quarta-feira, 8 de julho de 2009

Posição de Obama rechaça apontar de dedo de Chávez

The New York Times
Simon Romero
Em Caracas (Venezuela)

Desde o instante em que ocorria o golpe em Honduras no fim de semana, o presidente Hugo Chávez estava com seu manual preparado. Ele disse que as mãos de Washington estavam por toda parte, alegando que os americanos tinham financiado os oponentes do presidente Manuel Zelaya e insinuando que a CIA tinha promovido uma campanha de desinformação para estimular os golpistas.

Mas o presidente Barack Obama condenou firmemente o golpe, desarmando as acusações de Chávez. Em vez de se envolver em uma troca de acusações, Obama descreveu calmamente o golpe como "ilegal" e pediu pelo retorno de Zelaya à presidência. Apesar de Chávez ter continuado retratando Washington como responsável pelo golpe, outros na América Latina não viam dessa forma.

"Obama Lidera Reação a Golpe em Honduras", dizia na terça-feira a manchete de capa de "O Estado de São Paulo", um dos mais influentes jornais do Brasil, cujos laços com Washington estão ficando mais estreitos.

Nos últimos anos, Chávez frequentemente parecia superar Washington nestas questões. Ele explorou o baixo prestígio do governo Bush após a guerra no Iraque e sua aprovação tácita ao breve golpe que o derrubou em 2002, culpando os Estados Unidos pelos males na Venezuela e por toda a região.

Agora essas táticas podem perder força, já que o governo Obama busca uma solução multilateral à crise em Honduras ao se voltar à Organização dos Estados Americanos. Ao fazê-lo, Obama se distancia das políticas que isolaram os Estados Unidos em partes do hemisfério.

"Com Honduras, o governo Obama seguiu a rota mais em sintonia com os demais países na região", disse Peter DeShazo, diretor do programa para as Américas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Honduras, que há muito mantinha laços estreitos com Washington, recentemente despontou como alvo dos interesses tanto da Venezuela quanto dos Estados Unidos. Com petróleo subsidiado, Chávez atraiu Honduras para sua aliança esquerdista, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas). Por sua vez, os Estados Unidos não cortaram sua ajuda militar e de desenvolvimento a Honduras, em uma tentativa de manter a influência no país.

Mas enquanto Chávez tem aliados na Bolívia e no Equador que tiveram sucesso em mudar as Constituições para permanecerem mais tempo no poder -seguindo seu exemplo na Venezuela- sua intervenção em Honduras acentuou a tensão naquele país. Relatos de que a Venezuela enviou um avião para Honduras na semana passada, contendo material eleitoral para o referendo no centro do choque de Zelaya com a Suprema Corte, provocaram considerável desconforto no país.

Chávez retrata seu apoio a Zelaya como outro exemplo da defesa de seu estilo de democracia, que reforça as presidências às custas dos outros poderes do governo. Mas alguns países estão resistindo à tendência de permitir que seus líderes estendam sua permanência no poder.

Na Colômbia, por exemplo, o presidente Álvaro Uribe, um conservador populista e aliado americano, está enfrentando dificuldades no esforço para permitir que concorra a um terceiro mandato. E na Argentina, o antes popular ex-presidente, Néstor Kirchner, reconheceu a derrota nesta semana nas eleições parlamentares, colocando em dúvida as esperanças dele e de sua esposa, a presidente Cristina Fernández de Kirchner, de prorrogarem sua dinastia na próxima eleição presidencial.

Enquanto isso, Obama está buscando um envolvimento mais profundo do Brasil, ao supostamente apoiar a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente esquerdista brasileiro, como chefe do Banco Mundial. A medida quebraria a tradição de indicação de um americano ao posto e poderia reforçar o apoio às instituições multilaterais sediadas em Washington, minando as tentativas de Chávez de usar a receita do petróleo para criar suas próprias instituições rivais.

Fazer tudo isso e ao mesmo tempo ignorar as provocações de Chávez traz certos riscos para Obama, particularmente se surgir informação mostrando que há alguma verdade por trás das alegações de Chávez.

O presidente venezuelano nunca esquecerá que a CIA tinha conhecimento do golpe que o derrubou em 2002, mas mesmo assim não fez nada para impedi-lo, e que Washington tem uma história recente de fornecer ajuda a grupos que criticam seu governo, deixando os Estados Unidos abertos às acusações de interferência e até mesmo desestabilização.

Além disso, a retórica antiestablishment de Chávez, voltada contra as elites em Washington e outros lugares, ainda tem apelo junto a muitas pessoas aqui na Venezuela e na América Latina.

Mas por ora, pelo menos, a diplomacia de não-confronto parece ter pego Chávez desprevenido. "Chávez está começando a entender que está lidando com alguém com uma abordagem muito diferente daquela de seu antecessor", disse Michael Shifter, vice-presidente da Diálogo Interamericano, um grupo de pesquisa de políticas em Washington.

O papel exagerado de Chávez na crise em Honduras, que envolveu ameaças de guerra caso a embaixada da Venezuela em Honduras fosse revistada, esconde as limitações da influência da Venezuela no hemisfério, à medida que os Estados Unidos reajustam suas políticas de uma forma que lembra a diplomacia pragmática de outro poder na região, o Brasil.

Depois que a poeira assentar em Honduras, a aliança de Chávez ainda incluirá alguns dos países mais pobres e tomados por conflitos da região, como a Bolívia e a Nicarágua, com os países maiores optando por outros caminhos de desenvolvimento.

Enquanto isso, as ameaças de Chávez de beligerância na América Central levaram um partido de oposição daqui, o Acción Democrática, a emitir uma declaração cheia de ironia na segunda-feira: "Hugo Chávez se transformou no George Bush da América Latina".

Nenhum comentário: