aumento no número de intermediários e especuladores, o que conduz a maior liquidez...e, por fim, disso resulta um mercado eficiente na estimativa de preços."

CRISE

Reconhecendo que o financiamento de projetos de energia limpa se desacelerou por causa da crise econômica mundial, Redshaw foi cauteloso quando indagado sobre se o mercado voltou a se reaquecer.

"É difícil dizer de imediato se as coisas estão se aquecendo novamente, já que todo mundo está à espera de que os Estados Unidos deem a largada para que a próxima onda de investimento leve o mercado ao próximo nível", afirmou Redshaw.

A Câmara de Representantes dos EUA aprovou por estreita margem uma histórica lei sobre mudanças climáticas no fim do mês passado, que vai introduzir o mercado de carbono como uma ferramenta para ajudar a reduzir as emissões dos EUA em 17% até 2020 e em 83% até 2050, em relação aos níveis de 2005.

Mas o comitê do Senado responsável pela legislação relativa ao clima adiou na semana passada a avaliação da lei por pelo menos um mês, deixando ao Congresso menos tempo para cumprir a meta do presidente Barack Obama de adotar legislação sobre a questão ainda este ano.

COMPENSAÇÕES

Apesar de a lei dos EUA permitir que compensações de carbono sejam usadas para abatimento das metas a serem cumpridas, Redshaw disse que a demanda por compensações internacionais, definida pelo pacto climático do Protocolo de Kyoto --chamadas de Certificados de Redução de Emissões (CER,na sigla em inglês)--, provavelmente será baixa.

"O ponto principal é que 50% do abatimento das emissões dos EUA possa vir de compensações, mas o que se esquece é que a demanda provavelmente será baixa", afirmou Redshaw, citando a previsão de fornecimento excessivo de permissão de emissões no mercado.

De acordo com o pacto de Kyoto, as empresas podem investir em projetos de energia limpa em países como China e Índia e, em troca, receber os certificados que podem ser usados para cumprir metas de emissão ou para venda com finalidade de lucro.

"Cinquenta por cento não necessariamente se traduz em uma nova era do ouro para os CERs, em especial se o imenso setor agrícola, com potencialmente baixo critério de adicionalidade, for suprir o mesmo mercado."

Compensações agrícolas, um negócio potencial de bilhões de dólares, envolvem medidas como sequestro de dióxido de carbono pelo solo por meio de práticas de cultivo menos intensivas.

Críticos dizem que fazendeiros já usam essa técnica há anos e, portanto, é improvável que leve à redução de emissões.

domingo, 12 de julho de 2009

No conflito entre as Coreias, pescadores são os primeiros afetados

Crecimento da tensão entre Norte e Sul preocupa ilhéus de Yeonpyeong. Saiba o que pode acontecer se os rivais se enfrentarem no Mar Amarelo.

Martin Fackler
Do New York Times, em Yeonpyeong, Coreia do Sul

Sentado em frente a sua casa, remendando uma rede de pesca com mãos sulcadas pelos anos de trabalho no mar, Kim Sang-jin relembrou a última vez que a Coreia do Norte e a Coreia do Sul entraram em conflito militar no Mar Amarelo.

Foi há sete anos. Os disparos dos navios de guerra, durante as duas horas de batalha naval, chegaram perto o suficiente para fazer barulho nas janelas. Ele e sua esposa foram obrigados a buscar um lugar seguro. Agora, com as tensões aumentando desde os testes nucleares da Coreia do Norte, em maio, e as subsequentes sanções das Nações Unidas, Kim Sang-jin disse que ele e outros residentes temem que uma nova batalha possa surgir a qualquer momento, perto dessa pequena ilha controlada pela Coreia do Sul, localizada na costa de uma hostil Coreia do Norte.

"Estamos sempre com medo, todos os dias", disse Kim, 66 anos, que vive a duas casas de um abrigo antibombas da vizinhança. "Mas você se acostuma a viver com o medo."

Especialistas militares sul-coreanos afirmam que esta ilha solitária, também reclamada pela Coreia do Norte, é o lugar mais provável para a ocorrência de um conflito, com o Norte possivelmente provocando uma batalha limitada como parte de sua atitude temerária em relação aos Estados Unidos e outros países.

