Olá. Vou estreiar esse blog escrevendo de Bonn, na Alemanha, onde estou cobrindo umas das últimas reuniões preparatórias da ONU para a conferência de Copenhague, em dezembro, que tem como meta nada mais nada menos do que salvar o planeta Terra da destruição em massa pelas mudanças climáticas. (ou melhor ... salvar o Homo sapiens da desgraça climática que ele mesmo começou e agora não sabe como terminar ...)
Minha primeira observação vai ser mais política do que científica -- se bem que, talvez, ela possa ser classificada como "antropologia". Isso porque, nessas negociações internacionais, a política pesa muito mais do que a ciência, infelizmente. A ciência, nesse palco representada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (o famoso IPCC, que ganhou até o Nobel da Paz com o Al Gore em 2007), diz que os países desenvolvidos precisam reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 40% até 2020, no mínimo, se quisermos manter a elevação da temperatura do planeta abaixo de 2 graus Celsius, o que nos daria uma chance minimamente segura de evitar o tal apocalipse climático.
Ninguém disputa muito isso. A ciência está sempre norteando e balisando as negociações políticas, pelo menos no que se ouve pelos microfones. Todo mundo reconhece que o aquecimento global é um problema real, seríssimo, que precisa ser combatido urgentemente por meio de reduções drásticas nas emissões globais de carbono. E, do ponto de vista econômico, o relatório Stern já mostrou que custa muito menos evitar o problema agora do que tentar se adaptar aos efeitos mais tarde. Tão certo quanto 2 + 2 = 4.
Então MARAVILHA! Estamos todos de acordo. Temos um problema comum, que precisa ser resolvido, e o melhor negócio é fazer isso agora mesmo. Pena que a concordância acaba por aí...... Quando chega a hora de dividir a conta, todo mundo esconde a carteira, diz que não tem dinheiro, que você bebeu uma cerveja a mais do que eu, que você comeu um bife, eu só comi uma salada, etc.
Claro que muitas das reivindicações são legítimas. Os países desenvolvidos estão jogando carbono na atmosfera há muito mais tempo e em quantidades muito maiores do que os países em desenvolvimento, como o Brasil. Então é mais do que justo que o ricos que estão comendo caviar e queimando gasolina há muito mais tempo paguem mais do que a gente, que acabou de se sentar à mesa. Só que a coisa não pára por aí ... os países em desenvolvimento também querem que os desenvolvidos financiem o resto da refeição para nós. E eles até concordam em fazer isso, mas na hora de abrir a carteira, não sai nada.
Sou um otimista por natureza, mas sempre saio dessas reuniões muito pessimista quanto ao futuro do planeta e da raça humana. Acho que vamos ter de levar ainda muita porrada do clima para começar a montar uma reação de verdade às nossas próprias atitudes.