José Roberto Goldim
A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero clonado por transferência nuclear de células somáticas. O Prof. Ian Wilnut, do Instituto Roslin, da Escócia, foi o pesquisador responsável por este experimento. O estudo foi publicado em 1997, mas foi realizado ao longo de 1995 e 1996.
A ovelha Dolly nasceu em 05 de julho de 1996. O nome Dolly foi uma referência a cantora norte-americana Dolly Parton. O núcleo utilizado no processo de clonagem foi oriundo de uma célula da glândula mamária de uma ovelha de seis anos denominada Bellinda, da raça Finn Dorset. Uma outra ovelha, chamada Fluffy, da raça Scottish Blackface, foi a doadora do óvulo utilizado para receber este núcleo, Finalmente, uma terceira ovelha, Lassie, da raça Scottish Blackface foi quem gestou a ovelha Dolly. Para evitar que pudessem ser misturadas características destas três fêmeas, elas eram de raças com características fenotípicas diferentes entre si. Vale lembrar que foram feitas 276 tentativas para ser obtido um animal clonado viável.
A comunicação do nascimento da Dolly gerou inúmeras reações contrárias e favoráveis à sua realização. Muitas pessoas se posicionaram imediatamente contra, pois viam neste procedimento uma ameaça contra a dignidade humana. Inúmeros países, inclusive o Brasil, estabeleceram medidas jurídicas para impedir que este processo fosse utilizado em seres humanos. Outros achavam que isto era inerente ao progresso da ciência e que não havia problema algum. Um terceiro grupo, dentre os quais inclui-se o Prof. Joaquim Clotet, reconheceu que este procedimento tinha riscos, mas que não deveria ser simplesmente banido. Segundo esta linha de pensamento, o Princípio da Precaução deveria ser utilizado neste caso.
Outra controvérsia surgida, não em termos de adequação ética, mas sim científica, foi a possibilidade da Dolly não ser efetivamente um clone de célula somática. Bellinda, a ovelha que doou o óvulo estava grávida no momento da coleta das células somáticas e já havia morrido três anos antes. O material utilizado estava congelado. No início de 1998, o próprio Prof. Wilnut admitiu a possibilidade de que tenha havido um "engano" e que a ovelha Dolly não seja de fato um clone de células típicas de um animal adulto. Alguns propuseram que poderia ter havido uma clonagem a partir de células embrionárias, que não seria uma inovação. Isto foi esclarecido apenas em junho de 1998 com a publicação de uma correspondência científica publicada na revista Nature sobre as características genéticas da Dolly.
Em 13 de abril de 1998 a Dolly teve um filhote, a ovelha Bonnie, em um cruzamento habitual com o carneiro montês da raça Welch, chamado David. Esta situação permitiu verificar que ela era fértil e capaz de reproduzir. Em 1999 a Dolly gerou mais três filhotes em uma única gestação, que tiveram problemas.
Em janeiro de 2002 outra importante questão surgiu com o diagnóstico de uma forma rara de artrite em Dolly. Esta doença não é habitual em ovelhas com cinco anos de idade. Muitos interpretaram esta doença como um sinal de envelhecimento precoce. A rigor não se tem certeza de como ocorre o processo de envelhecimento em um mamífero clonado. Foi constatado que os telômeros da Dolly eram 20% menores que o previsto para animais de sua idade. A Dolly teria cinco anos ou onze anos? Cinco de vida própria ou onze cumulativamente com a idade de Bellinda (5+6). De acordo com estudos realizados em outros animais clonados, a ovelha Dolly pode ser uma exceção, pois a maioria destes animais tem uma vida mais curta que o esperado para a sua espécie. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que poderiam haver fatores ambientais que tivessem facilitado o aparecimento da doença, tais como o confinamento que o animal estava sendo submetido e o sobrepeso dele decorrente. A obesidade também foi verificada como sendo um problema em outros animais clonados.
O surgimento de uma infecção pulmonar não controlável, comum em animais velhos mantidos em confinamento, fez com que os pesquisadores do Instituto Roslin optassem por fazer a eutanásia de Dolly, as 15 horas do dia 14 de janeiro de 2003, com o objetivo de minorar o seu sofrimento.
Este final da vida de Dolly acrescentou mais dúvidas à utilização de processos de clonagem seja para fins reprodutivos ou não. Se a Dolly teve envelhecimento precoce, como indicam os sinais da redução dos telômeros, também já comprovados em outros clones, ou se a artrite e a doença pulmonar foram devidos ao estilo de vida a ela imposto é uma dúvida que ainda persistirá. O mais provável é que seja uma interação entre ambos. O que importa é que não se pode assegurar que este processo é útil e seguro, seja para o indivíduo gerado em uma clonagem reprodutiva ou para as linhagens de células embrionárias que serão utilizadas terapeuticamente. Os riscos ainda estão situados no campo das incertezas, mas já dão indícios de que o processo não seja tão promissor quanto parecia no início de sua proposta.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
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