quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Clima: quem paga a conta?

por Herton Escobar

Olá. Vou estreiar esse blog escrevendo de Bonn, na Alemanha, onde estou cobrindo umas das últimas reuniões preparatórias da ONU para a conferência de Copenhague, em dezembro, que tem como meta nada mais nada menos do que salvar o planeta Terra da destruição em massa pelas mudanças climáticas. (ou melhor ... salvar o Homo sapiens da desgraça climática que ele mesmo começou e agora não sabe como terminar ...)

Minha primeira observação vai ser mais política do que científica -- se bem que, talvez, ela possa ser classificada como "antropologia". Isso porque, nessas negociações internacionais, a política pesa muito mais do que a ciência, infelizmente. A ciência, nesse palco representada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (o famoso IPCC, que ganhou até o Nobel da Paz com o Al Gore em 2007), diz que os países desenvolvidos precisam reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 40% até 2020, no mínimo, se quisermos manter a elevação da temperatura do planeta abaixo de 2 graus Celsius, o que nos daria uma chance minimamente segura de evitar o tal apocalipse climático.

Ninguém disputa muito isso. A ciência está sempre norteando e balisando as negociações políticas, pelo menos no que se ouve pelos microfones. Todo mundo reconhece que o aquecimento global é um problema real, seríssimo, que precisa ser combatido urgentemente por meio de reduções drásticas nas emissões globais de carbono. E, do ponto de vista econômico, o relatório Stern já mostrou que custa muito menos evitar o problema agora do que tentar se adaptar aos efeitos mais tarde. Tão certo quanto 2 + 2 = 4.

Então MARAVILHA! Estamos todos de acordo. Temos um problema comum, que precisa ser resolvido, e o melhor negócio é fazer isso agora mesmo. Pena que a concordância acaba por aí...... Quando chega a hora de dividir a conta, todo mundo esconde a carteira, diz que não tem dinheiro, que você bebeu uma cerveja a mais do que eu, que você comeu um bife, eu só comi uma salada, etc.

Claro que muitas das reivindicações são legítimas. Os países desenvolvidos estão jogando carbono na atmosfera há muito mais tempo e em quantidades muito maiores do que os países em desenvolvimento, como o Brasil. Então é mais do que justo que o ricos que estão comendo caviar e queimando gasolina há muito mais tempo paguem mais do que a gente, que acabou de se sentar à mesa. Só que a coisa não pára por aí ... os países em desenvolvimento também querem que os desenvolvidos financiem o resto da refeição para nós. E eles até concordam em fazer isso, mas na hora de abrir a carteira, não sai nada.

Sou um otimista por natureza, mas sempre saio dessas reuniões muito pessimista quanto ao futuro do planeta e da raça humana. Acho que vamos ter de levar ainda muita porrada do clima para começar a montar uma reação de verdade às nossas próprias atitudes.

Hamas aceita e está perto de reconhecer oficialmente a existência de Israel

por Gustavo Chacra

“O Hamas está muito perto de reconhecer Israel. Mas a questão não é o direito de Israel existir. Nós sabemos que Israel está aí.”

Frase de Ahmed Yousef, principal autoridade em Relações Internacionais da organização islâmica, em entrevista à revista The Economist nesta semana. O artigo, em inglês, pode ser lido aqui

Ainda segundo a revista, citando Yousef, o Hamas reconhecerá todos os acordos assinados pela Autoridade Palestina, desde que Israel também os respeite.

Na semana passada, o Wall Street Journal publicou entrevista com Khaled Meshall, principal líder da organização, na qual ele aceita um Estado palestino nas fronteiras pré-1967, incluindo Jerusalém Oriental como capital, e o direito de retorno dos refugiados.

Pelas declarações, está claro que o Hamas já aceita a existência de Israel, mas não reconhece para ter um poder de barganha em negociações. Exige, em contrapartida, ser reconhecido

Hoje, a lista hoje dos que aceitam a existência de Israel se os israelenses retornarem para as fronteiras pré-1967 incluem

- Todos os regimes de países árabes
- Autoridade Palestina, representada pelo Fatah
- Hamas

Mas não aceitam a existência de Israel

- Regime iraniano
- Hezbollah

CENÁRIOS - O que acontece se Irã não cumprir prazo dado por Obama?