A Ilha Yeonpyeong está situada a apenas três quilômetros do chamado limite norte, uma extensão inundada da zona desmilitarizada que divide as duas Coreias. Esse foi o cenário de duas batalhas navais mortais, ocorridas na última década.

Foto: The New York Times
Pescadores trabalham em cais em Yeonpyeong, com navio militar da Coreia do Sul ao fundo. (Foto: The New York Times)

A Coreia do Sul, desde então, lançou o primeiro de sua nova classe de navios de míssil guiado "mata-patrulha", projetado especialmente para as batalhas navais de curto alcance que têm ocorrido nessas águas. A embarcação, chamada de Yoon Young-ha, foi batizada em homenagem a um dos seis marinheiros sul-coreanos mortos na segunda batalha, em 2002, vencida pela Coreia do Norte.

Com isso e com a guarnição militar da ilha, de cerca de mil marinhas em alerta, a Coreia do Sul parece quase ansiar por uma luta. Em uma recente cerimônia para marcar o décimo aniversário da primeira das duas batalhas navais anteriores aqui, quando a Coreia do Sul disse ter derrotado o Norte ao afundar dez de suas embarcações, o tenente-comandante Kwon Young-il prometeu "afundá-los", caso a Coreia do Norte ataque novamente.

Muitos dos 1.600 civis residentes na ilha, a maioria pescadores grisalhos, disseram se no meio de um fogo-cruzado. Porém, também disseram estar acostumados ao aumento, de tempos em tempo, das tensões entre os países. Eles descrevem a situação como parte da vida nessa ilha disputada.

A maioria afirma que eles estão determinados a cuidar de seu trabalho diário de mover seus barcos de camarão ou monitorar armadilhas para peixes ao longo da costa rochosa da ilha.

"Esta não é a primeira vez que a Coreia do Norte testou mísseis e bombas", disse Kim Seung-ju, que lidera o ramo da ilha da cooperativa agrícola nacional. "Isso não nos agita."

Realmente, com seus bunkers de concreto, emboscadas para tanques e linhas de trincheiras, a ilha parece uma cápsula do tempo da Guerra Fria. Os ilhéus conduzem incursões aéreas mensais e mantêm máscaras de gás em casa. Cartazes em restaurantes locais alertam residentes para estarem atentos a botes espiões e submarinos norte-coreanos. Desde o teste nuclear, a ilha estoca seus 19 abrigos civis antibombas com água potável e macarrão instantâneo.

Foto: The New York Times
Militar sul-coreano patrulha a costa da Ilha Yeonpyeong em 18 de junho. (Foto: The New York Times)

Visitantes da ilha são revistados na descida do ferry boat por policiais militares buscando agentes norte-coreanos. Apesar de a ilha estar a apenas 13 km da costa da Coreia do Norte, sua única ligação regular com o resto da Coreia do Sul é uma viagem de ferry boat de 106 km, com duas horas e meia de duração.

Isso faz da ilha uma anomalia, mesmo na Coreia do Sul, que ainda enfrenta o Norte por toda a zona desmilitarizada e altamente armada, mas onde algumas comunidades começaram a desativar seus abrigos antibomba e armadilhas para tanques.

Muitos sul-coreanos parecem ansiosos para esquecer o vizinho bélico do norte. Eles têm pressa para atingir padrões de vida cada vez mais altos. Apesar disso, as duas Coreias permanecem em guerra, tecnicamente, há mais de meio século.

Apesar de tudo seguir como de costume em grande parte da Coreia do Sul durante o empate nucelar, a tensão é notável em Yeonpyeong. Em um sinal potencialmente ameaçador, moradores afirmam que muitos barcos de camarão chineses, que pescam todos os anos nessas águas, foram embora. Apesar disso, não está claro se eles foram alertados pela Coreia do Norte ou simplesmente foram embora para casa porque a temporada de camarões acabou.

