quarta-feira, 19 de maio de 2010

Waltz with Bashir (crítica de cinematograficamente falando)

Muitas vezes o cinema tem necessidade de afirmar, denunciar, apontar o dedo aos culpados, mostrar horrores e testemunhar consciências, a isto chama-se filme-denúncia, que tem o intuito de exibir o que de errado se passa pelo Mundo. Claro que os tempos são diferentes do outrora e no que requer a denunciar temos a televisão, nomeadamente os telejornais que sensacionalizam os temas que mais preocupam a sociedade, mas existe algo mais vulgar que um telejornal? Claro que não, e conforme seja o destaque da noticia como é o caso dos intensivos confrontos na faixa de Gaza ou das atrocidades cometidas no Médio Oriente, um simples espectador apenas o encara como uma informação daquilo que se passa, nada mais, sem o intuitivo de comover-se ou de uma futura intervenção. Uma personagem de Joaquim Phoenix no filme de Terry George, Hotel Rwanda, citou o seguinte acerca de uma reportagem de um genocídio com o intuito de ser exibido num dito telejornal “I think if people see this footage, they'll say Oh, my God, that's horrible. And then they'll go on eating their dinners”, penso que a frase não precisa de comentários.

Ao contrário dos filmes-denúncia ainda temos os testemunhos em forma de película, relatos de vivências que na actualidade parecem ser motivo para a concepção de novas animações convencionais, Waltz with Bashir de Ari Folman é um narro na primeira pessoa em forma de documentário dos massacres ocorridos em Beirute, Líbano levada a cabo por soldados falangistas cristãos e soldados israelitas, o qual Ari Folman (realizador e protagonista) integrava. O massacre foi cometido de forma barbara, matando milhares de palestinos civis e fazendo com inúmeros jovens soldados de Israel quisesse forçosamente esquecer o sucedido. Uma das nódoas da história do século XX, contada, testemunhada por um “filho de Israel” como uma confissão se tratasse. A verdade é que não haveria melhor altura deste filme ter surgido nas nossas salas, num momento em que os conflitos ena faixa de Gaza, israelita contar palestinianos parece intensificara dia-a-dia, Waltz with Bashir tem o mérito de não escolher lados, de não encaminhar o espectador para o culpado e de não sensacionalizar o sucedido, o que o documentário misto animação consegue fazer com o espectador é lançar um «BASTA”, um apelo ao fim de um confronto que parece virar rotina nos telejornais.

Poderá assemelhar-se ao aclamado Persepolis, mas ao contrário da fita da autoria de Marjane Satrapi ser um testemunho animado aos tons de preto-e-branco no que requer a denunciar, sem nunca evitar os maniqueísmos, em Waltz with Bashir não existe tempo para julgamentos. A animação é talvez das mais vivas e artísticas do novo milénio, esquecendo um pouco do lançamento em massa dos gráficos digitais, a sua narrativa via documentaria é um dos grandes exemplos que o cinema se encontra em movimento e sempre em evolução. Com cenas animadas capazes de surpreender, algum humor negro a criar mise-en-scené incontornáveis, e uma noção histórica imaculada em que qualquer pormenor não é deixado para trás. Foi com a valsa por Bashir que se encontrou a graciosidade da esperança, essa, de um dia dois povos viverem em coexistência e não em guerra. No final fiquei comovido, nunca me senti assim desde há muitos anos atrás, pela primeira vez senti triste pelo que se está a passar no Médio Oriente, encarei o conflito com outro olhar e atitude. Foi cerca de duas horas tenebrosas, nesta “A Lista de Schindler” da animação.

PS – O Bashir do título é referente a Bashir Gemayel, um comandante das forças milícias falangistas que subiu á presidência do Líbano, mas cujo seu assassinato foi catalisador dos massacres representados no filme, o título por inteiro é a referência a uma cena da película em que exibe um soldado israelita a “enfrentar” a morte, disparando sobre o inimigo em terreno aberto, e para evitar as balas dos palestinos, movimentava-se hiperactivamente para que soa-se uma dança, por outras palavras uma valsa, Bashir deve-se ao enorme cartaz que se encontrava no momento da sequência. Para finalizar só quero dizer que começamos já o ano em grande.

O melhor – A atribuição de responsabilidades levado a cabo pela fita sem nunca recorrer ao maniqueísmo


O pior –
O fato de ser uma animação e ter sido ignorado pela grande cadeia de cinemas, irá fazer com que Waltz with Bashir não encontre o seu público merecido.


Pra quem ainda não teve tempo de ver, disponibilizamos todas as partes do documentário aqui (em inglês):
























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