quarta-feira, 12 de agosto de 2009

América do Sul em estado de alerta: crise das bases militares leva Unasul a convocar uma cúpula de emergência

El País
Paúl Mena
Em Quito (Equador)

A preocupação da região devido à decisão da Colômbia de permitir o uso de sete bases militares pelos EUA disparou os alarmes na cúpula de segunda-feira (10) de presidentes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) em Quito (Equador). O tema é tão polêmico que o grupo decidiu convocar uma nova cúpula de presidentes em Buenos Aires, mas desta vez com a presença de Álvaro Uribe, o presidente colombiano, que não veio a Quito devido às más relações entre os dois países.
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A Bolívia chegou a propor uma resolução de rejeição ao acordo militar entre EUA e Colômbia, mas a iniciativa não conseguiu o consenso da maioria e se decidiu convocar uma reunião de ministros da Defesa e das Relações Exteriores do grupo em 24 de agosto em Quito, para voltarem a tratar do tema, antes do encontro em Buenos Aires. A maioria dos chefes de Estado tentou, apesar da preocupação, ter um tom conciliador com a Colômbia. Todos menos o venezuelano Hugo Chávez.

Quando o encontro estava prestes a terminar, Chávez advertiu que o uso de bases colombianas por parte dos EUA "pode ser o começo de uma tragédia para a região". Ele acrescentou que seu país se sente ameaçado pelo acordo e que a Venezuela não permitirá que tropas colombianas irrompam em seu território como ocorreu no Equador. "Há dignidade na Venezuela; não vou permitir que façam à Venezuela o que fizeram ao Equador... A Venezuela está se preparando, porque nos têm na mira. E a razão é uma... o petróleo", disse Chávez. Ele insistiu que "ventos de guerra começam a soprar" na América do Sul.

Correa concordou que o uso americano de bases militares na Colômbia representa "uma provocação para a região". O presidente equatoriano lembrou que o Equador sofreu durante muitos anos os efeitos da guerra colombiana contra a guerrilha e o narcotráfico, e afirmou que o tema das bases não significam problema de soberania de um país, mas um assunto de segurança à estabilidade regional.

Os presidentes do Brasil, Argentina e Paraguai lançaram uma mensagem mais prudente. "Não concebo a possibilidade de aumentar os conflitos na região em um momento em que tudo leva a crer que quanto mais paz tivermos mais oportunidade teremos de recuperar o tempo perdido e dar a nossos povos o que necessitam", disse Lula. "Vamos ter de entrar em acordo sobre o futuro da Unasul, porque senão há essa relação amistosa entre nós estamos criando em vez de uma instituição de integração um clube de amigos rodeados de inimigos", acrescentou o presidente brasileiro. Depois do encontro de presidentes da Argentina, está previsto organizar uma reunião com Barack Obama, para, sob a proposta de Lula, realizar uma discussão profunda sobre a relação dos EUA com a América do Sul.

Diante da ausência do presidente Uribe, a vice-ministra colombiana das Relações Exteriores, Clemencia Forero, afirmou que "não havia nem haverá bases militares estrangeiras na Colômbia" e afirmou que com os EUA "seria implementado um acesso limitado para realizar as ações coordenadas contra o narcotráfico e o terrorismo". Forero pediu que nas discussões da Unasul que se aproximam sejam incluídas "outras situações de tensão na região, como o tráfico ilícito de armas, a atividade dos grupos armados ilegais e a corrida armamentista", em clara alusão à Venezuela.

O encontro da Unasul em Quito ocorre quando existe um ambiente tenso nas fronteiras de Colômbia com Venezuela e com o Equador. Dias antes da reunião, Chávez denunciou que militares colombianos tinham entrado em território venezuelano como parte de um plano de "provocações" por parte do governo de Bogotá. O confronto se viu alimentado depois das acusações de supostos vínculos do governo de Correa com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha colombiana. Um vídeo em que aparece Mono Jojoy, um dos chefes militares das Farc, e um suposto diário de Raúl Reyes, o número 2 das Farc abatido por militares colombianos em território equatoriano, falam de relações de próximos a Correa com o grupo terrorista, incluindo o suposto financiamento da campanha do partido governamental, a Aliança País.

A reação do governo de Correa incluiu uma ruptura das relações com a Colômbia em resposta à intromissão do país vizinho em território equatoriano durante o bombardeio que resultou na morte de Reyes e outros guerrilheiros. O ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, rejeitou "a intenção da Colômbia de aplicar a teoria da extraterritorialidade; esse é o direito a atacar qualquer outro país soberano em nome do combate ao terrorismo". Correa acrescentou que há "uma orquestração internacional que tenta causar dano" a seu governo, e advertiu que "se (os colombianos) voltarem a nos bombardear, haverá guerra". No que encontrou consenso o encontro da Unasul foi em sua condenação ao golpe de estado e Honduras e em sua decisão de não reconhecer "nenhuma convocação eleitoral por parte do governo de fato". Em Quito, Zelaya qualificou de mornas as medidas de Washington contra os golpistas de seu país.

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