Ainda assim, alguns ilhéus e membros das forças militares afirmam que as tensão não estão tão acirradas como na década de 1970, quando a Coreia do Norte tentou reclamar a ilha para si e enviou seus jatos de guerra. Hoje em dia, o sul parece muito mais confiante em sua superioridade material em relação ao empobrecido norte.

"Nós temos a tecnologia", disse o tenente-coronel aposentado Kim In-sik, ex-comandante da Marinha Sul-Coreana, que visitou a ilha recentemente para reforçar o moral das tropas. "Mas ainda é possível que o Norte ataque esta zona para aumentar a pressão." -como parte de sua estratégia de barganha contra Seul e Washington.

Kim, líder da cooperativa de agricultores, disse que os ilhéus eram anticomunistas fervorosos, pois muito deles, incluindo sua mãe, fugiram da Coreia do Norte durante e após a Guerra da Coreia, de 1950 a 1953. Ao mesmo tempo, esses laços com o norte faz com que ele e outros ilhéus sintam que nenhuma das duas Coreias deseja outra guerra total.

Na verdade, eles disseram que os perigos aqui são frequentemente exagerados. Muitos ilhéus reclamaram que o aumento nas tensões assustou turistas e trouxe ligações de parentes preocupados, perguntando por que eles insistem em morar em um lugar tão perigoso.

Alguns moradores locais até reclamaram que os únicos invasores que eles viram foram os bandos de repórteres e câmeras sul-coreanos, que os assediam a cada impasse com a Coreia do Norte.

"Quando vemos o pessoal da TV, sabemos que algo está acontecendo", disse Park Choon-geun, 49 anos, capitão de um barco de camarão. "Tirando isso, achamos que a vida segue normal."

sábado, 11 de julho de 2009

Irã diz preparar novos termos para dialogar com Ocidente

Chanceler diz que proposta será base para negociações futuras. Presidente havia avisado de mudança após eleição de junho.

O Irã prepara um pacote para dialogar com o Ocidente fundamentado em sua nova visão de política, economia e segurança no mundo, anunciou o chanceler do país, Manouchehr Mottaki. Em entrevista coletiva em Teerã, o chefe da diplomacia iraniana revelou que a nova proposta servirá de base para qualquer tipo de negociação futura.

"O pacote será uma boa base para dialogar com o Ocidente. Nele estará incluída a postura do Irã sobre questões de política, segurança e relações internacionais", disse o ministro.

Mottaki não esclareceu, no entanto, se os novos termos são os mesmos que seu país preparava já em maio para apresentar ao grupo negociador, com o objetivo de abordar a polêmica nuclear.

'Nova situação'

Em 15 de junho, logo após anunciar sua polêmica vitória eleitoral, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ressaltou que a proposta mudaria e seria adaptada "à nova situação criada no país".

O grupo responsável pela negociação nuclear, integrado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, acusa o Irã de ocultar, sob um programa civil, outro projeto militar paralelo cujo objetivo seria a aquisição de arsenal atômico.

Na quarta-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou que as principais potências mundiais esperarão até setembro para estudar as possibilidades de negociação com o Irã do tema nuclear ou decidir se endurecem as sanções.

O presidente americano, Barack Obama, se expressou ontem na mesma linha que Sarkozy e advertiu que o Ocidente não está disposto a esperar de forma indefinida e que o Irã tem setembro como prazo.

Obama diz que África pode resolver seus próprios problemas

BBC

O presidente americano, Barack Obama, em sua primeira visita à África subsaariana depois que assumiu o cargo, disse que o continente precisa tomar o controle do próprio destino e defendeu que bons governos são vitais para o desenvolvimento das nações africanas.

No discurso feito no parlamento de Gana - país escolhido para a visita por seu histórico de democracia -, Obama também afirmou que a África tem muitos desafios pela frente, mas prometeu que os Estados Unidos vão ser um parceiro do continente.

A viagem do presidente americano a Gana vem logo após a Cúpula do G8, na Itália, que reuniu os países mais industrializados do mundo.

"Nós queríamos vir a um país africano depois do G8 e da minha viagem a Moscou para enfatizar que a África não está isolada das questões mundiais", disse Obama após encontrar com o presidente ganense, John Atta Mills, na capital Acra.

