Jon Leyne
De Teerã para a BBC News
Com a continuação de manifestações contra os resultados da eleição presidencial no Irã, a situação na capital, Teerã, está se tornando imprevisível e potencialmente explosiva.
Durante todo o domingo, multidões se concentraram em diversas áreas, em protestos que não haviam sido organizados.
Em congestionamentos, motoristas tocavam a buzina para expressar oposição ao governo. Multidões nas calçadas cantavam e faziam sinais de vitória com as mãos.
Em alguns lugares, a polícia compareceu em grande número. Alguns policiais estavam aparelhados para enfrentar confrontos. Outros apareceram na garupa de motocicletas.
Aparentemente, eles receberam instruções claras para não abrir fogo. Embora fosse possível ouvir tiros ocasionais, a maior parte da polícia usava cassetetes de maneira brutal.
Aspirações sufocadas
É difícil obter um quadro confiável da dimensão dos protestos em Teerã e, mais ainda, no resto do país.
Mas eles se propagaram rapidamente durante a noite. O barulho da multidão foi ouvido até mesmo nos bairros de classe média, que costumam ser mais sossegados.
Muitos iranianos subiram nos telhados das casas para gritar slogans como "abaixo o ditador".
Os protestos se transformaram em um desafio não apenas ao resultado das eleições, não apenas ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, mas também ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Isso significa um desafio a toda a base da república islâmica.
Durante dois anos, pude observar jovens e ambiciosos iranianos tocando suas vidas em meio a uma crescente frustração.
Eles sentem que o sistema sufoca suas aspirações. Agora, eles acreditam que sua inteligência e seu orgulho foram insultados por um resultado eleitoral que muitos iranianos acreditam ter sido fraudado de uma forma grosseira.
E a forma quase despreocupada com que o presidente Ahmadinejad rejeitou as reclamações apenas aumentou a raiva dos iranianos.
Sem precedentes
Apesar dos protestos, o presidente Ahmadinejad ainda tem muitos partidários.
Muitos deles apareceram no comício de vitória que o presidente fez no centro de Teerã na tarde de domingo.
Ele concentrou seu discurso em críticas a governos de outros países e à imprensa internacional, responsabilizando-os pelos problemas na eleição.
Agora existe o risco de que os dois lados das manifestações no Irã se enfrentem.
E muitos temem que o governo dê a autorização para que a polícia abra fogo se a situação ficar fora de controle.
Mas ainda é difícil avaliar que tipo de concessão política poderá ser feita.
Ahmadinejad continua com sua postura de desafio, confiante no apoio do líder supremo. E a oposição vai descobrir que o recurso (contra o resultado das eleições) tem mínimas chances de ser bem sucedido.
É uma situação sem precedentes nos 30 anos de história da república islâmica e é impossível prever seu resultado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário