terça-feira, 24 de novembro de 2009

A emergência brasileira e os atritos com os EUA

Enviado por Gilberto Scofield

A decisão do Brasil de apoiar as pretensões nucleares do Irã — aliada às críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito aos EUA, a maneira como o país vem lidando com a questão hondurenha e até a postura pouco crítica ao abusos do governo de Hugo Chavez nos terrenos da liberdade de imprensa e direitos humanos — podem todos prejudicar a relação entre o Brasil e os EUA e atrapalhar as pretensões da política externa brasileira de consolidar o país como grande líder global e regional.

A opinião é de analistas das relações entre os EUA e o Brasil, que vem sendo acusado de perder o equilíbrio e a sensatez na sua ânsia de "agradar a todos os países":
— A intenção do Brasil de querer ser um interlocutor de todos os países é absolutamente legítima e deriva da emergência que o país conquistou no cenário internacional nos últimos anos — diz Eric Farnsworth, vice-presidente do Council for the Americas. — Mas esta aproximação tem que ser feita com cuidado, para que não comprometa a confiança que outros paíse possuem no Brasil. Afinal, quem quer um país tão próximo do Irã, um pária internacional, sentado no Conselho de Segurança da ONU?

Peter Hakim, presidente do Inter-Americana Dialogue, afirma que a política externa brasileira este ano vem perdendo certo senso de equilíbrio que sempre a caracterizou e que é fundamental para um país que tem pretensões de fazer parte do grupo de países que incluenciam nos rumos do planeta.

— É preciso que a diplomacia brasileira tenha mais habilidade para enxergar certas discrepâncias. Não é possível, por exemplo, apoiar incondicionalmente Hugo Chavez diante de um governo cada vez mais autoritário. Ou criticar a atuação dos EUA na mediação dos conflitos no Oriente Médio se os próprios palestinos e israelenses pedem isso. E não é possível defender um programa nuclear iraniano, que se recusa a ser monitorado pela comunidade internacional. Isso fere a imagem do país — diz Hakim.

A professora de ciências políticas internacionais da Universidade George Washington, Cynthia McClintock, afirma que, com a declaração de Lula ontem, o Brasil ajuda a legitimizar as demandas do presidente Mahmoud Ahmadinejad, colocando o país numa situação "não exatamente positiva", já que Lula não pressionou o presidente iraniano em nada: do monitoramento internacional de seu projeto nuclear, a sua polêmica reeleição ou as violações de direitos humanos no país.

— É uma vitória iraniana importante ter Lula como aliado em sua política de enfrentamento dos EUA e da União Européia.— diz ela.

Em uma reportagem na edição de ontem do jornal "The New York Times", o deputado democrata Elliot L. Engel, presidente do Subcomitê da Câmara dos Representantes que cuida do Hemisfério Ocidental, fez uma ácida crítica à decisão brasileira: "Esta visita é um erro ofensivo, um terrível erro. Ele (Ahmadinejad) é ilegítimo para sua própria população e o Brasil agora vai dar a ele um ar de legitimidade num momento em que o mundo está tentando achar um meio de prevenir o Irã de ter armas nucleares. Não faz sentido para mim e e mancha a imagem do Brasil, francamente".

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