"Eu vim aqui para Gana por um motivo simples. O século 21 vai ser marcado não só pelo que acontece em Roma, em Moscou ou em Washington, mas também pelo que acontece em Gana."

Trombeta

Na chegada ao parlamento, Barack Obama foi recebido com o som de trombetas, uma saudação tradicional no país. Obama agradeceu e brincou: "Nosso congresso precisa de uma dessas."

A mensagem principal do discurso foi de que o futuro da África pertence aos africanos, mas Obama admitiu que o legado do colonialismo ajudou a criar conflitos no continente.

"O Ocidente não é responsável, no entanto, pela destruição da economia do Zimbábue na última década ou por guerras em que crianças são convocadas como combatentes", completou o presidente.

Obama elogiou o progresso de Gana, seu governo e crescimento econômico, dizendo que os sucessos do país eram menos dramáticos que as lutas de liberação do século 20, mas que, no fim das contas, seriam muito mais significativos.

"Desenvolvimento depende de boas administrações. Este é o ingrediente que tem faltado em muitos lugares, por tempo demais. E esta é uma responsabilidade que só pode ser assumida pelos africanos", disse Obama aos legisladores ganenses.

Sangue africano

Lembrando seu pai, que morava em um pequeno vilarejo do Quênia, Obama lembrou que tem "sangue africano nas veias" e pediu que o continente lute por "parlamentos fortes, polícia honesta, juízes independentes e uma imprensa livre"

"A África não precisa de homens fortes, mas sim de instituições fortes."

"Ninguém quer viver em uma sociedade onde a lei dá lugar à brutalidade e à corrupção. Isso não é democracia, isso é tirania", disse Barack Obama.

Mais tarde, Obama deve visitar um antigo forte de escravos dos século 17 com sua esposa Michelle, uma descendente de escravos africanos.

Bush & Obama

DIRETO DE HONDURAS - Chávez parece ser o Ahmadinejad da América Latina

por Gustavo Chacra

Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad parecem ter decaído depois do fim dos anos de George W. Bush. Os dois não conseguem sobreviver sem um adversário agressivo do outro lado. O venezuelano e o iraniano fracassam ao tentar atrair a atenção criticando Barack Obama. Não emplaca.

Aqui em Tegucigalpa, os seguidores do presidente deposto, Mel Zelaya, têm vergonha de dizer o nome de Hugo Chávez nas manifestações. Pedem palmas para Obama, ONU, União Européia e até mesmo Lula. Para Chávez, nada. Como dizem em São Paulo, “queima o filme”.

Hugo Chávez virou sinônimo de imperialismo em Honduras. Não foi Obama que ameaçou atacar os hondurenhos. Foi o venezuelano. Gostando ou não do governo de fato, ninguém em Tegucigalpa quer ver forças estrangeiras no país.

Se Chávez virou palavrão na América Latina, o mesmo parece ocorrer com Ahmadinejad no Oriente Médio. No Iraque, líderes xiitas o evitam para não serem “contaminados” por sua imagem. Os libaneses do Hezbollah tampouco usaram seu nome na campanha. Sua imagem inexiste nas ruas de Dahieh, subúrbio ao sul de Beirute.

Aliás, até quando será que irá durar o vôo Carcacas-Teerã?

A sinuca de Obama

Eric Camara

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E se um presidente do Brasil decidisse ignorar esse papo de preservação e urbanizar, industrializar a Amazônia. Será que conseguiria se reeleger, visto que grande parte da população acha que a floresta deve continuar de pé?

O presidente Barack Obama está numa situação parecida, mal comparando. Veja só: ele quer dar uma guinada nos Estados Unidos, rumo a uma economia de baixas emissões, mas grande parte da população - 49%, segundo uma pesquisa recente do Centro de Pesquisas Pew e da Associação Americana pelo Progresso da Ciência - acha que o aquecimento global não é provocado pela atividade humana.

Ou seja: será que vale a pena para o presidente americano jogar seu peso político nessa causa? No momento em que o desemprego beira os 10%, será que apostar em uma "economia verde" seria uma decisão sábia politicamente?