ROSS COLVIN - REUTERS

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estabeleceu o mês de setembro como prazo final para que o Irã responda à sua oferta de diálogo, mas parece cada vez mais provável que a República Islâmica, às voltas com os piores distúrbios em décadas, não lhe dê um retorno.

A grande dúvida é sobre o que Obama fará depois. Analistas dizem que ele tem poucas opções, e quase nenhuma delas é boa. Aqui estão alguns dos possíveis caminhos que ele pode seguir.

SANÇÕES

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que tomou posse do segundo mandato na semana passada, está preocupado em fortalecer sua legitimidade, significativamente enfraquecida pelos protestos depois da eleição. Dar uma resposta à oferta de conversações feita por Obama provavelmente não é uma das prioridades dele atualmente e Washington precisa considerar isso em seu processo decisório, dizem analistas.

Obama tem dito que vai revisar a política em relação ao Irã e consultar os aliados na cúpula do G-20, que no fim de setembro reunirá países ricos e nações em desenvolvimento. Sua secretária de Estado, Hillary Clinton, vem falando em impor "sanções paralisantes".

O Senado dos EUA aprovou projetos que impediriam as empresas que vendem gasolina e outros derivados de petróleo ao Irã de receber contratos do Departamento de Energia para entrega de petróleo à Reserva Estratégica dos EUA.

É muito pouco provável que Obama, cuja política externa dá ênfase ao trabalho conjunto com aliados, imponha medidas punitivas unilaterais, mas conseguir amplo apoio a novas sanções neste momento será difícil, dizem analistas e diplomatas.

Até agora a ONU impôs três rodadas de sanções ao Irã e parece haver pouca disposição para uma quarta.

China e Rússia, dois dos principais parceiros comerciais do Irã, deixaram claro que não aceitarão no momento novas sanções. As 27 nações da União Europeia estão divididas sobre o assunto.

Há dúvidas sobre se sanções teriam o efeito desejado. Uma ideia popular é a de focar nas importações de gasolina pelo Irã. Alguns analistas dizem que isso iria deixar Ahmadinejad sob forte pressão interna porque resultaria na elevação de preços, mas outros observam que o efeito poderia ser contrário ao lhe propiciar justificativas para as crescentes dificuldades econômicas do país.

AÇÃO MILITAR

Essa é a opção que Obama estaria menos propenso a adotar, o que não surpreende. Embora ele diga que uma possível ação militar sempre permanece como opção, mesmo seus generais reconhecem que isso poderia ter consequências potencialmente desastrosas.

O chefe do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas, almirante Michael Mullen, disse em 7 de julho que uma ação militar contra o Irã seria "muito desestabilizadora" para o Oriente Médio e teria efeitos secundários imprevisíveis para os interesses dos aliados dos EUA na região.

"A questão não é se atacamos ou não e se o ataque seria eficaz", disse o general reformado Anthony Zinni em 2006. "Certamente seria eficaz, até certo ponto. Mas nós estamos preparados para todas as consequências?"

Observadores do Irã dizem que seus militares iriam provavelmente retaliar atacando navios no Estreito de Ormuz, uma passagem que margeia o Irã e pela qual passa cerca de 40 por cento de todo o comércio de petróleo transportado por via marítima no mundo.

O Irã também poderia buscar a ajuda de aliados como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, em Gaza, para atacar Israel, e incentivar milícias xiitas iraquianas, que dependem de armas e recursos iranianos, a atacarem tropas dos EUA no Iraque.

Um ataque dos EUA também iria prejudicar os esforços de Obama de entendimento com o mundo muçulmano e deixar distante a perspectiva de um acordo de paz palestino-israelense.

DIPLOMACIA

Portanto, se o endurecimento das sanções parece improvável logo e a ação militar não é um passo inicial, o que sobra?

"Não há outra opção, a não ser procurar negociações", diz o especialista em Irã Reza Aslan, de Los Angeles.

Autoridades do governo admitem que é do interessa da segurança nacional dos EUA buscar o envolvimento do Irã, e Obama já observou que os esforços anteriores para isolar o país fracassaram.

