quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Caminhões, trens e árvores

The New York Times
Thomas L. Friedman
Na Floresta Nacional de Tapajós (Brasil)

Não importa quantas vezes você ouça a respeito, há algumas estatísticas que simplesmente impressionam. Uma que sempre me espanta é esta: imagine pegar todos os carros, caminhões, aviões, trens e navios no mundo e somar todas as suas emissões anuais.

A quantidade de dióxido de carbono, ou CO2, de todos os carros, caminhões, aviões, trens e navios emitida coletivamente na atmosfera é, na verdade, menor do que as emissões anuais de carbono que resultam do corte e desmatamento de florestas tropicais em lugares como o Brasil, Indonésia e Congo. Nós estamos atualmente perdendo todo ano uma floresta tropical do tamanho do Estado de Nova York e o carbono que isso lança na atmosfera agora representa aproximadamente 17% de todas as emissões globais que contribuem para a mudança climática.

Vai demorar muito até transformarmos toda a frota de transporte do mundo para que se torne livre de emissões. Mas no momento - tipo amanhã - nós poderíamos eliminar 17% de todas as emissões globais se pudéssemos suspender o corte e queima das florestas tropicais. Mas, para isso, é necessária a implantação de todo um novo sistema de desenvolvimento econômico - um que torne mais lucrativo para os países mais pobres, ricos em florestas, preservar e administrar suas árvores, em vez de cortá-las para fabricação de móveis ou plantar soja.

Sem um novo sistema de desenvolvimento econômico nos trópicos ricos em madeira, é possível dizer adeus às florestas tropicais. O velho modelo de crescimento econômico as devorará. A única Amazônia que seus netos conhecerão será a Amazon, a loja pontocom.

Para melhor entender esta questão, eu estou visitando a Floresta Nacional de Tapajós, no coração da Amazônia brasileira, em uma viagem organizada pela Conservação Internacional e pelo governo brasileiro. Voando aqui em um bimotor que decolou de Manaus, é possível entender porque a floresta Amazônica é considerada um dos pulmões do mundo. Mesmo a 6 mil metros de altitude, para toda direção em que se olhe se encontra uma vastidão contínua de copas de árvores que, do ar, parece um vasto e interminável carpete de brócolis.

Assim que pousamos, nós dirigimos de Santarém até Tapajós, onde nos encontramos com uma cooperativa comunitária que administra os negócios bons para o meio ambiente que sustentam 8 mil pessoas que vivem nesta floresta protegida. O que você aprende quando visita uma minúscula comunidade brasileira que de fato vive na e da floresta é uma verdade simples, mas crucial: para salvar um ecossistema da natureza, é preciso um ecossistema de mercados e governança.

"É preciso um novo modelo de desenvolvimento econômico - um baseado na elevação dos padrões de vida das pessoas pela manutenção de seu capital natural, não apenas convertendo esse capital natural em agropecuária industrial ou extração de madeira", disse José Maria Silva, vice-presidente para a América do Sul da Conservação Internacional.

No momento, as pessoas que protegem a floresta tropical recebem uma ninharia - em comparação à aqueles que a destroem - apesar de agora sabermos que a floresta tropical fornece de tudo, desde a remoção de CO2 da atmosfera até a manutenção do fluxo de água doce aos rios.

A boa notícia é que o Brasil implantou todos os elementos de um sistema para compensar os moradores da floresta pela sua manutenção. O Brasil já separa 43% da Amazônia para conservação e para os povos indígenas. Outros 19%, da Amazônia, entretanto, já foram desmatados por agricultores e pecuaristas.

Logo, a grande pergunta é o que acontecerá com os outros 38%. Quanto mais fizermos o sistema brasileiro funcionar, mais desses 38% serão preservados e menos reduções de carbono o mundo todo teria que fazer. Mas isso exige dinheiro.

Os moradores da reserva de Tapajós já são organizados em cooperativas que vendem ecoturismo por trilhas na floresta, móveis e outros produtos feitos de madeira extraída de forma seletiva e sustentável e uma linha muito atraente de bolsas feitas de "couro ecológico", isto é, borracha da floresta. Elas também recebem subsídios do governo.

Sérgio Pimentel, 48 anos, explicou para mim que costumava plantar cerca de 2 hectares de terra para subsistência, mas agora usa apenas 4 mil metros quadrados para sustentar sua família de seis. O restante da renda vem dos negócios da cooperativa. "Nós nascemos dentro da floresta", ele acrescentou. "Logo, nós sabemos da importância dela ser preservada, mas precisamos de melhor acesso aos mercados globais para os produtos que fazemos aqui. Você pode nos ajudar com isso?"

Há cooperativas comunitárias como esta por todas as áreas protegidas da floresta Amazônica. Mas este sistema precisa de dinheiro -dinheiro para expansão para mais mercados, dinheiro para manutenção da vigilância e fiscalização policial e dinheiro para melhorar a produtividade da atividade agropecuária em terras já degradadas, para que as pessoas não desmatem mais floresta. Este é o motivo para precisarmos assegurar que, qualquer que seja o projeto de lei de energia e clima que saia do Congresso americano, qualquer que seja a estrutura que saia da conferência de Copenhague, no próximo mês, ela inclua medidas para financiamento de sistemas de preservação da floresta tropical como esses no Brasil. Os últimos 38% da Amazônia ainda estão em jogo. Eles estão lá para salvarmos. Seus netos agradecerão.

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