Al Gore e os defensores da mudança dizem que é justamente essa guinada que vai tirar os americanos do buraco. E se não for?

Na reunião do G8 que acabou hoje em Áquila, na Itália, Obama foi criticado duramente por não ter "assumido a liderança" na luta contra as emissões nos países industrializados. Os mais exaltados dizem até que um possível acordo em Copenhague, em dezembro, ficou mais distante.

Isso porque os países ricos se recusaram a anunciar metas de redução de emissões até 2020, embora tenham aceitado o compromisso de não deixar o aquecimento global ultrapassar os 2ºC.

Os principais culpados por isso são os americanos. Afinal, o governo ainda nem conseguiu passar a sua lei de mudança climática pelo Congresso (falta o Senado), e mesmo se tivesse, o documento do jeito que está só prevê cortes expressivos nas emissões americanas a partir de 2050.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, líderes europeus, notadamente França e principalmente a Alemanha, também estão frustrados com Obama.

Parece sinuca de bico: como tirar o país da crise, aprovar mudanças que incentivem uma "economia verde", liderar o mundo nas negociações por um acordo pós-Kyoto e ainda manter vivo o sonho da reeleição?

Maiores economias traçam meta de 2°C de aquecimento

ÁQUILA - As 17 maiores economias do mundo concordaram ontem, em uma reunião na Itália, que o aquecimento global não deve passar dos 2°C em relação à temperatura pré-Revolução Industrial. Contudo, divergiram em relação a como essa meta será alcançada. Ainda assim, o gesto significou a adoção de um critério científico e pragmático, que era rejeitado por vários países, segundo o ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado, principal negociador brasileiro do tema. Sua expressão, na prática, estaria na definição da meta global de corte de 50% nas emissões até 2050, com o compromisso de os países desenvolvidos de assumir 80% da redução.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, alguns países do G-8 resistiram a essa meta. Com isso, alguns países em desenvolvimento impediram o consenso sobre o corte global de 50% nas emissões. Essas aproximações terão de se dar nos próximos cinco meses, até a próxima Conferência do Clima, em Copenhague.

Apesar da falta de consenso, a reunião marca uma reviravolta no debate porque os americanos, que durante a administração George W. Bush negavam qualquer avanço, tornam-se agora líderes da questão. Barack Obama foi o porta-voz da reunião. "Os Estados Unidos algumas vezes deixaram de assumir sua responsabilidade. Esses dias acabaram", disse Obama, que defendeu que a reunião foi um avanço. "Não é tarefa simples para 17 líderes deixar as diferenças de lado em um assunto como mudanças climáticas."

Já o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, criticou a proposta do G-8. "As políticas que foram declaradas até agora não são suficientes", afirmou. "Precisamos trabalhar de acordo com a ciência. É político e moralmente imperativo e uma responsabilidade histórica dos líderes com o futuro da humanidade." A ciência diz que os 2°C são um limite a ser perseguido, mas não são garantia de segurança. Mesmo com esse aquecimento eventos climáticos extremos, como secas e chuvas, podem se tornar mais frequentes.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Emergentes e G8 chegam a acordo sobre metas climáticas e liberalização da economia

Do UOL Notícias*
Em São Paulo

Líderes do G8 e do G5 entraram em acordo e estabeleceram metas climáticas e o prazo para concluir as negociações sobre a liberalização do comércio mundial até 2010. Pelo acordo, realizado no segundo dia do encontro de cúpula em L'Áquila, na Itália, os países terão que reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 80% até 2050 e, nesta mesma data, limitar o aquecimento global em até 2ºC acima dos níveis pré-industriais.

Índia e China, que integram o G5 ao lado de Brasil, México e África do Sul, resistiam em aceitar as propostas, mas cederam. Indonésia, Coreia do Sul, Austrália e Egito, que se associou ao G5, deram aval ao acordo, que deve orientar a conferência internacional do clima, marcada para o final do ano em Copenhague, na Dinamarca.

Os países, no entanto, não citaram medidas concretas para que as metas sejam alcançadas, nem anunciaram qualquer tipo de ajuda econômica para que países em desenvolvimento consigam alcançar os objetivos. Também não foram estabelecidos metas a curto prazo.

Com relação à liberalização da economia, os líderes do G8 e G5 comprometeram-se a resistir ao protecionismo e a definir até 2010 as negociações da Rodada de Doha, cujo propósito é eliminar direitos aduaneiros e reduzir os subsídios agrícolas nos países ricos.

Os países não chegaram a uma decisão sobre fixar prazos para que o Irã interrompa seu programa nuclear. Uma posição sobre esse assunto só será tomada na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro.

*Com informações dos jornais Deutsche Welle (Alemanha) e The Wall Street Journal (EUA)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Posição de Obama rechaça apontar de dedo de Chávez

The New York Times
Simon Romero
Em Caracas (Venezuela)

Desde o instante em que ocorria o golpe em Honduras no fim de semana, o presidente Hugo Chávez estava com seu manual preparado. Ele disse que as mãos de Washington estavam por toda parte, alegando que os americanos tinham financiado os oponentes do presidente Manuel Zelaya e insinuando que a CIA tinha promovido uma campanha de desinformação para estimular os golpistas.

Mas o presidente Barack Obama condenou firmemente o golpe, desarmando as acusações de Chávez. Em vez de se envolver em uma troca de acusações, Obama descreveu calmamente o golpe como "ilegal" e pediu pelo retorno de Zelaya à presidência. Apesar de Chávez ter continuado retratando Washington como responsável pelo golpe, outros na América Latina não viam dessa forma.

"Obama Lidera Reação a Golpe em Honduras", dizia na terça-feira a manchete de capa de "O Estado de São Paulo", um dos mais influentes jornais do Brasil, cujos laços com Washington estão ficando mais estreitos.

Nos últimos anos, Chávez frequentemente parecia superar Washington nestas questões. Ele explorou o baixo prestígio do governo Bush após a guerra no Iraque e sua aprovação tácita ao breve golpe que o derrubou em 2002, culpando os Estados Unidos pelos males na Venezuela e por toda a região.

Agora essas táticas podem perder força, já que o governo Obama busca uma solução multilateral à crise em Honduras ao se voltar à Organização dos Estados Americanos. Ao fazê-lo, Obama se distancia das políticas que isolaram os Estados Unidos em partes do hemisfério.

"Com Honduras, o governo Obama seguiu a rota mais em sintonia com os demais países na região", disse Peter DeShazo, diretor do programa para as Américas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Honduras, que há muito mantinha laços estreitos com Washington, recentemente despontou como alvo dos interesses tanto da Venezuela quanto dos Estados Unidos. Com petróleo subsidiado, Chávez atraiu Honduras para sua aliança esquerdista, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas). Por sua vez, os Estados Unidos não cortaram sua ajuda militar e de desenvolvimento a Honduras, em uma tentativa de manter a influência no país.

Mas enquanto Chávez tem aliados na Bolívia e no Equador que tiveram sucesso em mudar as Constituições para permanecerem mais tempo no poder -seguindo seu exemplo na Venezuela- sua intervenção em Honduras acentuou a tensão naquele país. Relatos de que a Venezuela enviou um avião para Honduras na semana passada, contendo material eleitoral para o referendo no centro do choque de Zelaya com a Suprema Corte, provocaram considerável desconforto no país.

Chávez retrata seu apoio a Zelaya como outro exemplo da defesa de seu estilo de democracia, que reforça as presidências às custas dos outros poderes do governo. Mas alguns países estão resistindo à tendência de permitir que seus líderes estendam sua permanência no poder.

Na Colômbia, por exemplo, o presidente Álvaro Uribe, um conservador populista e aliado americano, está enfrentando dificuldades no esforço para permitir que concorra a um terceiro mandato. E na Argentina, o antes popular ex-presidente, Néstor Kirchner, reconheceu a derrota nesta semana nas eleições parlamentares, colocando em dúvida as esperanças dele e de sua esposa, a presidente Cristina Fernández de Kirchner, de prorrogarem sua dinastia na próxima eleição presidencial.