O Irã não disse não às conversações com Washington e pode estar tentando ganhar tempo como fez sucessivamente em negociações com potências ocidentais sobre seu programa nuclear, que alega ter como objetivo a geração de eletricidade. Mas alguns países ocidentais temem que possa ser usado para a fabricação de uma bomba nuclear.

Analistas dizem que, se Obama quer ganhar apoio para futuras sanções, primeiro tem de convencer parceiros internacionais de que está sendo sério quando fala em dialogar com o Irã e reverter a política norte-americana das últimas décadas, de isolamento da República Islâmica.

Esse será o dilema que Obama terá em setembro. Se ele nada fizer, se arrisca a parecer fraco e Israel poderá ser tentado a adotar medidas por conta própria. Tudo depende em quanto mais tempo, se houver, ele deseja conceder ao Irã.

(Reportagem adicional de Louis Charbonneau em Nova York)

América do Sul em estado de alerta: crise das bases militares leva Unasul a convocar uma cúpula de emergência

El País
Paúl Mena
Em Quito (Equador)

A preocupação da região devido à decisão da Colômbia de permitir o uso de sete bases militares pelos EUA disparou os alarmes na cúpula de segunda-feira (10) de presidentes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) em Quito (Equador). O tema é tão polêmico que o grupo decidiu convocar uma nova cúpula de presidentes em Buenos Aires, mas desta vez com a presença de Álvaro Uribe, o presidente colombiano, que não veio a Quito devido às más relações entre os dois países.
  • ARTE UOL
A Bolívia chegou a propor uma resolução de rejeição ao acordo militar entre EUA e Colômbia, mas a iniciativa não conseguiu o consenso da maioria e se decidiu convocar uma reunião de ministros da Defesa e das Relações Exteriores do grupo em 24 de agosto em Quito, para voltarem a tratar do tema, antes do encontro em Buenos Aires. A maioria dos chefes de Estado tentou, apesar da preocupação, ter um tom conciliador com a Colômbia. Todos menos o venezuelano Hugo Chávez.

Quando o encontro estava prestes a terminar, Chávez advertiu que o uso de bases colombianas por parte dos EUA "pode ser o começo de uma tragédia para a região". Ele acrescentou que seu país se sente ameaçado pelo acordo e que a Venezuela não permitirá que tropas colombianas irrompam em seu território como ocorreu no Equador. "Há dignidade na Venezuela; não vou permitir que façam à Venezuela o que fizeram ao Equador... A Venezuela está se preparando, porque nos têm na mira. E a razão é uma... o petróleo", disse Chávez. Ele insistiu que "ventos de guerra começam a soprar" na América do Sul.

Correa concordou que o uso americano de bases militares na Colômbia representa "uma provocação para a região". O presidente equatoriano lembrou que o Equador sofreu durante muitos anos os efeitos da guerra colombiana contra a guerrilha e o narcotráfico, e afirmou que o tema das bases não significam problema de soberania de um país, mas um assunto de segurança à estabilidade regional.

Os presidentes do Brasil, Argentina e Paraguai lançaram uma mensagem mais prudente. "Não concebo a possibilidade de aumentar os conflitos na região em um momento em que tudo leva a crer que quanto mais paz tivermos mais oportunidade teremos de recuperar o tempo perdido e dar a nossos povos o que necessitam", disse Lula. "Vamos ter de entrar em acordo sobre o futuro da Unasul, porque senão há essa relação amistosa entre nós estamos criando em vez de uma instituição de integração um clube de amigos rodeados de inimigos", acrescentou o presidente brasileiro. Depois do encontro de presidentes da Argentina, está previsto organizar uma reunião com Barack Obama, para, sob a proposta de Lula, realizar uma discussão profunda sobre a relação dos EUA com a América do Sul.

Diante da ausência do presidente Uribe, a vice-ministra colombiana das Relações Exteriores, Clemencia Forero, afirmou que "não havia nem haverá bases militares estrangeiras na Colômbia" e afirmou que com os EUA "seria implementado um acesso limitado para realizar as ações coordenadas contra o narcotráfico e o terrorismo". Forero pediu que nas discussões da Unasul que se aproximam sejam incluídas "outras situações de tensão na região, como o tráfico ilícito de armas, a atividade dos grupos armados ilegais e a corrida armamentista", em clara alusão à Venezuela.

