quarta-feira, 8 de julho de 2009

Quem está limpando o relógio de quem?

The New York Times
Thomas L. Friedman

No decorrer dos últimos dez anos, todas as vezes que fui à China e conversei com os chineses sobre os problemas deles referentes a poluição e energia, inevitavelmente fui abordado por algum jovem que me dizia: "Ei. Vocês, norte-americanos, fizeram uma sujeira durante 150 anos usando carvão e petróleo baratos. Agora é a nossa vez".

É difícil refutar tal argumento. Finalmente, eu decidi que a única maneira de responder seria com alguma variação do seguinte raciocínio: "Vocês têm razão. É a sua vez. Sujem o quanto quiserem. Não se apressem. Porque eu acho que os Estados Unidos precisam de apenas cinco anos para inventar todas as tecnologias de energia limpa das quais vocês, chineses, necessitarão quando começarem a morrer sufocados pela poluição. A seguir, nós viremos até aqui e venderemos essas tecnologias para vocês. E vocês irão limpar o seu relógio* - como se diz 'limpar o seu relógio' em chinês? - na próxima grande indústria global: as tecnologias de energia limpa. Então, se vocês quiserem nos proporcionar uma dianteira de cinco anos, isso será ótimo. Eu preferiria dez. Portanto, não se apressem. Sujem o quanto quiserem".

Sempre que a questão é abordada desta maneira, os chineses mostram-se a princípio irônicos, mas depois compreendem totalmente: Uau! Esta questão de energia não diz respeito apenas ao aquecimento global! Em um mundo que tem um acréscimo populacional de um bilhão de pessoas a aproximadamente cada 15 anos - dos quais uma quantidade cada vez maior terá condições de contar com um estilo de vida caracterizado pelo alto consumo de energia -, as demandas por energia e recursos naturais dispararão. Portanto a E.T. (sigla, em inglês, de tecnologias de energia) - tecnologias energéticas que produzem energia limpa e eficiente - será a próxima grande indústria global, e a China precisa estar a bordo.

Bem, a China embarcou - em grande estilo. Agora eu temo que a China irá, ouso dizer, "limpar o nosso relógio" na área de E.T.

Sim, poder-se-ia pensar que a China só estaria interessada em seguir poluindo rumo à prosperidade. Isto já foi verdade, mas não é mais. A China está descobrindo cada vez mais que precisa abraçar o verde devido à necessidade, já que, em inúmeros locais, a sua população não consegue mais respirar, pescar, nadar, dirigir ou sequer enxergar devido à poluição e à alteração climática. Bem, há uma coisa que sabemos a respeito da necessidade: ela é a mãe da invenção.

E é isso o que a China está fazendo, inovando mais e mais a sua eficiência energética e sistemas de energia limpa. E quando a China começar a fazer isso em grande escala - quando ela começar a desenvolver tecnologias para energia solar e eólica, baterias, instalações nucleares e eficiência energética a partir da sua plataforma de baixo custo -, prestem atenção. Você não estará comprando apenas os seus brinquedos, mas também o seu futuro energético, da China.

"A China está se mexendo", afirma Hal Harvey, diretor-executivo da Climate-Works, que distribui ideias sobre energia limpa pelo mundo. "Eles desejam ser líderes em tecnologia verde. A China já adotou o programa de eficiência energética mais agressivo do mundo. Ela está decidida a reduzir a intensidade energética da sua economia - a quantidade de energia utilizada por dólares de bens produzidos - em 20% nos próximos cinco anos. Eles estão fazendo isso por meio da implementação de padrões de consumo de combustível que superam em muito os nossos e da imposição de metas de eficiência bastante agressivas às suas milhares de indústrias mais importantes. E eles contam com o mais agressivo sistema de energia renovável do mundo, incluindo energia eólica, solar e nuclear, e já estão superando as suas metas".

Esta é a questão-chave relativa à energia no relatório presidencial do Painel de Assessoria para Recuperação Econômica: "Se os Estados Unidos forem incapazes de adotar um programa de redução de carbono no âmbito de toda a economia, nós continuaremos a ceder a nossa liderança em novas tecnologias energéticas". Os Estados Unidos contam atualmente com apenas dois dos dez maiores produtores de células fotovoltaicas do mundo, dois dos dez maiores produtores de turbinas eólicas e um dos dez principais fabricantes de baterias avançadas. Ou seja, somente um sexto dos principais fabricantes de equipamentos de energia renovável do mundo encontra-se nos Estados Unidos... Tecnologias sustentáveis nas áreas de energia solar, energia eólica, veículos elétricos, usinas nucleares e outras inovações ditarão o rumo da futura economia global. Ou nós investimos nas políticas para construir a liderança norte-americana nessas novas indústria e empregos agora, ou continuaremos na mesma rota, e mais tarde compraremos usinas eólicas da Europa, baterias do Japão e painéis solares da Ásia.

De fato, quem examinar essas listas das principais empresas, compiladas pelo banco de investimentos Lazard, verá que as companhias japonesas lideram, e são seguidas pela Europa e pela China. Só depois desses três é que nós aparecemos.

Este é um dos principais motivos pelos quais eu sou favorável à aprovação da legislação de energia e clima pela câmara. Se não impusermos a nós mesmos a necessidade de implementar inovações na área de tecnologias limpas - impondo os preços certos para as emissões de carbono e as regulações corretas para a promoção de eficiência energética -, seremos os retardatários da próxima grande indústria global.

E é por isso que eu descordo do presidente Barack Obama quando este indica que precisa se concentrar na ampliação do sistema de saúde e colocar a lei de energia e clima - atualmente no senado - em plano secundário.

O sistema de saúde e a lei de energia e clima andam de braços dados. Neste momento precisamos de ambas. Imaginem como seríamos pobres hoje em dia se as firmas dos Estados Unidos não dominassem as dez principais companhias da Internet. Bem, se nós não dominarmos as dez principais posições no setor de E.T., não haverá como sermos capazes de sustentar um sistema de saúde decente para todos os norte-americanos. De jeito nenhum.

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