Enquanto isso, Obama está buscando um envolvimento mais profundo do Brasil, ao supostamente apoiar a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente esquerdista brasileiro, como chefe do Banco Mundial. A medida quebraria a tradição de indicação de um americano ao posto e poderia reforçar o apoio às instituições multilaterais sediadas em Washington, minando as tentativas de Chávez de usar a receita do petróleo para criar suas próprias instituições rivais.

Fazer tudo isso e ao mesmo tempo ignorar as provocações de Chávez traz certos riscos para Obama, particularmente se surgir informação mostrando que há alguma verdade por trás das alegações de Chávez.

O presidente venezuelano nunca esquecerá que a CIA tinha conhecimento do golpe que o derrubou em 2002, mas mesmo assim não fez nada para impedi-lo, e que Washington tem uma história recente de fornecer ajuda a grupos que criticam seu governo, deixando os Estados Unidos abertos às acusações de interferência e até mesmo desestabilização.

Além disso, a retórica antiestablishment de Chávez, voltada contra as elites em Washington e outros lugares, ainda tem apelo junto a muitas pessoas aqui na Venezuela e na América Latina.

Mas por ora, pelo menos, a diplomacia de não-confronto parece ter pego Chávez desprevenido. "Chávez está começando a entender que está lidando com alguém com uma abordagem muito diferente daquela de seu antecessor", disse Michael Shifter, vice-presidente da Diálogo Interamericano, um grupo de pesquisa de políticas em Washington.

O papel exagerado de Chávez na crise em Honduras, que envolveu ameaças de guerra caso a embaixada da Venezuela em Honduras fosse revistada, esconde as limitações da influência da Venezuela no hemisfério, à medida que os Estados Unidos reajustam suas políticas de uma forma que lembra a diplomacia pragmática de outro poder na região, o Brasil.

Depois que a poeira assentar em Honduras, a aliança de Chávez ainda incluirá alguns dos países mais pobres e tomados por conflitos da região, como a Bolívia e a Nicarágua, com os países maiores optando por outros caminhos de desenvolvimento.

Enquanto isso, as ameaças de Chávez de beligerância na América Central levaram um partido de oposição daqui, o Acción Democrática, a emitir uma declaração cheia de ironia na segunda-feira: "Hugo Chávez se transformou no George Bush da América Latina".

Quem está limpando o relógio de quem?

The New York Times
Thomas L. Friedman

No decorrer dos últimos dez anos, todas as vezes que fui à China e conversei com os chineses sobre os problemas deles referentes a poluição e energia, inevitavelmente fui abordado por algum jovem que me dizia: "Ei. Vocês, norte-americanos, fizeram uma sujeira durante 150 anos usando carvão e petróleo baratos. Agora é a nossa vez".

É difícil refutar tal argumento. Finalmente, eu decidi que a única maneira de responder seria com alguma variação do seguinte raciocínio: "Vocês têm razão. É a sua vez. Sujem o quanto quiserem. Não se apressem. Porque eu acho que os Estados Unidos precisam de apenas cinco anos para inventar todas as tecnologias de energia limpa das quais vocês, chineses, necessitarão quando começarem a morrer sufocados pela poluição. A seguir, nós viremos até aqui e venderemos essas tecnologias para vocês. E vocês irão limpar o seu relógio* - como se diz 'limpar o seu relógio' em chinês? - na próxima grande indústria global: as tecnologias de energia limpa. Então, se vocês quiserem nos proporcionar uma dianteira de cinco anos, isso será ótimo. Eu preferiria dez. Portanto, não se apressem. Sujem o quanto quiserem".

Sempre que a questão é abordada desta maneira, os chineses mostram-se a princípio irônicos, mas depois compreendem totalmente: Uau! Esta questão de energia não diz respeito apenas ao aquecimento global! Em um mundo que tem um acréscimo populacional de um bilhão de pessoas a aproximadamente cada 15 anos - dos quais uma quantidade cada vez maior terá condições de contar com um estilo de vida caracterizado pelo alto consumo de energia -, as demandas por energia e recursos naturais dispararão. Portanto a E.T. (sigla, em inglês, de tecnologias de energia) - tecnologias energéticas que produzem energia limpa e eficiente - será a próxima grande indústria global, e a China precisa estar a bordo.

