quinta-feira, 18 de junho de 2009

Em meio a novos protestos, Irã critica 'interferência externa'

BBC

Dezenas de milhares de iranianos voltaram às ruas da capital, Teerã, para protestar nesta quarta-feira contra os resultados das eleições presidenciais realizadas na semana passada.

Os manifestantes cobram a realização de novas eleições e reclamam de fraude na votação da última sexta-feira, que - segundo resultados oficiais - terminou com a vitória do presidente Mahmoud Ahamadinejad.

Em meio aos novos protesto, o governo do Irã convocou embaixadores estrangeiros para reclamar de "comentários intrometidos e impertinentes" e "interferência intolerável" de outros países em assuntos internos iranianos.

Entre os embaixadores convocados pelo Ministério do Exterior iraniano estava o enviado suíço que representa os interesses americanos no Irã.

Em Washington, o Departamento de Estado americano disse que os Estados Unidos não estão interferindo no debate que os iranianos realizam sobre a eleição da semana passada e suas consequências.

Marcha

Durante o dia, testemunhas afirmaram que uma grande multidão se reuniu em uma praça no centro de Teerã para participar de uma marcha de protesto. Muitos usavam preto como uma demonstração de luto pelos que morreram nos confrontos com a polícia nos últimos dias.

Protesto em Teerã (imagem do usuário do Twitter identificado como Madyar)
Manifestantes reclamam de fraude nas eleições presidenciais iranianas

Uma manifestação ainda maior, convocada pelo candidato derrotado nas eleições, Mir Hossein Mousavi, é esperada nesta quinta-feira. O líder oposicionista convocou uma manifestação pacífica e afirmou que será um dia de luto pelas oito pessoas mortas nos recentes protestos.

Segundo o correspondente da BBC em Teerã, Jon Leyne, é difícil verificar o número de participantes nos protestos desta quarta-feira. Alguns estimam que entre 70 mil e 100 mil pessoas foram às ruas - outros falam em 500 mil pessoas.

As autoridades iranianas proibiram os jornalistas estrangeiros de acompanhar manifestações não autorizadas e também de se movimentar livremente pela capital, mas não há controle sobre o que esses jornalistas podem escrever ou afirmar.

De acordo com Leyne, o governo ameaçou prender blogueiros, mas ainda não apresentou uma estratégia mais clara para enfrentar os protestos.

Faixas verdes

Relatos indicam que a marcha desta quarta-feira, na região central de Teerã, teria sido silenciosa para evitar uma provocação às autoridades.

Os manifestantes levaram cartazes em que reforçavam a reclamação de fraude nas eleições. A televisão estatal iraniana exibiu rapidamente imagens do protesto.

Muitas pessoas usaram preto e verde, cor associada à campanha eleitoral de Mousavi. Em Seul, na Coreia do Sul, seis jogadores da seleção iraniana de futebol, incluindo o capitão do time, entraram em campo com faixas verdes nos braços para disputar uma partida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.

Desde o último sábado, quando os protestos se intensificaram, oito pessoas morreram em enfrentamentos entre manifestantes e forças policiais.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, pediu calma à população e o fim das tensões.

Prisões e batidas

Na manhã desta quarta-feira, relatos indicavam que duas figuras da oposição, o ativista e jornalista Reza Jalaipour e o comentarista Saeed Laylaz, foram presas no Irã.

Laylaz é um analista político e econômico crítico ao governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad e presença frequente em reportagens da imprensa estrangeira.

Cerca de cem opositores foram presos no domingo em meio aos protestos. Muitos foram liberados posteriormente.

Durante a madrugada, membros da milícia Basij teriam realizado operações em residências estudantis em diversas cidades do país. Estudantes teriam sido agredidos e prédios, revistados. O reitor da universidade na cidade de Shiraz renunciou ao cargo.

Os estudantes estão entre os mais ativos membros da oposição iraniana, e a atuação das forças policiais em ambientes estudantis tem criado tensões. No incidente mais ilustrativo dos últimos dias, 120 professores da Universidade de Teerã pediram demissão após uma batida na instituição.

Em meio à crise, o Conselho dos Guardiões do Irã - órgão que supervisiona a eleição presidencial - anunciou que está disposto a recontar os votos do pleito contestados pela oposição.

Mas um porta-voz do conselho disse à TV estatal iraniana que a eleição não será anulada, como exigem os candidatos moderados. A oposição diz que a recontagem seria insuficiente, já que milhões de cédulas eleitorais teriam desaparecido.

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