segunda-feira, 22 de junho de 2009

Há duas opções no Irã - queda do regime ou radicalização contra opositores

por Gustavo Chacra

Faz 30 anos que caiu o regime do Xá Reza Pahlevi e as semelhanças com o cenário atual são óbvias. Um regime repressor, jovens nas ruas, mortes, um líder. Na época, o equivalente das Guardas Revolucionárias era a sanguinária Savak.

No Ocidente, poucos acreditavam que fosse possível o xá ser derrubado, com todo o seu poderio militar e o apoio dos EUA. Mas os revolucionários, que englobavam não apenas islâmicos, mas também intelectuais, marxistas, democratas, comerciantes dos bazares e uma série de outras classes da complexa sociedade iraniana conseguiram expulsar o antigo governante de Teerã e iniciar um experimento sem paralelo na história recente.

Não se imaginava, naquele momento, que Ruthola Khomeini fosse instalar um regime islâmico. Mas, aos poucos, os radicais se fortaleceram e o Irã se converteu nesta mistura de teocracia com certas liberdades democráticas como o direito ao voto.

O fortalecimento do aiatolá Khomeini se deveu em grande parte à invasão iraquiana, sob o comando de Saddam Hussein. A população iraniana se uniu e o Irã travou o mais sangrento conflito no Oriente Médio depois do fim da Segunda Guerra. O número de mortos supera o total de vítimas da Guerra do Líbano, Guerra do Iraque, Guerra de 1948, Guerra de Suez, Guerra dos Seis Dias e Guerra do Yom Kippur.

Hoje, o levante iraniano envolve algumas das classes presentes em 1979. De novo, muitos jovens. A maioria clama por democracia. Destaque para a presença de mulheres. Relatos de jornalistas em Teerã e no Twitter indicam que, aos poucos, policiais iranianos e mesmo soldados leais ao regime começam a mudar de lado. Foi assim que o xá caiu. Não dá para saber até que ponto os casos são isolados ou até mesmo verídicos. Também dizem que os comerciantes dos bazares, uma força importante na história do Irã, estão com Mir Hussein Mousavi, o herói da vez. Sem falar no ex-presidente Rafsanjani.

Para derrubar o regime, seria preciso um estopim. Este já aconteceu, com a provável fraude eleitoral. Depois, vieram as manifestações. O poder econômico, aparentemente, está com os opositores. Se o Exército mudar de lado, cai Ahmadinejad e, muito provavelmente, o aiatolá Ali Khamanei. Mais uma vez, o Irã estaria na vanguarda da história.

Claro, ainda existe risco enorme de o regime se radicalizar, prender Rafsajani, Mousavi e centenas de jovens. Mas, de qualquer forma, Khamanei se tornou um homem comum, muito longe de representar o que Khomeini representou para o início do regime. O líder supremo está com a credibilidade de um Berlusconi na hora de dar uma opinião. E Ahmadinjead, com toda a sua pinta de honesto, de morar em uma casa pobre e com seu terno envelhecido, provou que não passa de um populista que usa um discurso anti-semita com o suposto intuito de defender os palestinos, apesar de apenas prejudicá-los, enquanto é conivente com a morte de jovens em seu próprio país. Tampouco permite que jornalistas estrangeiros possam cobrir os eventos em Teerã, apesar de ter criticado israelenses e egípcios por este mesmo motivo em Gaza. Nas ruas árabes, sua imagem aos poucos se assemelha à de um Hosni Mubarak.

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