Bem, a China embarcou - em grande estilo. Agora eu temo que a China irá, ouso dizer, "limpar o nosso relógio" na área de E.T.

Sim, poder-se-ia pensar que a China só estaria interessada em seguir poluindo rumo à prosperidade. Isto já foi verdade, mas não é mais. A China está descobrindo cada vez mais que precisa abraçar o verde devido à necessidade, já que, em inúmeros locais, a sua população não consegue mais respirar, pescar, nadar, dirigir ou sequer enxergar devido à poluição e à alteração climática. Bem, há uma coisa que sabemos a respeito da necessidade: ela é a mãe da invenção.

E é isso o que a China está fazendo, inovando mais e mais a sua eficiência energética e sistemas de energia limpa. E quando a China começar a fazer isso em grande escala - quando ela começar a desenvolver tecnologias para energia solar e eólica, baterias, instalações nucleares e eficiência energética a partir da sua plataforma de baixo custo -, prestem atenção. Você não estará comprando apenas os seus brinquedos, mas também o seu futuro energético, da China.

"A China está se mexendo", afirma Hal Harvey, diretor-executivo da Climate-Works, que distribui ideias sobre energia limpa pelo mundo. "Eles desejam ser líderes em tecnologia verde. A China já adotou o programa de eficiência energética mais agressivo do mundo. Ela está decidida a reduzir a intensidade energética da sua economia - a quantidade de energia utilizada por dólares de bens produzidos - em 20% nos próximos cinco anos. Eles estão fazendo isso por meio da implementação de padrões de consumo de combustível que superam em muito os nossos e da imposição de metas de eficiência bastante agressivas às suas milhares de indústrias mais importantes. E eles contam com o mais agressivo sistema de energia renovável do mundo, incluindo energia eólica, solar e nuclear, e já estão superando as suas metas".

Esta é a questão-chave relativa à energia no relatório presidencial do Painel de Assessoria para Recuperação Econômica: "Se os Estados Unidos forem incapazes de adotar um programa de redução de carbono no âmbito de toda a economia, nós continuaremos a ceder a nossa liderança em novas tecnologias energéticas". Os Estados Unidos contam atualmente com apenas dois dos dez maiores produtores de células fotovoltaicas do mundo, dois dos dez maiores produtores de turbinas eólicas e um dos dez principais fabricantes de baterias avançadas. Ou seja, somente um sexto dos principais fabricantes de equipamentos de energia renovável do mundo encontra-se nos Estados Unidos... Tecnologias sustentáveis nas áreas de energia solar, energia eólica, veículos elétricos, usinas nucleares e outras inovações ditarão o rumo da futura economia global. Ou nós investimos nas políticas para construir a liderança norte-americana nessas novas indústria e empregos agora, ou continuaremos na mesma rota, e mais tarde compraremos usinas eólicas da Europa, baterias do Japão e painéis solares da Ásia.

De fato, quem examinar essas listas das principais empresas, compiladas pelo banco de investimentos Lazard, verá que as companhias japonesas lideram, e são seguidas pela Europa e pela China. Só depois desses três é que nós aparecemos.

Este é um dos principais motivos pelos quais eu sou favorável à aprovação da legislação de energia e clima pela câmara. Se não impusermos a nós mesmos a necessidade de implementar inovações na área de tecnologias limpas - impondo os preços certos para as emissões de carbono e as regulações corretas para a promoção de eficiência energética -, seremos os retardatários da próxima grande indústria global.

E é por isso que eu descordo do presidente Barack Obama quando este indica que precisa se concentrar na ampliação do sistema de saúde e colocar a lei de energia e clima - atualmente no senado - em plano secundário.

O sistema de saúde e a lei de energia e clima andam de braços dados. Neste momento precisamos de ambas. Imaginem como seríamos pobres hoje em dia se as firmas dos Estados Unidos não dominassem as dez principais companhias da Internet. Bem, se nós não dominarmos as dez principais posições no setor de E.T., não haverá como sermos capazes de sustentar um sistema de saúde decente para todos os norte-americanos. De jeito nenhum.