O encontro da Unasul em Quito ocorre quando existe um ambiente tenso nas fronteiras de Colômbia com Venezuela e com o Equador. Dias antes da reunião, Chávez denunciou que militares colombianos tinham entrado em território venezuelano como parte de um plano de "provocações" por parte do governo de Bogotá. O confronto se viu alimentado depois das acusações de supostos vínculos do governo de Correa com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha colombiana. Um vídeo em que aparece Mono Jojoy, um dos chefes militares das Farc, e um suposto diário de Raúl Reyes, o número 2 das Farc abatido por militares colombianos em território equatoriano, falam de relações de próximos a Correa com o grupo terrorista, incluindo o suposto financiamento da campanha do partido governamental, a Aliança País.

A reação do governo de Correa incluiu uma ruptura das relações com a Colômbia em resposta à intromissão do país vizinho em território equatoriano durante o bombardeio que resultou na morte de Reyes e outros guerrilheiros. O ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, rejeitou "a intenção da Colômbia de aplicar a teoria da extraterritorialidade; esse é o direito a atacar qualquer outro país soberano em nome do combate ao terrorismo". Correa acrescentou que há "uma orquestração internacional que tenta causar dano" a seu governo, e advertiu que "se (os colombianos) voltarem a nos bombardear, haverá guerra". No que encontrou consenso o encontro da Unasul foi em sua condenação ao golpe de estado e Honduras e em sua decisão de não reconhecer "nenhuma convocação eleitoral por parte do governo de fato". Em Quito, Zelaya qualificou de mornas as medidas de Washington contra os golpistas de seu país.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Obama vê hipocrisia em críticas aos EUA por reação à crise em Honduras

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta segunda-feira, durante uma visita a Guadalajara, no México, que aqueles que criticam os Estados Unidos por não terem dado uma resposta mais firme contra a deposição do presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya, em 28 de junho, agem com “hipocrisia”.

As declarações foram feitas durante uma coletiva após um encontro entre Obama, o presidente do México, Felipe Calderón, e o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper.

“Os críticos que afirmam que os Estados Unidos não foram rigorosos o bastante para exigir o retorno do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, ao poder são as mesmas pessoas que dizem que estamos sempre intervindo, e que os ianques têm que sair da América Latina”, disse Obama, sem, no entanto, citar nomes.

O presidente americano ressaltou que que estas pessoas “não podem exigir as duas coisas ao mesmo tempo.”

“Se estes críticos consideram que pode ser apropriado que nós, de repente, ajamos de um modo que, em outro contexto, eles considerariam inapropriado, então acho que isto indica que talvez haja alguma hipocrisia em sua abordagem sobre as relações entre Estados Unidos e a América Latina”, disse.

"Golpe"

Durante o pronunciamento, Obama voltou a afirmar que o governo dos Estados Unidos considera a deposição de Zelaya “ilegal” e classificou a ascensão do presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, ao poder de “golpe”.

“Nós fomos claros que consideramos que o presidente Zelaya foi retirado de maneira ilegal do cargo, que isto foi um golpe e que ele deveria voltar ao poder”, afirmou.

Dizendo concordar com a posição de Obama, o premiê canadense, Stephen Harper, afirmou que aqueles que fazem críticas aos Estados Unidos em relação à crise em Honduras são as mesmas pessoas que condenam a parceria entre americanos e colombianos “por questões legítimas relativas à segurança e ao tráfico de drogas”.

Mais de um mês após a deposição de Zelaya, a crise política em Honduras parece longe do fim, com o governo interino do país recusando os pontos de um acordo proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, para a volta do presidente eleito ao poder.

Em um comunicado conjunto divulgado após o encontro desta segunda-feira, os líderes de Estados Unidos, México e Canadá afirmaram que discutiram “a fundo o golpe em Honduras” e reafirmaram o apoio ao plano de Arias e aos esforços da Organização dos Estados Americanos para “buscar uma solução pacífica para a crise política” no país.