sábado, 20 de junho de 2009

As reações à crise iraniana

Bruno Garcez
BBC

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O presidente Barack Obama se limita a dizer que as cenas de violência no Irã, que mataram ao menos oito pessoas, lhe causaram ''profunda preocupação''.

Hoje, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, pediu a suspenção de manifestações de rua contra o resultado da eleição e as supostas fraudes que atingiram o pleito, lançando ameaças veladas de repressão.

Obama se viu forçado a reagir.

Mas o líder americano manteve o tom cauteloso, dizendo que ''todo mundo está assistindo'' aos desdobramentos da crise e acrescentando que os manifestantes têm o direito de se exprimir sem o risco de sofrer violência.

Obama tem evitado questionar a lisura do processo e preferiu não se aprofundar nas amplas denúncias de fraude que se seguiram ao pleito.

Muitos nos Estados Unidos compreendem a preocupação do presidente em evitar que os americanos sejam vistos como ''penetras'' em assuntos internos iranianos.

E, com isso, ameaçar polarizar ainda mais o clima no país e oferecer um pretexto para uma repressão violenta ao movimento oposicionista do Irã.

Mesmo com toda a cautela, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, já está acusando os americanos de ingerência na política iraniana.

Mas o Congresso e o Senado dos Estados Unidos decidiram que é hora de agir, se anteciparam ao líder americano e aprovaram nesta sexta-feira moções condenando o regime do Irã.

Para o candidato presidencial derrotado, o senador John McCain, Obama deveria falar publicamente que ''esta é uma eleição fraudada, corrupta'' e que os Estados Unidos apóiam o povo iraniano contra um regime opressivo.

A prudência do líder americano é o outro lado da moeda da ''real politik'' manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim que indagado sobre os resultados da eleição, Lula afirmou que seria improvável ter havido fraude, visto que Mahmoud Ahmadinejad conquistou mais de 60% dos votos.

O líder brasileiro chegou a dizer que os protestos e denúncias lembravam a disputa de um Flamengo e Vasco, comentário quase quase idêntico ao do próprio Ahmadinejad, que comparou a divergência a um jogo de futebol.

Tanto o silêncio americano como o pragmatismo brasileiro se devem ao fato de que Estados Unidos e Brasil têm interesses em relação ao Irã que vão além do resultado da disputa eleitoral.

Os americanos buscam negociar diretamente com os iranianos o fim do programa nuclear do país.

E o Brasil, que deseja ter cada vez mais um papel ativo em fóruns multilaterais e finalmente assegurar o tão buscado assento no Conselho de Segurança da ONU, quer se cercar de amigos em tudo que é canto.

Por isso, o presidente Lula se apressou em dizer que o convite para Ahmadinejad visitar o Brasil segue de pé e que continua interessado em ir ao Irã.

Ele prefiu não levar em conta os inúmeros questionamentos sobre a legitimidade do regime iraniano, caso se confirme o quadro atual, e as perspectivas de uma explosão de violência no país, caso a tensão se intensifique.

Por isso, ainda que fazendo uso de expedientes totalmente distintos, ambos países estão colocando interesses nacionais acima da natureza do regime com o qual se negocia.

O líder da França, Nicolas Sarkozy, também demonstrou ponderação, mas salientou que não se pode deixar de identificar erros, quando estes são percebidos.

''Sou sempre favorável ao diálogo com o Irã, mas quando temos que condenar, nós condenamos.''

Lula e Obama deveriam analisar a frase do colega francês e encará-la como um conselho.

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